Agora que entraste no mundo mágico da leitura e da escrita, entrego-te este caderno para que possas dar asas à tua imaginação!». Este é o início de um texto que a professora do meu afilhado escreveu num caderninho que lhe ofereceu quando sentiu que ele já tinha compreendido e iniciado a leitura e a escrita.
Ler é de facto uma porta para um mundo novo. Real e imaginário. Do sonho, do fantástico, do incrível, e também do histórico, da informação, do quotidiano. É a altura em que as crianças deixam de estar dependentes da disponibilidade dos pais para lhes contarem uma história, para serem elas próprias a fazê-lo. Quando mais lhes apetecer. Para serem elas a contar as histórias aos irmãos, aos pais ou aos avós e descobrirem nos livros coisas que em casa mais ninguém conhece.
Para aumentarem o seu conhecimento e alimentarem a sua imaginação com um montinho de letras e palavras, que vão ampliando o seu vocabulário e passo a passo a sua capacidade de leitura e concentração. É por isso também um passo de autonomia e de entrada no mundo dos mais crescidos. Poder ler os rótulos, os anúncios na rua, as instruções de um brinquedo novo. Compreender aquilo que até então tinha sido um mistério, descodificar os símbolos, decifrar o código.
E por outro lado ter o poder de ser o escritor, o inventor, o criador, através da escrita. De deixar para a posteridade reflexões, histórias, cartas, diários. De escrever bilhetinhos, de passar a informação. De transpor para o visível o que tem no pensamento.
Infelizmente parece haver um desinteresse pelo fantástico mundo da leitura e da escrita. Basta ver como cada vez mais se recorre aos vídeos em detrimento dos textos. E mesmo a mensagens de áudio, em vez de mensagens escritas, ou aos erros crassos que proliferam. Este desuso e desleixo são preocupantes e levam-nos a pensar qual será o futuro do mundo mágico a que a professora se refere.
A forma de combater este desinteresse não passa pela inserção prematura e forçada da aprendizagem da leitura e da escrita. Isso seria recorrer ao mesmo imediatismo e facilitismo que leva os jovens a fugir deste departamento. Não é a cópia forçada e repetida de letras sem significado nem objetivo aparente – que poderão até conduzir à exaustão, frustração ou desinteresse – que vão produzir bons frutos.
A educação para a escrita e leitura faz-se desde tenra idade, sim, mas antes da aprendizagem da técnica, tem de surgir a necessidade, a vontade de querer aprender, e para isso tem de se dar a conhecer de forma natural a sua utilidade, através de exemplos recorrentes e concretos do dia-a-dia. É através da convivência próxima e diária com a leitura e a escrita que a criança começa a aguçar a curiosidade e a interessar-se, a querer saber mais, a entender a utilidade destas ferramentas, até finalmente querer muito adquiri-las.
É um caminho que se vai percorrendo através da leitura de histórias, de cartas que se escrevem a familiares e amigos, de listas de compras, da identificação com o seu nome nos seus desenhos e materiais, da leitura de pormenores em pequenos detalhes, tudo em conjunto com os mais novos, até ao momento em que quererão ser eles a ler e a escrever, a não ter de depender dos outros para ler um livro ou escrever uma carta.
«Imagina, sonha, escreve sem receios, arrisca mesmo quando não tens a certeza… e um dia serás certamente um ESCRITOR muito especial!». Assim termina o texto da professora e se inicia uma nova fase na vida do meu afilhado e de tantas outras crianças.