Entre as 18h e as 8h de oito noites e também durante dois dias, no final de junho e início de julho, a Mouraria, a Baixa e o Chiado, poderão vir a ser palco de filmagens para uma produção da Netflix. A produtora ‘Ready to Shoot’ recorrerá a efeitos de fogo, colisões e perseguições de automóveis e motas, entre outros, algo que não tem vindo a agradar à junta de Freguesia de Santa Maria Maior. No entanto, Carlos Moedas adota outra posição.
“Temos que voltar a fazer de Lisboa a grande referência europeia e uma verdadeira cidade do Mundo. Mantendo a nossa essência, a nossa identidade que tanto nos diferencia de outras cidades”, começou por escrever o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) na sua página oficial do Facebook. “Essa essência são as pessoas, são as nossas ruas e os nossos becos, são as freguesias e a luz única que ilumina Lisboa. Este é o momento de voltar a dar a oportunidade às pessoas de relançarem a sua vida, relançando a cultura, a economia e a inovação”.
“Ter grandes organizações internacionais interessadas em projectar a nossa essência é uma oportunidade que Lisboa não pode recusar. Só assim defendemos quem cá vive e podemos oferecer uma perspectiva de esperança e de melhor qualidade de vida”, avançou o autarca. “Contem comigo para defender sempre os interesses dos lisboetas e da nossa Lisboa”.
Não à “subserviência” aos “impérios culturais da moda” Na mesma rede social, mas no dia anterior, o presidente da junta de Freguesia de Santa Maria Maior fez questão de se opor à eventual realização das filmagens, deixando claro que o Executivo daquele órgão “manifesta a sua apreensão e oposição face à possibilidade de ocupação abusiva do espaço público prevista num plano de filmagens noturnas”.
Na ótica de Miguel Coelho, que está à frente da junta há oito anos, este acontecimento terá um “impacto negativo (…) na qualidade de vida, no direito ao descanso e tranquilidade e no direito à mobilidade dos moradores das zonas contempladas”, destacando que o mesmo provocará “um grande incómodo para a população residente, sobretudo para as famílias com crianças e para os idosos”.
“Está em causa o direito ao descanso dos moradores, assim como os direitos de circulação, acesso e estacionamento, em consequência da ocupação massiva que as filmagens acarretam”, redigiu o socialista, reconhecendo que a junta “não tem, no âmbito das suas competências legais, poderes para impedir estas filmagens tal como estão previstas”, pois quem os possui é a CML, e lamentando “que o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º Carlos Moedas, tenha já manifestado o seu entusiasmo pela sua realização, sem primeiro conhecer a opinião ou parecer da Junta de Freguesia”.
Por fim, evidenciou que “está disponível para encontrar uma solução razoável, mas não para assumir uma postura de subserviência a tudo o que vem proposto pelos diversos ‘impérios culturais da moda’”, frisando que “não pode deixar de manifestar publicamente o seu desagrado com a transformação da freguesia num ‘estúdio cinematográfico’”.
Recorde-se que Portugal tem vindo a surgir em diversas produções internacionais. No caso específico daquelas que são veiculadas pelo serviço de streaming norte-americano, podemos lembrar a escolha de Monsanto, aldeia histórica em Idanha-a-Nova, para a rodagem da primeira prequela do universo criado por George R.R. Martin, A Guerra dos Tronos – House of the Dragon – no passado mês de novembro ou as filmagens da série Glória, da autoria de Pedro Lopes e com realização do cineasta Tiago Guedes, que tiveram lugar na região do Ribatejo.