1. A votação no Parlamento Europeu sobre a resolução de condenação à Rússia pela invasão à Ucrânia veio demonstrar inequivocamente com quem o PCP está e sempre esteve: ao lado da Rússia (antes, União Soviética). Entre os 13 votos contra, encontram-se os dos deputados do PCP, Pimenta Lopes e Sandra Pereira. Uma posição legítima em democracia, mesmo quando assumida contra os valores da democracia!
Mário Soares nunca cruzou as linhas vermelhas e nunca trouxe o PCP para o ‘arco governativo’, demonstrando que a lição sofrida em 1975 nunca foi esquecida. António Costa, nascido em 1961, tinha 13/14 anos na altura e não sentiu na pele o que Mário Soares sofreu. Também por isso, não teve qualquer problema em cruzar essas linhas vermelhas em 2015, para evitar que Passos Coelho governasse, como se o PCP fosse um partido defensor da democracia.
Após seis anos ‘casado’ com PCP (e Bloco), Costa percebeu que não poderia continuar numa ‘paz podre’ e todos conhecemos o processo que terminou com a maioria absoluta do PS a 30 de janeiro e que lhe permite governar tranquilamente por quatro anos, sem se sujeitar a quaisquer acordos com essa esquerda revolucionária. Cada vez mais temos a certeza de que a sorte protege os audazes e, se Costa teve muita sorte em Rio não ter feito coligação com o CDS que lhe retiraria a maioria absoluta, que dizer agora desta sorte em não precisar do PCP (e Bloco) para governar?
Porque a realidade de hoje, com esta guerra na Ucrânia, com as posições do PCP (e Bloco), tornaria impossível qualquer ‘geringonça’, fosse ela ecológica ou não. Ninguém perdoaria a Costa que sonhasse sequer em coligações desta natureza – com exceção dos fanáticos destes partidos. Se as eleições fossem hoje, arriscariam fortemente uma descida muito mais violenta na representação parlamentar. Aliás, atrevo-me a dizer que o PCP, com essa posição pró-soviética só explicável por uma coerência que roça a cegueira, fez um ‘hara-kiri’ que o irá marcar por muitos e longos anos em Portugal.
2. Costa e Santos Silva têm-se desdobrado em declarações que ‘escancaram as portas’ a ucranianos para se estabelecerem em Portugal. Moedas, em Lisboa, em coerência com políticas nacionais, também já veio reiterar a vontade em acolher refugiados ucranianos. Só nos podemos congratular com estas posições humanitárias que, ainda por cima, viriam ajudar a resolver um problema de natalidade em Portugal.
Em 2021, nasceram apenas 79,2 mil bebés em Portugal, o número mais baixo desde que há registos. Se considerarmos que também em 2021 houve 125 mil óbitos, é indiscutível que temos um problema estrutural gravíssimo. Sejamos práticos: a vinda de ucranianos também seria uma forma de ultrapassar esta questão demográfica, assim os conseguíssemos reter dentro das nossas fronteiras, com oferta de trabalho digno e compensatório.
3. A insuficiência energética na Europa é um problema de tal maneira grave que a existência desta guerra na Ucrânia bem evidenciou, tamanha a dependência de diversos países europeus do gás russo. Hoje, todos são unânimes e Merkel, a líder mais idolatrada da Europa, começa a ser fortemente contestada pela aprovação do Nord Stream 2 que ia colocar a Alemanha ‘de joelhos’ perante a Rússia.
Macron já anunciou, há algum tempo, o reativar de energias nucleares e todos os países europeus hoje percebem que há que apostar fortemente em alternativas energéticas. Portugal, por sua vez, tem em Sines um porto com possibilidade de acostarem navios metaneiros que tragam GNL (gás natural liquefeito) para a Europa e esta será uma oportunidade que não podemos enjeitar. A Espanha também poderá ter um papel determinante pelo elevado número de portos que possui (Ferrol, Huelva, Cartagena, Valência, Barcelona, Bilbao) pelo que deverá existir uma coordenação ibérica que traga valor acrescentado a ambos os países, leia-se uma política concertada de gestão/construção de gasodutos que faça chegar este gás a França e, depois, ao centro da Europa.
4. Finalmente, esta guerra veio indubitavelmente reforçar a NATO e o seu papel nos equilíbrios geopolíticos. Formada inicialmente por 12 países em 1949, a seguir ao términus da 2.ª Guerra Mundial, conta hoje com 30 países, dos quais 14 aderiram depois do desmembramento da antiga União Soviética (Albânia, Bulgária, Croácia, Rep. Checa, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Montenegro, Macedónia do Norte, Polónia, Roménia), seguramente com receios de novas tendências expansionistas dos sovietes.
E a Ucrânia? Sejamos pragmáticos: por razões geoestratégicas, sobretudo por considerar que o seu território é parte integrante da Rússia, esta jamais deixará que a Ucrânia entre na NATO e isso terá de ser aceite pelos ucranianos, como base nas negociações de paz em curso.
De outra forma, a Rússia, por muito graves que sejam as sanções económicas que o Mundo lhe está a impor e que já se notam visivelmente (i) na desvalorização do rublo, (ii) na subida das taxas de juro, (iii) nas filas imensas nas caixas multibanco e (iv) no desespero da população à procura de moeda estrangeira, só irá parar com a ocupação total da Ucrânia e colocação de um regime idêntico ao da Bielorússia.
Anexada a Ucrânia, a pergunta a fazer é: será que a Rússia fica por aqui? Ou irá estender a tentativa de subjugação? Os sinais foram dados com as severas ameaças sobre a Suécia e a Finlândia, caso ousassem sequer pensar em aderir à NATO, mas creio que estes acontecimentos só irão precipitar a entrada de ambos.