Os dados da Rede Eléctrica Nacional (REN) são públicos: todos os dias, há um balanço em tempo real da produção e consumo de eletricidade no país, a que se seguem balanços diários e mensais. É na plataforma de dados disponibilizada pela REN que é possível verificar que se em janeiro já tinha havido um peso acima do habitual no saldo importador de eletricidade no consumo (16,4%), estes primeiros dias de fevereiro, com a produção hídrica reduzida a mínimos e pela primeira vez sem o carvão como alternativa, fizeram disparar o peso da eletricidade importada na gestão complexa que garante a eletricidade no país e que não ocorrem apagões por falta de potência na rede para responder aos picos de consumo durante o dia.
Segundo os dados diários, que o Nascer do SOL analisou, nos primeiros dez dias de fevereiro o saldo importador teve um peso médio de 28% no consumo, com vários dias em que se superou os 30%. O SOL procurou perceber junto da REN se este nível de importação tem precedentes, não tendo tido resposta até ao fecho.
Esta semana, o ministro do Ambiente referiu o ano de 2012 como o ano em que mais se importou eletricidade. O relatório da REN revela um peso de 16% do saldo importador ao longo do ano e os dados mensais mostram que em nenhum mês se andou no patamar que se tem vivido nos últimos dias.
Já o período de seca mais recente, variável que condiciona a produção nacional, ocorreu em 2019: no final de fevereiro o país estava também todo em situação de seca meteorológica, mais de metade em seca severa ou moderada. Nessa altura, o carvão tinha um peso de cerca de um quarto do consumo, o que também se verificou em 2012.
Em janeiro desse ano, foram consumidos em Portugal 4816 GWh de eletricidade, sendo o saldo importador de 161 GWh (equivalente a 3,4% do consumo). O SOL procurou perceber junto da REN se existiu alguma avaliação prévia ou atual do impacto do fim da produção de carvão na necessidade de importação de eletricidade em contexto de seca, não tendo obtido resposta, bem como que outras alternativas existem e que impacto poderiam ter.
Segundo a página da REN, o preço do MWh desceu nos últimos dias de 206,46 euros para 196 euros€por MWh, o valor que estava estimado esta sexta-feira. A este valor, o saldo importador representa a esta altura um custo diário de cerca de 10 milhões de euros. As renováveis tiveram na quarta-feira um peso de 24% no consumo, mas não estão disponíveis a todas as horas.
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