O Palácio do Governo guineense foi cercado, entre fogo de bazuca e rajadas de metralhadora, esta terça-feira, em pleno Conselho de Ministros. Foram assassinados seguranças da mais alta confiança do Presidente Umaro Sissoco Embaló, confirmou um fonte próxima ao i, estando também no interior do edifício o primeiro-ministro Nuno Nabian. Ambos foram feitos reféns, com vários ministros, funcionários e jornalistas, a quem foram confiscados os telemóveis, num impasse que durou quase cinco horas, sendo finalmente libertados por volta das 18h, avançou a Rádio Sol Mansi.
Um dos repórteres desta rádio guineense estava nos arredores da sede do Governo quando um grupo de homens à paisana, que se viriam a identificar como militares, equipados com armamento pesado, tomaram de assalto o palácio, às 13h30. Foi uma ofensiva súbita mas, no meio da confusão, alguns conseguiram fugir. Um membro do Executivo, antes de desligar o telemóvel por motivos de segurança, relatou ao i ter sido resgatado por um militar que o reconheceu, levando-o para longe do perigo logo no início do assalto.
As autoridades guineenses deram ordens para o que os habitantes de Bissau se fechassem em casa. Contudo, o pânico alastrou rapidamente e muitos puseram-se em fuga para o campo, temendo o pior – em Safim, ponto de passagem à saída da capital, aglomerou-se uma enorme multidão que tentava escapar, contou uma jornalista da Rádio Sol Mansi ao i.
Entretanto, o Presidente seria fotografado no seu palácio, junto com militares leais, mostram imagens enviadas ao i (ver foto acima). Embaló parece estar bem e a situação ter acalmado.
Contudo, não é de espantar o receio da população. Os guineenses ainda têm bem viva a memória da sangrenta guerra civil de 1998-1999, causada por uma golpe de Estado do general Ansumane Mané, contra o Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, considerado o mentor político de Embaló.
Conspiração e suspeitas As informações que chegam da Guiné-Bissau, um país onde os rumores quanto a eventuais golpes de Estado são uma constante, e contraditórias.
Ninguém sabe exatamente o que despoletou esta tentativa de golpe. Mas todos os dedos estão apontados para as lideranças militares balantas, uma etnia, que representa cerca de um quarto da população e domina as forças armadas guineenses – uma fonte bem colocada avançou ao i que militares envolvidos no golpe saíram de Mansoa, uma cidade maioritariamente balanta. Esta etnia é representada politicamente pelo Partido de Renovação Social (PRS), que faz parte do Governo, mas que enfrenta grande fragmentação interna, após uma dura disputa pela liderança em janeiro.
O certo é que a relação entre Embaló e Nabiam – em tempos candidato do PRS – têm-se degradado ao longo dos últimos meses, após o Governo mandar reter um avião Airbus A340 que aterrara no aeroporto de Bissau, vindo do Gâmbia com autorização presidencial, segundo a Lusa. O primeiro-ministro anunciou que tomou essa decisão por suspeitar de que a aeronave transportasse armas, ordenando uma investigação por peritos americanos. Algo de que o Presidente não gostou nada, tendo chegado a ameaçar demitir Nabiam.
O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Biagué Na N’Tan, ainda em outubro avisara que se preparava um golpe na Guiné-Bissau, oferecendo uns meros dez mil francos CFA, o equivalente a 15 euros, a cada soldado. Pedindo aos militares para “não alinharem com as pessoas que estão a mobilizar militares nos quartéis, porque nada se esconde hoje”.