Por Alice Vieira e Nélson Mateus
Querida avó,
Estamos de volta à semana em que a maioria dos casais celebra o Dia dos Namorados. Já todos sabem que ousamos ser diferentes. Que ao contrário dos outros, não celebramos o Dia de São Valentim. Nada contra o pobre Santo, mas para Santo Casamenteiro preferimos o nosso Santo António.
No entanto não somos indiferentes ao Amor!
Gosto de ver casais que se conhecem jovens, que lado a lado lutam pela vida, que envelhecem juntos, e que ao longo da vida mantêm acesa a chama do amor.
Um amor que, tal como o vinho, vai passando por várias etapas e amadurecendo.
Confesso-te que, para além de tudo isto, sempre tive uma grande admiração por casais que trabalham juntos, que para além da vida afetiva, lutam de mãos dadas pela vida profissional.
Um exemplo que eu admiro, e conheço de perto, é o casal Justa e José Nobre.
Um casal que já soma 40 (e mais alguns) anos de vida pessoal e profissional em conjunto. Um amor que deu origem a um filho, quatro netos (lindos) e um reconhecimento profissional respeitado, e admirado, por familiares, clientes e outros colegas de profissão.
Mas a vida deste casal foi uma montanha russa. Até chegarem ao sucesso de hoje, passaram por momentos muito complicados. Mas tiveram coragem de nunca desistir, de serem resistentes e determinados…
O embate que não os destruiu deixou-os mais fortes. Foi essa resiliência que os fez chegar onde estão hoje.
Um ao lado do outro, com o mesmo ar apaixonado de há quatro dezenas de anos. Talvez mais cansados, mas gratos à vida por tudo o que, juntos, conquistaram.
Gosto imenso de os ver a contar as suas histórias de vida aos netos, para quem são, sem dúvida, um exemplo a seguir.
Quando vieres a Lisboa levo-te a almoçar ao Nobre. A um domingo, para experimentares aquele que é (para mim) o melhor Cozido à Portuguesa de Lisboa e arredores.
O AMOR vence tudo!
Não gostarias de encontrar um namorado?
Bjs
Querido neto,
Dizes tu que nós não festejamos o S. Valentim? Claro que festejamos!! É ver todas as lojas cheias de coraçõezinhos vermelhos… Se quando disseste “nós” te referias a mim e a ti, ah isso está bem, realmente nada de S. Valentim!
Conheço bem a Justa Nobre e gosto muito dela, e sei de muitas histórias de casais que viveram felizes até ao fim vida.
Queres um exemplo? Eu e o Mário (o primeiro, o Castrim). Eu tinha 18 anos quando o conheci. Já nos escrevíamos há muito tempo, porque eu comecei a trabalhar nessa altura para o “Juvenil” do Diário de Lisboa. Mas um dia ele chamou-me à redação e estava à minha espera no cimo da escada. Eu olhei e disse para mim: “Esta é a profissão que eu quero e aquele é o homem que eu quero!”
E foi assim.
Nem te passa pela cabeça a escandaleira que foi… Ele tinha mais 23 anos do que eu, era casado, naquele tempo não havia divórcio… Fizeram-me esperas na rua, telefonemas anónimos de madrugada: “Eu, se fosse a si, não saía amanhã à rua…”
Depois era a minha família a puxar por outro lado: ele era muito mais velho, doente, e eu ia ser enfermeira dele a vida toda e ficar viúva muito cedo. Mal podiam eles (e eu) saber que ele é que foi meu enfermeiro durante muito tempo, com uma septicémia a seguir ao nascimento da nossa filha, os meus cancros, e essas coisas. E morreu com 82 anos.
Com o Mário também aconteceu outra coisa de que falas: trabalhávamos na mesma profissão—embora sempre em jornais diferentes. E tínhamos uma liberdade completa para fazer o que entendíamos. Um dia o chefe de redacção entrou na sala do Diário de Notícias, onde eu trabalhava, e disse: “Preciso de um redactor para ir amanhã a Madrid!”. E eu disse “Vou eu!”. E uma minha colega, muito feminista, disse-me: “Mas tu ainda não perguntaste ao teu marido se podes ir!” E eu: “Perguntar??? Quando chegar a casa digo-lhe”.
E aí tens parte da nossa história…
Ah, e não me apetecia um namorado agora.
Bjs