A icónica pintura antiga portuguesa, já tem mais de 500 anos e é um retrato coletivo muito simbólico da História e cultura portuguesas.
Esta está a ser alvo de restauro desde 2020, quando foi criada uma "casa" dentro do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, para que os visitantes pudessem acompanhar todo o progresso.
Segundo o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, em declarações à Lusa, nesta fase do projeto de restauro, os especialistas estão “a retirar os vernizes antigos e sujidade, num trabalho muito demorado, porque a área é grande, e é feito a cotonete". O responsável acrescentou que "começam a aparecer as cores mais próximas do original" do mítico políptico.
Descoberto no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Alfama, Lisboa, em 1882, a obra tem sido, alvo de curiosidade pública e debate no meio académico, sobre a autoria, e quem eram ou representavam as 60 figuras da época dispostas em redor da dupla figuração de São Vicente.
A intervenção está a ser realizada “com tecnologia mais avançada”, depois da obtenção de um apoio mecenático obtido pelo museu e pelo grupo de amigos do museu junto da Fundação Millennium bcp.
De acordo com o historiador, "vamos ficar a saber com mais clareza o que é o original e o que não é" nesta obra, e "obter ainda uma visibilidade melhor da pintura", quando foram totalmente retirados "os vernizes escurecidos ou sujos, porque, basta remover essa camada, para obter uma perceção mais nítida, com cores mais próximas do original".
Segundo o mesmo após esta fase – que deverá continuar até ao final do ano – seguir-se-á outra de "retirada de retoques mais danificados, repintes mais grosseiros que existam, e fazer a recolocação dos vernizes finais e retoque, que deixarão as cores originais descobertas”.
Depois, dar-se-á a estabilização do suporte do políptico, "ver se é precisa alguma fixação acessória do suporte, fazer uma desinfestação total das madeiras das molduras, e ver se haverá ou não um novo sistema de emolduramento", elucidou.
Interrogada relativamente à dimensão da equipa envolvida no projeto, da qual fazem parte especialistas internacionais, Joaquim Caetano contou que nesta fase estão cinco pessoas a trabalhar, mas só durante dois dias por semana, mais um terceiro dia de organização de informação, porque tudo tem de ser fotografado, criada e organizada toda a documentação", à medida que se continuam a receber dados de exames e das análises que foram feitas inicialmente.
Questionado sobre se o restauro trará também “alguma luz” sobre as 60 personagens ali pintadas, Joaquim Caetano respondeu que “não”: "As figuras só podem ser identificadas se houver uma base documental, o que não existe, ou, em alternativa, em comparação com outros retratos que existam”, sublinhou.
"Daquelas personagens todas, retratos físicos que indiquem isso, o único caso que existe é a do Infante D. Henrique, porque aquela figura é muito semelhante à que aparece na Crónica da Guiné. Se não há retratos para comparar, o restauro não vai resolver esse problema", argumentou o responsável.
Além disso, o historiador de arte frisou que "o restauro é feito para resolver problemas de integridade e conservação material da peça que estava em degradação. Não é feito para responder, facilitar, confirmar ou negar os milhares de teorias que existem sobre os painéis", considerados peça por excelência da pintura portuguesa.