A veracidade da fotografia publicada na 1ª página do último Nascer do SOL, mostrando Vladimir Putin ao lado de Samora Machel dias antes do desastre aéreo que o vitimou, foi contestada pelo jornalista José Milhazes.
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Sob o título Assim se mata o jornalista (ele quereria dizer ‘o jornalismo’), Milhazes afirma que «se os jornalistas do Sol tivessem o mínimo de conhecimento e miolos, não teriam publicado uma notícia falsa e descabida. Se consultassem a Wikipédia, veriam que nessa altura Putin não poderia estar em Moçambique. O agente militar soviético é Boris Putilin e não Putin. Assim se destrói o jornalismo».
Ora, na Wikipédia, nada consta sobre onde estava Putin naquela data.
Mas qual é a história desta fotografia?
Ela foi investigada por um jornalista moçambicano, Alves Gomes, que em 2018 contou que a foto foi colocada nas redes sociais por um indivíduo do Zimbabwe, com quem ele conseguiu chegar à fala. «Circulou nas redes sociais – disse Alves Gomes – uma fotografia em que se vê o presidente Samora ao lado de Putin jovem. Eu investiguei um pouco aquela fotografia e quem a colocou nas redes sociais foi um cidadão zimbabueano […] com quem falei. E perguntei-lhe: ‘Mas onde é que conseguiste essa fotografia?’ E ele disse-me que lhe foi oferecida em São Petersburgo, na Rússia, há alguns anos atrás.»
Na verdade, Putin é natural de S. Petersburgo, onde viveu até 1996, altura em que se mudou para Moscovo, para fazer parte do Governo de Ieltsin.
Mas qual será a credibilidade daquele depoimento?
Alves Gomes era na altura dos factos correspondente do semanário Expresso em Maputo. O director do Expresso era então José António Saraiva, que se lembra bem dele: «O Alves Gomes era um jornalista credível, que fora contratado pelo meu antecessor, Augusto de Carvalho, e que conhecia muito bem Samora Machel e os meandros do poder em Moçambique. As suas palavras merecem toda a confiança».
Perante isto, o que haverá a acrescentar? Apenas que José Milhazes se precipitou, perdendo uma óptima oportunidade para estar calado. Para lá da forma deselegante como atacou colegas de profissão, errou.
Diz ele que bastava os jornalistas deste jornal «terem o mínimo de conhecimento e miolos» para não cometerem aquele alegado erro. Ora, bastaria a Milhazes ter um pouco de inteligência e bom senso para pensar no seguinte: o homem que aparece na foto ao lado de Machel, se não fosse Putin, era um sósia dele. Perante isto, seria verosímil haver outro russo quase com o mesmo nome e com a mesma cara? Não era. Assim, em vez de se precipitar para as redes sociais a desmentir a notícia, deveria ter investigado um pouco mais e constatar que o Boris Putilin de quem fala (e que existiu mesmo) não tinha qualquer semelhança física com o homem que surge na imagem ao lado de Machel. O qual, por muito que custe a José Milhazes, é de facto Vladimir Putin.