Guerra

O aparecimento de um problema de maior importância reduz a importância relativa dos demais

Guerra: durante toda a minha existência houve, só nunca pensei que a fosse ver tão de ‘perto’. É certo que a Ucrânia não é o único país vítima de um conflito desta natureza, mas é certamente um claro exemplo da principal razão, na minha opinião, pela qual o choque bélico ainda existe: ignorância.

Política e ideologias anexas à parte, toda e qualquer história tem sempre duas versões, no mínimo. É tão importante a vítima mortal na Ucrânia, como o oprimido russo. Ainda assim, este tema é tão complexo como o meu conhecimento de causa, prático, do assunto, razão pela qual partilho com o leitor a minha perspetiva sobre qual o caminho a seguir para que tais circunstâncias se evitem no futuro.

Costuma dizer-se que um grande problema resolve-se com os recursos e conhecimentos adquiridos na resolução de um outro problema maior, e não poderia estar mais de acordo. Tanto que, apesar da proibição legal de intervenção militar da NATO e outros, a ameaça de uma terceira guerra mundial de natureza nuclear gerou a iniciativa solidária de uma parte considerável do mundo a participar de ajuda voluntária à Ucrânia. Isto, julgo, pela compreensão das principais consequências do avanço da Rússia.

Quero com isto dizer que o aparecimento de um problema de maior importância reduz a importância relativa dos demais. Apesar de anos de negociações e debate, é mais provável hoje a entrada da Ucrânia em múltiplos acordos geopolíticos e económicos de natureza europeia, do que foi em todo o período que antecedeu o recente conflito.

Para além disso, acredito que a população europeia peque pela falta de sensibilidade, por ignorância, e pela negligência de importantes lições da história: não é a primeira vez que se assiste a um avanço militar com princípios estratégicos semelhantes (caso do Hitler), muito menos com os padrões de censura e ignorância impostos aos militares do país atacante e a exposição clara dos meios a que o líder está disposto a recorrer para atingir os fins, agora sim, manifestamente evidentes, mas implícitos.

Por essa ignorância, os custos indiretos da não entrada da Ucrânia na UE não foram calculados e o impacto do avanço russo pode ser de valor incalculável (e nem vou referir danos psicológicos e as perdas de vidas humanas). E mais acrescento, que me choca a tardia resistência e afronta da população russa ao regime atual, dado que estão também eles a ser alvo de grandes perdas económicas, e poderão ter as suas vidas hipotecadas por decisão (com a qual boa parte não concorda) de meia dúzia de cavalheiros.
Como já fiz menção num outro artigo, os vikings começaram a crescer e expandir-se a partir do momento em que cessaram os conflitos internos e se focaram no desenvolvimento para o exterior.

Resta-me brincar com a situação e esperar uma invasão alienígena para que o mundo caminhasse para uma utópica união mundial. Com ou sem aliens, a verdade é que o valor que a Rússia retira da anexação da Ucrânia é inferior ao valor que retira de uma colaboração a longo prazo, de armas guardadas. Que mais não seja porque estamos sujeitos a desafios globais mais frequentes como foi a covid-19, e da próxima vez remendos de fita-cola como foram as primeiras medidas podem não chegar. Que se meçam as consequências da ignorância e que se reforce a ‘escola da vida’.