A pandemia não acabou, mas um dos maiores dispositivos erguido no último ano vai começar a ser desmontado. O anúncio foi feito esta sexta-feira: os centros de vacinação contra a covid-19 vão passar dos atuais 192 para 139 a partir de março, num processo que prevê a transição da vacinação para os centros de saúde, anunciou o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales. E, com o passar do tempo, o objetivo é que a vacinação volte onde sempre esteve, os centros de saúde. «Estaremos preparados para readaptar a qualquer instante consoante as necessidades», assegurou o governante.
Milhões investidos pelas autarquias
Mobilizaram milhares de enfermeiros e médicos de família, com impacto na atividade dos centros de saúde nestes anos de pandemia, mas também voluntários, que orientavam os utentes. Nasceram em pavilhões, instalações locais e levaram muitos a conhecer equipamentos públicos das suas zonas de residência onde funcionam piscinas, clubes desportivos ou espaços culturais. E resultaram em grande medida de um investimento de milhões por parte das autarquias, fosse em sinalética, recursos humanos e limpeza e segurança.
Só segundo os contratos publicados no Portal BASE, somam-se gastos superiores a 5 milhões de euros desde o início de 2021.
A Direção-Geral da Saúde já recomendou uma quarta dose para pessoas com imuno-depressão, mas a generalização de um novo reforço da vacina ainda está em estudo. Isto numa altura em que há novas vacinas em desenvolvimento.
Fim do isolamento de contactos e alívio total em abril
Os novos casos de covid-19 no país continuam a baixar depois do pico atingido no final de janeiro e esta semana a Direção-Geral da Saúde pôs fim a mais uma das medidas implementadas de uma forma sem precedentes desde o início da pandemia: o isolamento profilático de contactos de risco. Passam apenas a ter indicação para testar-se. A Direção-Geral da Saúde projeta que o país possa levantar todas as restrições da covid-19, nomeadamente o uso de máscaras em espaços interiores, a 3 de abril, altura em que se prevê que o país registe níveis de mortalidade associados à doença inferior ao nível de alerta do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, o indicador proposto pelos peritos na última reunião do Infarmed e adotado pelo Governo. Implica que o país regista menos de 15 mortes diárias ao longo de 14 dias e apesar de a mortalidade estar abaixar, ainda continuam a ser o dobro. Num inverno com uma mortalidade abaixo de outros anos, a covid-19 continua a ter um peso significativo nos óbitos no país, representando 10% das mortes – há um ano chegou a representar um terço dos óbitos. A mortalidade, sendo inferior à do inverno passado, aumentou à medida que a vaga sem precedentes da Omicron atingiu também os mais idosos.
Agora, segundo o Instituto Ricardo Jorge, tem vindo a aumentar o peso de casos de infeção ligados à segunda linhagem da Omicron (BA.2), que não parecendo ser mais severa, parece ser ainda mais contagiosa. E segundo um estudo dinamarquês publicado esta semana pode levar a reinfeções num curto espaço de tempo, algo que na Dinamarca se considerou raro e acontecer com maior frequência entre quem não está vacinado. A Organização Mundial da Saúde acompanha o espalhamento desta variante, que em Portugal já representa 42,5% das novas infeções, mas por agora não decidiu considerá-la uma variante autónoma, embora seja relativamente diferente da Omicron 1.
No Reino Unido, onde há um estudo sobre sintomas de covid-19 em curso, o projeto ZOE Covid Sympton, parece haver uma maior associação desta variante a sintomas gastrointestinais. Um alerta deixado na semana passada pelo coordenador, Tim Spector. Diarreia e dor abdominal passaram a ser os sintomas mais reportados, o que levou a esta suspeita. «Pensamos que a covid-19 causa diarreia porque o vírus invade as células nos intestinos e altera a sua função normal», disse. «Sabemos que o vírus viaja por diferentes partes do corpo. É possível que a Omicron ou outra variante esteja a atacar os intestinos. Isto não se manifestaria no nariz, por isso pode ter-se uma infeção intestinal sem testar positivo».
A Direção-Geral da Saúde ainda não disponibilizou dados sobre reinfeções em Portugal, um dos temas a vigiar, bem como o possível aparecimento de novas variantes com outras características, O INSA está a trabalhar para implementar um novo sistema de vigilância que vai juntar covid-19, gripe e vírus sincicial respiratório, mas ainda não foi apresentada uma data para entrar em vigor.
No relatório de linhas vermelhas da Direção-Geral da Saúde disponibilizado esta sexta-feira conclui-se que se mantém a tendência decrescente de infeções e internamentos, também em cuidados intensivos. Mas nota-se que a circulação do vírus se mantém com intensidade muito elevada, recomendando-se a manutenção das medidas de proteção individual e vacinação de reforço, que já foi feita por 85% das pessoas elegíveis.
Esta semana está prevista a vacinação das crianças dos 5 aos 11, o grupo etário em que tem havido mais reticências de médicos e de pais, com apenas 51% das crianças elegíveis a ter iniciado a vacina nas últimas semanas.
Muitas, depois de se terem infetado em janeiro, não farão agora a segunda dose que estava marcada para este fim de semana, mantendo-se o grupo etário com menor cobertura vacinal, a par das crianças mais novas até aos cinco anos sem vacina indicada.
Por esse motivo, os peritos recomendaram na reunião do Infarmed que, além de se manter a testagem nos contextos mais vulneráveis, como admissões em lares e hospitais, também educadores do pré-escolar se testem mais rotinadamente. Algo que não foi objeto de uma recomendação.