Se já é difícil, muitas vezes, contarmos as verdades em público quando estas se afastam daquilo que ditam os padrões sociais por medo do julgamento, imaginemos se isso partisse de uma Rainha… É muito invulgar que um membro da realeza abra o coração e desça do pedestal. Contudo, não é impossível e Paola da Bélgica veio recentemente prová-lo, sendo a primeira Rainha a abrir a «caixa de Pandora», colocando a nu um passado do qual não se orgulha, mas não se arrepende. Nascida princesa italiana, Rainha consorte dos belgas entre 1993 e 2013, pelo seu casamento com o rei Alberto II, e rainha da Bélgica desde a abdicação do seu marido, a soberana «confessou-se» aos media do seu país adotivo. Num documentário com a duração de uma hora e meia e intitulado ‘Paola, côté jardín’, veiculado na sexta-feira pelo canal RTBF — rádio e televisão belga da comunidade francesa — esta revelou «a sua falta de maturidade na altura do casamento», quando tinha apenas 22 anos; a frustração que sente por não ter percebido a tempo «a importância de demonstrar afeto aos três filhos, Felipe, Astrid e Lorenzo» e ainda admitiu a infidelidade no seu casamento, «num período da vida onde tudo estava a dar errado». Mas nem tudo é mau. Esta também contou pormenores da reconciliação com o marido, que em 2020 reconheceu ter tido uma filha fora do casamento, atualmente princesa Delphine de Saxe-Coburg.
Um casamento precoce
Alberto e Paola, com 87 e 84 anos, respetivamente, conheceram-se em 1958 em Roma, graças à coroação do Papa João XXIII. Apesar do jovem ter dito prematuramente estar apaixonado e que queria casar com Paola, esta conta que deixou claro que «preferia ter calma e mais tempo». Contudo, apenas oito meses depois, a 2 de julho de 1959, acabaram por se casar na Catedral de São Miguel e Santa Gudula, em Bruxelas – naquele que foi o primeiro casamento real na Bélgica após a Segunda Guerra Mundial. «A sua imagem deixou de pertencer a uma mulher jovem e bonita como uma artista de cinema, que veio de outro país para iluminar a corte belga, que parecia um pouco triste», descreve o narrador do documentário, citado pelo jornal espanhol El País.
Em 1963, quando tinha 26 anos, esta já era mãe de três filhos e foi precisamente nessa altura que se começou a sentir «sem rumo». Paola viu-se envolvida em críticas ferozes da imprensa: era atacada por usar «uma saia muito curta, um biquíni com um decote indecente» ou por «frequentar demasiado clubes noturnos». Sem oportunidade de resposta, a situação foi-se tornando cada vez mais insustentável pois esta «procurava a sua própria vida quando já era uma figura pública». «Fiz esforços enormes que ninguém sabe», conta.
As confissões dos intervenientes
Por isso, admite, durante dez anos – entre 1970 e 1980 – a jovem teve um casamento infeliz. Na altura, chegou mesmo a ser fotografada na praia com um jornalista da revista francesa Paris Match. Mas não se arrepende: «Foi um amor um pouco egoísta. Noutra vida não voltaria a fazê-lo, mas não há arrependimento. Foi uma fase triste da minha vida e estávamos à beira da separação», afirma a dada altura da produção. Apesar da traição, o divórcio não se chegou a realizar graças aos filhos em comum. «Parecia injusto que ela não ficasse com as crianças», reconhece o ex-rei no documentário. «Fui um pai bastante autoritário, como o meu», acrescentou. Contudo, houve outro ponto de viragem: «Ele disse-me que sempre me amou, e isso emocionou-me», lembra Paola que agradece a reconciliação com o marido.
Os três filhos do casal também aparecem na «tela». Cada um à sua maneira, reconhece que «não teve uma infância fácil nas mãos das amas e dos tutores»: «Não é segredo, embora sempre tenha amado muito os meus pais e admire a minha mãe», revela a princesa Astrid. «Todos nós sofremos muito e hoje estamos felizes. A reconciliação e o perdão são o mais difícil», diz Felipe, o atual rei. «Aprendi com eles a ter paixão pelo que faço», acrescenta Lorenzo. A mãe olha-os com atenção e afirma: «Quando aceitas o que tens que fazer, ficas livre».