A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) divulgou esta segunda-feira o documento intitulado de "Conservar sobre a Guerra", onde dá conselhos aos pais e cuidadores de crianças e jovens em como abordar o tema da guerra.
O melhor a fazer, aponta a OPP, "é estar disponível para escutar as preocupações, conversar e responder às dúvidas dos mais novos", e explica que, apesar de não estarem em ambientes de guerra, muitas crianças, contudo, "são expostas à violência e não percebem o que está a acontecer. É natural que se sintam ansiosas, aterrorizadas, confusas ou com medo", pode ler-se.
Assim, "é importante responder às dúvidas e dar-lhes informação apropriada à idade, capacidade de compreensão e experiências para que se sintam seguras e protegidas. É essencial conversar quando é preciso, mas também não se deve forçar a tomar consciência sobre a existência de uma guerra se as crianças – sobretudo as mais pequenas – não se mostrarem interessadas ou não quiserem falar. Contudo, mostre que estará disponível caso a criança queira".
"Por muito que conversar sobre violência, conflitos e guerra possa ser assustador e gerar medos, é ainda mais assustador pensar que ninguém pode falar connosco sobre esses sentimentos", pode ler-se no documento. "É importante conversar de forma sensível e apoiar os mais novos no que estão a sentir, deixando claro que podem sempre dizer o que estão a pensar e a sentir. Não menos importante é perceber o que sabem sobre o assunto, corrigir ideias erróneas, filtrar a informação e transmitir segurança", esclarece a OPP.
Responder à pergunta "O que é uma guerra?" é difícil de explicar, até para os adultos. Para as crianças, pode ser um exercício ainda mais dificil. A Ordem dos Psicólogos, no entando, alerta que "os mais novos sabem identificar o sofrimento e conseguem fazer analogias com a sua própria experiência" e que "é natural que se sintam confusas, perturbadas, ansiosas, assustadas, preocupadas ou tristes, com alterações no sono, no comportamento, apetite ou concentração".
O documento ressalva que crianças que estejam a passar por situações de violência, divórcio ou morte de um familiar podem ter um risco mais elevado de experienciar mais ansiedade e mais alterações do comportamento.
Neste modo, a OPP aconselha a que "se dê espaço à criança para expressar os seus pensamentos, que se escute atentamente e descubra o que a criança já sabe, que se valide os seus sentimentos e que se adeque a linguagem e a informação à idade da criança", sublinha.
Mas, para além de haver espaço aos seus sentimentos, também é "igualmente importante" assegurar que a criança está protegida, sublinhar que há esperança e muitas pessoas a ajudar, assistir às notícias em conjunto (com crianças mais velhas), evitar estereótipos, encorajar comportamentos pró-sociais e monitorizar a saúde psicológica das crianças. "Não precisamos de ser especialistas num assunto para ouvir o que as crianças/jovens pensam e sentem", nota.
Quando há perguntas mais complexas, "é importante perceber primeiro o que sabe a criança", avisa ainda a OPP. Depois, "deve-se mostrar que existem diferentes perspetivas ao olhar para um conflito".
O documento também apresenta algumas pistas de resposta a perguntas mais recorrentes como “o que é a guerra?”, “porque existem guerras?”, “os nossos amigos/familiares são morrer?”, “os avós estão bem?”, “também nos vão atacar?” ou “porque há pessoas que matam outras pessoas?”.
A guerra pode ser "um pretexto para procurar oportunidades de aprendizagem e de educar para a não violência, interiorizando a ideia de que os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica. Mostrar empatia, ajudar a identificar e expressar a raiva, demonstrar os passos necessários para resolver um problema e valorizar as competências de não violência" são algumas das propostas que se podem ler no documento.
"É importante falar com as crianças e jovens sobre os esforços que nós, enquanto comunidades e sociedades, podemos envidar para promover e construir diálogos, pontes, justiça e paz", conclui a OPP.