A braços com estas possíveis imparidades, o sistema financeiro terá de caminhar a passos largos para processos de fusão, tal como tem acontecido em toda a Europa. Esse cenário já foi reconhecido por Mário Centeno, ao defender que as fusões e aquisições são um próximo passo “natural” para os bancos portugueses, pressionados por taxas de juros em mínimos recorde. E os entraves não ficaram por aí. O Governador do Banco de Portugal lembrou ainda que, enquanto os bancos europeus andavam a apostar em processos de reestruturação, o sistema financeiro nacional “tentava desesperadamente cortar crédito malparado e fortalecer os rácios de capital”.
E foi mais longe: “Há processos de venda de instituições bancárias a acontecer em Portugal, essa é uma forma de haver este tipo de consolidação, e há estratégias que eu acho que são convergentes entre bancos e que podem levar a esses fenómenos”, acrescentando que “as fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade” e, como tal, defende que “são mais prováveis em mercados em que há choques negativos à rentabilidade dos bancos”.
Para o responsável não há margem para dúvidas: “É uma resposta do mercado à necessidade de haver ganhos, as sinergias, entre instituições quando elas se juntam”.
Apesar destas tendências, o dinheiro que tem investido no banco continua a ser seguro. No caso dos depósitos, não há grandes dúvidas. Até 100 mil euros, todos os depósitos a prazo e contas à ordem estão salvaguardados pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Os problemas colocam-se se tiver mais de 100 mil euros concentrados numa só conta em seu nome. Aí é recomendável que disperse a poupança por várias instituições bancárias. Mas também aqui há soluções: em alternativa, adicione um titular à conta que não tenha ultrapassado, ele próprio, os 100 mil euros numa poupança nesse banco. Deste modo, qualquer um dos titulares pode assegurar o direito ao reembolso total do dinheiro.
Diversificar investimento
A verdade é que, por mais confiança que tenha no seu banco, é fundamental que perceba exatamente em que tipo de produtos está a investir (ver caixas ao lado). A explicação é simples: só assim tem a noção do risco que assume em cada aplicação. É inevitável que os investimentos mais rentáveis impliquem assumir algum risco, mas essa é uma decisão que lhe cabe apenas a si. Se prefere a prudência, opte por aplicações de baixo risco. O retorno pode ser igualmente baixo, mas o capital investido permanecerá mais seguro. O risco está diretamente relacionado com o valor que está disposto a perder, eventualmente, para atingir uma determinada rentabilidade.
No entanto, não se esqueça de que um dos principais inimigos do investidor poderá ser a sua própria natureza. No universo das emoções, o medo e a ambição excessiva, tal como a falta de disciplina dos investidores, são os obstáculos a todo este negócio. Para além da componente emocional, a grande maioria dos investidores não estão preparados nem mentalizados para assumir perdas, pelo que normalmente criam defesas mentais para manterem os seus investimentos.
Mas nem tudo são boas notícias. Não se esqueça que, em muitos casos, o banco é apenas intermediário da aplicação, não sendo responsável pela gestão do produto nem pela sua emissão. É o que acontece, por exemplo, com os planos poupança-reforma, com os fundos de investimento e com algumas obrigações. Mas, também nesses casos, uma eventual falência do banco não põe em risco o dinheiro que investiu. Perante uma situação dessas, só terá de mudar de intermediário financeiro.
Produtos vs Risco
- PRR – Apesar de contratar, muitas vezes, um plano poupança-reforma (PPR) ao balcão, o banco funciona apenas como intermediário da venda e, se não for depositário do fundo, mesmo que feche, nada acontecerá ao PPR, a não ser que a empresa responsável também abra falência. Já se subscreveu o produto numa seguradora, só estará em risco se a companhia falir. Mas se o PPR estiver associado a um fundo autónomo, o dinheiro também estará seguro e tem de esperar até que a entidade gestora lhe indique um novo intermediário.
- Créditos – O que acontece com grande parte das aplicações, que se mantêm a salvo em caso de encerramento do banco, também acontece com as dívidas. Por exemplo, se contratou um crédito para obras, compra de habitação, de automóvel ou pessoal, terá sempre de honrar os seus compromissos financeiros. Mesmo que o banco a quem pagava as prestações fechar, haverá sempre uma entidade a comprar os ativos desse banco, transferindo-se automaticamente o pagamento das prestações para essa entidade. Desta forma não haverá qualquer interrupção na cobrança das prestações e também não será necessária qualquer intervenção para proceder à alteração do credor.
- Ações – Comprar ações do banco é a aposta que coloca o seu dinheiro em maior risco. Se a instituição financeira (ou qualquer outra empresa) desaparecer, as respetivas ações perdem o seu valor e será impossível recuperar o dinheiro investido.
- Contas e depósitos – Pode ter até 100 mil euros depositados em cada banco, em contas à ordem ou em depósitos a prazo, que estes montantes estão sempre salvaguardados. Em caso de eventual encerramento da instituição e perante um cenário em que o banco não consiga reembolsar todos os depositantes, o Fundo de Garantia de Depósitos assegura esse reembolso. Este fundo é gerido pelo Banco de Portugal e só esta entidade tem poder para o acionar.
- Fundos – O encerramento de um banco não tem impacto nas aplicações feitas pelos clientes em fundos de investimento, independentemente do molde: monetários, fundos de ações ou de obrigações, mistos, flexíveis e imobiliários, entre outros. Como o património dos fundos é autónomo do banco, este apenas assume o papel de intermediário. Em caso de crise pode ser ativada a garantia prestada pelo Sistema de Indemnização aos Investidores (SII), até 25 mil euros por titular e por instituição.
- Obrigações – O grau de risco depende do tipo de obrigações em que aplicou o dinheiro. Por exemplo, se investiu em obrigações seniores do banco, estas têm prioridade na recuperação do capital investido (face a outras obrigações). Caso as obrigações sejam subordinadas do banco, não beneficiam dessa prioridade. Por estarem expostas a maior risco, estas obrigações têm, habitualmente, rentabilidades superiores. Se apostou em obrigações de entidades externas ao banco, o encerramento deste não tem qualquer impacto.
Burlas. Cuidados a ter para não cair
Esquemas em pirâmide. Sinais de alerta:
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Rendimentos acima do normal e garantidos: regra geral, é quase impossível encontrar um investimento fidedigno que reúna estas características. Uma empresa legítima não tem qualquer interesse em pagar indefinidamente taxas que lhe seriam ruinosas
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Recrutamento de novos membros: embora os promotores garantam que não é necessário recrutar, uma vez aceite o esquema, o participante apercebe-se de que pode ganhar muito mais se trouxer novos membros ou pode ser pressionado a fazê-lo
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Disparidade entre a informação: por norma, os sites dos esquemas têm pouca informação. É nas reuniões presenciais que surgem as promessas de rendimentos fáceis. Os representantes da empresa justificam-se com o argumento de quererem evitar as autoridades fiscais
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Manipulação psicológica: os promotores de esquemas fraudulentos tentam fazê-lo sentir que recusar a proposta seria dizer não à oportunidade da sua vida. A ostentação de bens de luxo insere-se nesta lógica de atuação
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Evitar o sistema bancário: a movimentação de dinheiro dentro do sistema bancário pode ser rastreável e as instituições financeiras têm o dever de comunicar transações anormais ou suspeitas. A maioria das burlas tentam, por isso, recorrer a alternativas. Sistemas de remessa postal, como a Western Union, ou de pagamento eletrónico, como o PayPal, estão entre os preferidos