O ano hidrológico, que começa a 1 de outubro e é avaliado em função dos valores de precipitação, está a ser o mais seco de que há registos, superando outras situações de seca meteorológica. O balanço foi feito ontem pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Nos primeiros 15 dias de fevereiro, subiu de 45% para 91% a percentagem de território nacional nas categorias de seca severa e extrema e, sem previsão de chuva significativas nas próximas semanas, caminha-se para um cenário em que todo o território estará nesta situação, com os impactos já a sentirem-se na pecuária e agricultura, além da falta de água nas albufeiras.
Nos primeiros quinze dias de fevereiro, revela o IPMA, choveu apenas 7% do normal em Portugal, que tem como referência os valores de precipitação entre 1971 e o ano 2000. Um balanço que só não é mais baixo porque em Braga e no Porto a diminuição da precipitação não foi tão extrema (choveu 16% do normal), já que na maioria dos distritos choveu ainda menos. Évora e Setúbal registaram até 15 de fevereiro apenas 1,8% e 1,7% da precipitação normal, com o IPMA a falar de “muitos locais” a Sul e no Nordeste a atingirem o ponto de emurchecimento permanente.
“O valor médio da quantidade de precipitação no presente ano hidrológico 2021/2022, desde 1 de outubro 2021 a 15 de fevereiro de 2022, 220.8mm, corresponde a 39% do valor normal”, indica o IPMA. “Até à data, 2021/22, é também o ano hidrológico mais seco quando comparado com os outros anos de seca meteorológica”, acrescentou o instituto em comunicado, mostrando como a precipitação acumulada se encontra agora abaixo de 2005.
A seca de 2005 foi considerada a pior em Portugal desde a ocorrida em 1945, remontando os registos do IPMA aos últimos 80 anos.
Portugal e Espanha pedem ajuda Com o cenário de seca a agravar-se e o IPMA a prever que será muito provável a sua continuação no final de fevereiro, o Governo solicitou esta segunda-feira a Bruxelas, no Conselho de Ministros da Agricultura e Pescas, novas medidas. Um pedido de apoio feito por Portugal e Espanha a que acrescem preocupações com o aumento de preços das matérias-primas usadas na alimentação de animais. As medidas propostas incluem a aplicação da “cláusula de força maior” para que possam ter lugar práticas de diversificação de culturas e pastoreio de pousios ou a utilização de fundos destinados ao desenvolvimento rural a agricultores e produtores afetados.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, adiantou que, além da expectativa europeia, estão a ser analisadas mais medidas para Portugal e está agora prevista uma nova reunião da Comissão Permanente da Seca para 1 de março.
Na última, o Governo suspendeu a produção de eletricidade em cinco barragens, incluindo Castelo de Bode. O nível da água tem estado a recuperar, agora também em Castelo de Bode. Como o Nascer do SOL noticiou esta semana, a inversão deu-se depois de, além de alguma chuva na semana passada, ter sido reduzido o caudal ecológico para cerca de um quinto, quando se noticiou que a barragem em alerta continuava a turbinar e a perder mais água do que o esperado face ao consumo para abastecimento humano.
Desde quinta-feira, a cota da albufeira de Castelo de Bode subiu mais oito centímetros, para 106,28m, mas continua a ser o nível mais baixo desde 2001, estando a cerca de 58% da capacidade. A importação de eletricidade em fevereiro, com menor componente hídrica e pela primeira vez num ano de seca sem a alternativa do carvão, tem estado em níveis elevados, pesando este mês mais de 30% do consumo, quase o dobro de janeiro.
Com a situação de seca manter-se, o INE anteviu no final da semana passada alguns impactos. A área semeada de cereais de inverno deverá voltar a ser a mais baixa dos últimos 100 anos, na casa dos 103 mil hectares (-5% do que no último ano) antevendo-se também um forte impacto nas searas, onde está prevista uma redução de 40% na produtividade da aveia. “As searas que foram semeadas tardiamente não germinaram, devido à ausência de chuva no mês de janeiro, sendo a situação muito preocupante em todo o Alentejo (região que representou mais de 3/4 da produção de cereais de inverno nos últimos cinco anos). Para a aveia, cereal de sementeira mais precoce, prevê-se uma redução na produtividade na ordem dos 40%.” E o aumento de custos está a dificultar a vida aos agricultores: segundo o INE, desde setembro de 2021, o preço dos adubos aumentou 73% e o do gasóleo agrícola 7%.