O malefício do socialismo não está ligado ao grau de intensidade da sua aplicação, mas à sua natureza. Num grau intenso, dito revolucionário, traz mais depressa a miséria e a opressão. Mitigado, vai impondo gradualmente a pobreza e sabotando as liberdades.
O socialismo é uma ideologia que falhou no passado, falha no presente e continuará a falhar no futuro. Por duas razões principais: é uma utopia e um sistema imoral. Lutar contra o socialismo não é apenas uma questão de economia, mas acima de tudo uma questão de moral.
Existem duas visões de igualdade, opostas e contraditórias: igualdade perante a lei e igualdade de resultados. Na primeira, que é um dos fundamentos do liberalismo (e a que o pensamento liberal juntou a igualdade de oportunidades), todos os indivíduos são iguais perante a lei. A segunda visa a igualdade de resultados para todos, o que exige uma forte coação no comportamento dos seres humanos. Arbitrária, afinal, e injusta, pois coloca em pé de igualdade quem conquista o que ambiciona pelo seu esforço, enriquecendo a sociedade, e os que, tendo o mesmo direito a tudo, vivem à custa do esforço alheio, sem nada que o justifique. Por isso é imoral.
O socialismo afirma poder mudar a natureza humana – e quer mudá-la. Por isso é incompatível com os princípios de uma sociedade livre. A visão liberal prefere a liberdade, apesar do risco da imprevisibilidade de resultados.
O socialismo coloca a entidade coletiva (classe, grupo etc.) antes do indivíduo e dos seus direitos. O cidadão é sacrificado a um dito ‘interesse coletivo’ – na verdade, a vontade do ditador ou do partido, que definem, interpretam e impõem esse suposto interesse geral. Mas todos os indivíduos são únicos. O ‘interesse geral’ não é mais do que o interesse fanático de alguns.
O socialismo mostra, portanto, um profundo desprezo pelo indivíduo. É uma tentativa contínua de mutilar, restringir, prejudicar a liberdade humana; é a ideia de que o Estado não deve ser apenas o regulador da sociedade, mas deve ser, por assim dizer, «o senhor de cada homem, […] seu mestre, seu tutor, seu professor; que com o argumento de o proteger se coloca acima dele, para o guiar, dominar; em suma, é o confisco da liberdade humana».
O planeamento do Estado é antes de mais e sempre um fracasso económico. Falhou sempre na sua aplicação. O erro é querer planear de forma centralizada as ações de uma comunidade. Impedindo-lhe a criatividade, a interação, a emulação.
A economia de mercado nas sociedades liberais descentraliza o poder de decisão, dando-o a cada indivíduo. São, por exemplo, os consumidores quem determina de facto a produção das empresas. No socialismo, o Estado centraliza-o, abrindo a porta ao clientelismo – que, em última análise, é tudo menos social, visto que beneficia os grupos e indivíduos com acesso ao poder político. Gera corrupção e alimenta-se dela.
O socialismo (que Mário Soares pôs na gaveta e enfrentou) não falhou por causa de resistências ideológicas, pois continua a ser – injustificadamente – uma promessa sedutora. Falhou por ser impraticável.
Utópico e imoral, opormo-nos ao socialismo não é apenas uma questão de economia, mas de criar riqueza – riqueza que permite responder eficazmente às preocupações sociais, de igualdade de oportunidades, de ascensão pessoal, que estão na natureza e na origem do liberalismo. Mas, acima de tudo, é uma questão moral. (Respigado e adaptado de Contrepoints.)