Por Alexandre Faria, escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Desde que o nosso país se viu obrigado a interromper uma legislatura e recorrer a novas eleições legislativas, o tempo passou num ápice e os votos descarregados nas urnas serão responsáveis por trazer um novo panorama político.
Sem espaço para soluções parlamentares ambivalentes, o eleitor esteve sujeito a um período de debate onde a coerência escasseou em muitos momentos, tendo a firmeza de posições cedido com demasiada facilidade ao sabor do vento dos estudos de opinião ocasionais ou das oportunidades de abertura que surgiam convenientemente por parte de algumas forças políticas.
Somados às condicionantes da pandemia, estes comportamentos erráticos alimentam a abstenção e penalizam quem mais se tentou aproveitar da direção para onde as modas sopravam, a custo das integridades programáticas. E essas dificuldades eram previsíveis. Se uma solução de esquerda chumbou um orçamento de Estado pela primeira vez na nossa democracia, que garantias de estabilidade assegura num próximo mandato? E se uma solução de direita só será possível mediante a participação de um partido extremista, que confiança pode ter o nosso regime democrático?
Resta a defesa acérrima e intransigente dos direitos humanos e da proteção da sua dignidade, consagrada na importância e na valorização do voto individual, para que a liberdade, precisamente esse valor supremo que tanto custou a conquistar, não se perca. Apenas pela sua preservação se poderão desenhar os quadros de negociação que assegurem a governabilidade desejada.
De modo a superar a velha e gasta consideração de que não se vencem eleições, por ser o adversário direto quem as perde, e sem receitas mágicas para o sucesso de uma campanha, tornava-se imprescindível cumprir o caminho convencional: saber o que o associativismo precisa, o que as empresas necessitam e, essencialmente, o que os cidadãos procuram para o seu bem-estar e melhoria da qualidade de vida. E, nesse aspeto, esta campanha ficou aquém do que seria exigido, salvo raras exceções, deixando de fora dos debates temas fundamentais como a defesa e promoção da cultura, do desporto, da igualdade de género e de oportunidades, ou as medidas concretas para um eficaz combate às alterações climáticas, pelo que a escolha das maiorias silenciosas terá de recair nos princípios ideológicos conhecidos dos partidos.
Não existindo uma maioria absoluta, teremos uma solução híbrida, alheia às características dos últimos seis anos e onde os entendimentos pós-eleitorais serão determinantes. Quem governa, pode mudar de uma forma estruturante um país ou pode sujeitá-lo aos momentos mais terríveis de atraso no seu desenvolvimento, sendo certo que Portugal não pode hipotecar os próximos quatro anos, regredindo em setores decisivos e perdendo esta rara oportunidade para uma aplicação séria e eficaz do Plano de Recuperação e Resiliência.
O que esta campanha também não revelou foi este imperativo, a crucial necessidade de se optar pela experiência de quem conhece as principais áreas da governação, de quem é menos intransigente e capaz de estabelecer as imprescindíveis pontes e de quem demonstra uma maior capacidade para entendimentos futuros em prol das pessoas.