Apenas metade das mulheres desempregadas tiveram subsídio de desemprego em 2021 e receberam, em média, menos 12% do que os homens, denunciou esta segunda-feira a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP).
A CGTP cruzou os dados da Segurança Social com os dados do desemprego real, verificando assim que, nos três primeiros trimestres de 2021, "perto de metade das trabalhadoras desempregadas não tinha acesso a qualquer prestação de desemprego" e, as que recebiam, o valor era menor do que o valor que os homens recebem, quando o valor da prestação média está abaixo do limiar da pobreza.
"As mulheres desempregadas recebem, em média, prestações de desemprego 12% mais baixas do que as auferidas pelos homens desempregados, o que está relacionado com as discriminações salariais de que as primeiras são alvo", afirmou a central sindical, em comunicado. "Os valores das prestações de desemprego são, em geral, muito baixos: de apenas 534 euros/mês em 2021 para o total dos trabalhadores, um valor abaixo do limiar da pobreza (554 euros)", lê-se ainda.
A desigualdade nas prestações sociais faz-se notar também relativamente ao subsídio de doença, no qual as mulheres são cerca de 60% dos beneficiários.
Assim, a estrutura sindical considera que "salários baixos, irregularidade nas carreiras devido à precariedade dos vínculos laborais e ao desemprego, bem como não declaração ou subdeclaração de rendimentos salariais, têm como consequência prestações sociais baixas – nomeadamente no que diz respeito à proteção no desemprego, na doença e às pensões, tão baixas que não são sequer suficientes para retirar muitos trabalhadores e trabalhadoras da pobreza".
"Em 2020 o valor diário era de 21,20 euros para os homens e 16,90 euros para as mulheres, ou seja, 20% de diferença em desfavor das mulheres. Este diferencial tem vindo a diminuir ao longo dos anos, tendo, no entanto, aumentado em 2020", salientou a CGTP.
Segundo a central, nas pensões a história não é muito diferente, pois "os valores médios das pensões são muito baixos, principalmente no caso das mulheres". Nas pensões de velhice do regime geral, em que as mulheres representam 53% dos reformados, a média foi inferior a 502 euros no ano de 2020, abaixo do limiar da pobreza, note-se, mas há uma disparidade considerável entre os valores recebidos por homens e mulheres, com os primeiros a receberem, em média, 647 euros e as mulheres apenas 367 euros. Ou seja, há um diferencial de 43% em desfavor destas e que se mantém praticamente igual desde 2010.
O diferencial é menor e tem diminuído nas pensões mais recentes mas, ainda assim, foi de 39% nas pensões atribuídas em 2020, com os homens a receber 724 euros, em termos médios, e as mulheres apenas 444 euros. Estas diferenças. diz a CGTP, "traduzem quer o nível de rendimentos declarados à Segurança Social por homens e mulheres trabalhadores, quer a densidade contributiva".
As mulheres pensionistas por velhice apresentam carreiras contributivas menores, pois em média têm menos 10 anos de registos de contribuições do que os homens, embora entre os novos pensionistas a divergência seja menor, mas mesmo assim foi de seis anos em 2020. Já nas pensões por invalidez, onde as mulheres têm um peso de 48%, os valores também são baixos, com pensões de 363 euros pagas às mulheres em 2020 e de 397 euros nas novas pensões atribuídas nesse ano.Nestas pensões o diferencial entre homens e mulheres era de 19% em 2020 para o total das pensões em pagamento e de 17% nas novas pensões.
Nas pensões de sobrevivência por viuvez, nas quais as mulheres são 81% do total dos beneficiários, a história inverte-se, com as mulheres a receberem, em média, valores mais elevados (cerca de 283 euros em 2020), pelo facto da pensão ser calculada com base na pensão do cônjuge falecido.
Em relação a outras prestações não contributivas da Segurança Social dirigidas a pessoas em situação de pobreza e exclusão social, destaca-se o maior peso das mulheres a receber o Rendimento Social de Inserção (52% do total), bem como de requerentes do Complemento Solidário para Idosos (70% do total). "Todas estas situações têm como consequência uma maior pobreza entre as mulheres", considerou a CGTP.