PSD em busca de um sentido

Com o decorrer da campanha António Costa foi corrigindo o que estava mal, foi assertivo na mensagem demonstrando que votar em partidos à sua esquerda era dar o poder à direita e votar no PSD era dar espaço a que a extrema-direita tivesse importância na governação.

Por Ester Amorim, professora universitária de gestão e economia

As eleições têm sempre várias leituras. Os que tiveram bons resultados tudo fizeram bem, os que não os tiveram, tudo fizeram mal. Ao analisarmos a campanha eleitoral, verificamos que quem ganhou não fez tudo bem, nem os que perderam fizeram tudo mal, nem as sondagens foram enganosas. 

Começando pelos pequenos e médios partidos, todas as sondagens indicavam o que veio a acontecer. O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda a baixar muito a votação a favor do PS, o Chega e a Iniciativa Liberal a subir e muito nas intenções de voto e o CDS afundar-se diariamente, como veio acontecer. As sondagens também não erraram no PS nem no PSD e se nos reportarmos à data do chumbo do orçamento e à marcação de eleições legislativas a diferença entre estes dois partidos era cerca de 14% a favor do PS. 

As sondagens não falharam quando dava o PS com uma enorme vantagem e nem falharam quando o PSD estava em empate técnico. Elas eram verdadeiras. A aproximação dos resultados entre os dois partidos teve a ver com a estratégia e com o início da campanha de cada um. António Costa começou mal, sem soluções e com debates medíocres. Rui Rio começou bem, com estratégia e a ganhar os debates. Com o decorrer da campanha António Costa foi corrigindo o que estava mal, foi assertivo na mensagem demonstrando que votar em partidos à sua esquerda era dar o poder à direita e votar no PSD era dar espaço a que a extrema-direita tivesse importância na governação. E na realidade teve sucesso e conseguiu sem contraditório, junto dos pensionistas, dos indecisos e das mulheres que só ele e o PS estavam com condições de lhes dar uma vida melhor. 

António Costa, sendo Governo tem meios de influência, um partido unido e obediente. Rui Rio não tinha e sempre enfrentou muitos obstáculos dentro do partido. Com muito trabalho uma estratégia bem delineada, com alguns candidatos autárquicos bem preparados a recuperação foi notável, mas nem teve tempo de a saborear. Que triste este PSD, aparece uma crise governamental e em vez de estar unido para enfrentar esse momento, os oportunistas do costume, tudo fizeram para destronar o líder eleito. Não tiveram sucesso, mas as feridas ficaram o partido ficou completamente dividido e só a grande capacidade de resistência de Rui Rio evitou o pior. 

Mas quem se preocupa com a ciência política e estuda o comportamento da população, verifica que António Costa tem um sonho e um objetivo de implementar em Portugal a ‘mexicanização’ do regime ou seja, perpetuar-se no poder por tempo ilimitado. Conseguiu e com muito sucesso, maioria absoluta em todos os círculos eleitorais e de Castelo Branco para Sul em todos os concelhos. O seu poder é hegemónico. 

Ser líder da oposição é um lugar muito ingrato, porque é sempre alternância a quem está no poder. Em Portugal só os líderes do PS e do PSD têm chefiado os governos, no entanto a crise no PSD é longínqua e vem desde o último governo de Cavaco Silva. Talvez seja bem recordar que em 1995 Guterres ganhou as eleições para o governo do PS e Cavaco Silva em 1996 perdeu as eleições presidenciais para Jorge Sampaio do PS. O sonho de Sá Carneiro «uma maioria um governo e um Presidente do PSD», acabou por ser concretizado pelo PS.

Continuando a reportar-nos a 1995 e já lá vão 27 anos, sendo estes dois partidos alternância no poder, o PS está no governo há mais de 20 anos e o PSD apenas 6 anos o que demonstra a solidez do PS e a decadência que se vem acentuando no PSD. Isto acontece, porque o PS desde Mário Soares se mantêm no socialismo democrático e no centro-esquerda tentando ganhar o centro flutuante, o PSD social-democrata de Sá Carneiro, teve sucesso até 1995, a partir daí e nos anos que foi governo em coligação com o CDS, afastou-se desse posicionamento ideológico desviando-se para a direita, deixando o centro flutuante, onde se ganham eleições, livre para o PS.

Como já referi as sondagens não falharam quando davam vantagem ao PS ou quando davam empate técnico entre PS e PSD. Só que António Costa é um adversário muito hábil e começou a ter uma estratégia bem delineada, apostou os seus trunfos nos círculos eleitorais com membros do governo a serem cabeças de lista, conselheiros de imagem e comunicação a denunciarem acordos que Rui Rio e o PSD fariam com a extrema-direita e mesmo sendo uma calúnia a mensagem foi muito assertiva e passou.

Rui Rio começou estas eleições, com uma imagem e expectativas muito altas de as poder ganhar. Porém, valeu-se apenas da sua imagem e das suas capacidades, mas na política é preciso ouvir e não decidir a seu belo prazer. Se António Costa, escolheu membros do Governo para cabeças de lista nos vários círculos eleitorais, Rui Rio devia escolher pessoas a esse nível e esses não existem nas concelhias ou distritais, mas existem nas universidades e foi penoso a diferença. Este foi o primeiro erro, mas outros houve, Rui Rio, nunca devia dizer quem escolhia para fazer coligação, mas sim lutar pelo melhor resultado possível. Rui Rio devia dizer em relação ao Chega não e nunca qualquer acordo. A inteligência, a honestidade e a preparação de Rui Rio, são atributos que os portugueses apreciam, mas faltou a interação e empatia. Rui Rio, sabia que as sondagens lhe davam a possibilidade de ganhar, mas subestimou-as e esqueceu-se que nada se ganha sem dinâmica, efetividade e paixão e esse descuido foi-lhe fatal.
O PSD e Rui Rio, não ganharam, outros líderes e outras eleições virão e o PSD mais uma vez continua em Busca de um Sentido.