Ucrânia. Vêm aí sanções ‘devastadoras’ para a Rússia

Os líderes do G7 concordaram, numa reunião virtual, impor sanções “devastadoras” à Rússia, como resposta à invasão da Ucrânia.

Enquanto choviam os primeiros mísseis, bombas e disparos de artilharia sobre a Ucrânia, durante a madrugada de quinta-feira, os líderes do G7 decidiram avançar com um pacote de sanções contra a Rússia que descreveram como “devastadoras”. Se isso chegará para que o Presidente russo, Vladimir Putin, pense melhor antes de continuar a avançar pelo território ucraniano adentro é outra questão. 

“Reuni com meus homólogos do G7 para discutir o ataque injustificado do Presidente Putin à Ucrânia e concordamos em avançar com pacotes devastador de sanções e outras medidas económicas para responsabilizar a Rússia”, anunciou o Presidente norte-americano, Joe Biden, deixando uma nota de apoio ao “corajoso povo ucraniano. Esse apoio incluirá “restrições às maiores empresas locais russas”, augurando que “alguns dos impactos mais poderosos far-se-ão sentir ao longo do tempo”. Entre as sanções, por exemplo, está o bloqueio de mais quatro grandes bancos, incluindo o VTB. As sanções dirigidas a este banco, que é a segunda maior instituição financeira da Rússia (com praticamente um quinto dos ativos gerais do setor bancário russo), passam por “congelar qualquer um dos ativos da VTB em contacto com o sistema financeiro dos EUA e proibir os norte-americanos de negociar com eles”. Informações avançadas em comunicado da Casa Branca. Os restantes bancos na mira dos norte-americanos são o Bank Otkritie, Sovcombank OJSC e Novikombank.

Biden avançou ainda que vai “impedir o acesso da Rússia à tecnologia”, bem como “limitar a capacidade de construir edifícios e de fazer negócios em dólares, euros, libras e ienes”. As exportações para a Rússia vão ser limitadas, garantiu, tal como o financiamento do seu exército. A lista de elites russas e familiares na lista dos sancionados vai aumentar e, no campo de guerra cibernética, o presidente dos EUA avisou que “se a Rússia continuar a fazer ciberataques” a retaliação será uma certeza, até porque “há meses” que os norte-americanos, diz, se encontram a trabalhar “com o setor privado para aumentar a cibersegurança”.

“Putin é o agressor. Putin escolheu esta guerra. E agora ele e o seu país vão sofrer as consequências”, ameaçou Biden. E os países europeus concordam plenamente, tendo seguido também a via das sanções. 

“É o Presidente Putin que está a trazer a guerra de volta à Europa”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, pouco antes do discurso de Biden. “Condenamos este ataque bárbaro e os argumentos cínicos para o justificar”, reforçou.

“Com este pacote, vamos visar setores estratégicos da economia russa, ao bloquear o seu acesso a tecnologias e mercados que são chaves para a Rússia”, continuou Von der Leyen. “Vamos enfraquecer a base económica russa e a sua capacidade de se modernizar”. 

Na prática, este pacote de sanções significará medidas como o congelamento de bens russos, seja estatais, de empresas ou de oligarcas, bem como o bloqueio do acesso do Kremlin ao mercado financeiro europeu.

Além disso, no final da tarde de hoje, o Conselho Europeu pediu que o pacote fosse endurecido, para que “inclua também a Bielorrússia”. O motivo é o claro apoio do regime de Alexander Lukashenko, um aliado próximo – alguns analistas dirão “fantoche” – de Putin, que permitiu que as tropas russas avançassem sobre a Ucrânia a partir do território bielorrusso, cruzando a fronteira na cidade de Veselovka, muito próxima da capital ucraniana. 

No entanto, apesar de toda a retórica, no que toca a bloquear o acesso da Rússia ao SWIFT, um sistema de pagamentos internacionais – considerada a mais pesada sanção económica à disposição do Ocidente – existe muita hesitação. Enquanto os estados do Báltico – naturalmente receosos dos seus vizinhos russos – exigem que a Rússia seja expulsa de imediato, outros estados membros da UE estão relutantes em levar a cabo tal manobra, avançou a Reuters. É que, se isso devastaria os bancos russos e também dificultará que os seus credores europeus fossem pagos, além de que a banca russa já começou antecipadamente a construir um sistema de pagamentos alternativos. 

A questão é que o Kremlin há muito que tenta tornar a sua economia mais robusta face às esperadas sanções ocidentais, enquanto a UE não o fez, mantendo vulnerabilidades como a sua dependência de gás russo, por exemplo, e arriscando que as sanções impostas à Rússia a prejudiquem tanto ou mais.

“Há que não esquecer que a Rússia se está a preparar para este momento há bastante tempo”, frisava ao i Sandra Fernandes, professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG), especializada em Relações Internacionais, na véspera da invasão. Lembrando que, mesmo perdendo acesso aos mercados financeiros, “a Rússia está confortável quanto à sua dívida externa e tem reservas financeiras, pelo menos a curto prazo, para resistir às sanções”. Relevante será também um contrato renovado com a China a 4 de fevereiro, antes dos Jogos Olímpicos de Inverno, para o fornecimento de gás durante 30 anos, a ser pago em euros, num esforço, noticiou na altura a Reuters, de diversificar os investimentos de dólares. A Gazprom não deu detalhes dos montantes envolvidos.