Em 2009, escassos meses depois de ser empossado como Presidente dos EUA, Barack Hussein Obama foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
Foi, certamente, um dos mais absurdos e inacreditáveis galardões atribuídos pelo demasiadamente politizado Comité Norueguês do Nobel, atendendo a que Hussein Obama, durante o período que levava de presidência, não fizera rigorosamente nada em prol da paz.
E a distinção com que foi obsequiado em nada serviu de estímulo para que o novo presidente norte-americano se empenhasse, decisivamente, na adopção de medidas tendentes em garantir a paz no mundo.
Bem pelo contrário, assim que se instalou na Casa Branca, Obama entreteve-se a fomentar guerras em zonas do globo até então estáveis e pacíficas, com consequências dramáticas sobretudo na Líbia e na Síria, países que usufruíam de um nível de vida invejável para grande parte dos europeus e que, desde a famigerada Primavera Árabe, nunca mais conheceram outra coisa que não a morte e a destruição.
Muammer Kaddafi e de Bashar al-Assad estavam ambos ocidentalizados e ajuizados, apesar de o primeiro, durante anos, ter tido um comportamento lunático, garantindo que os seus respectivos países serviam de tampão para qualquer aventura expansionista de fanáticos religiosos e de migrações descontroladas.
Com o vergonhoso assassinato de Kaddafi e da tentativa de derrube de Assad, orquestrados com a chancela de Hussein Obama, aqueles países mergulharam numa guerra civil sem fim, as quais resultaram no eclodir de movimentos radicais islâmicos terroristas, responsáveis por inúmeras chacinas no coração da Europa, e num dos maiores fluxos de refugiados a que alguma vez se assistiu.
Para a História, o legado de Obama será o de ter incendiado o Próximo Oriente, deixando-o a ferro e fogo.
Hussein Obama nem sequer teve o bom-senso de ter aprendido com os erros do seu antecessor, cuja obsessão em se livrar de Saddam Hussein, um tirano, mas que estava domesticado e controlado, mantendo o Iraque num local seguro, acabou por transformar aquele país num autêntico barril de pólvora e num cemitério para milhares de militares norte-americanos.
Nem tão-pouco tirou lições do autêntico pântano em que os norte-americanos se deixaram atolar no Afeganistão, teatro de operações de onde, recentemente, já sob a presidência do actual inquilino da Casa Branca, acabaram por fugir, sem honra nem glória, com o rabo entre as pernas, permitindo o regresso ao poder daqueles que derrubaram vinte anos antes.
Mas Obama é igualmente responsável por ter afastado a Rússia da esfera ocidental, onde ela, logo após o desmoronamento da União Soviética, procurou integrar-se, tomando-a como inimiga e sujeitando-a a humilhações que nem durante o consulado soviético lhe foram impostas.
Ao contrário do estabelecido aquando da implosão do Pacto de Varsóvia, no qual se chegou a um acordo que estipulava a não expansão da OTAN para os territórios que haviam estado sob o domínio directo dos soviéticos, os EUA e a Europa atraíram para a organização de defesa militar quase todos os países que se haviam libertado do comunismo, fazendo, assim, letra morta do compromisso que prometeram honrar.
Biden, assim que chega à presidência segue precisamente o mesmo caminho daquele de quem fora vice-presidente, ordenando um despropositado bombardeamento da mais que flagelada terra síria e entranhando-se em conflitos constantes, e desnecessários, com o Kremlin, aproveitando todas as oportunidades para diabolizar os russos, em geral, e Putin, em particular.
Putin, que, obviamente, de santo não tem rigorosamente nada, já em 2008 deixara bem claro que não iria assistir passivamente ao alargamento da OTAN para as suas fronteiras, ao ordenar a invasão da Geórgia, substituindo o regime então vigente por um mais favorável às suas pretensões.
No fundo, aquela escalada militar russa pouco se distinguiu dos bombardeamentos executados pela OTAN na Sérvia, sob as ordens do também democrata Bill Clinton, no final do século XX, dos quais resultaram milhares de mortes civis e a destruição parcial daquele país igualmente soberano e independente.
De igual forma se revê na ocupação do Kosovo por tropas da OTAN, nesse mesmo ano de 2008, depois de terem forçado a secessão daquele território, berço da nacionalidade sérvia, impondo uma independência que ainda sem sequer foi reconhecida por mais de metade dos países das Nações Unidas.
Com a Ucrânia, estamos a assistir exactamente ao mesmo filme, com um grau de destruição parecido ao verificado em solo georgiano após a passagem das tropas russas.
O presidente norte-americano, secundado pelos seus aliados europeus, ignorou por completo os ensinamentos que deveria ter retirado do ataque de que foi vítima a Geórgia, lançando a toda a hora mais achas para a fogueira, não só ao incentivar os ucranianos a não desistirem da sua vontade de adesão à OTAN, prometendo-lhes todo um tipo de protecção que sabia bem não estar ao seu alcance fornecer, como também, e sobretudo, com sucessivas ameaças à Rússia, escudando-se a um diálogo construtivo e fundamental para o garante da paz.
Ou seja, Biden, em vez de conversar com Putin e procurar chegar a um acordo que, necessariamente, implicaria cedências de todas as partes envolvidas, preferiu desafiá-lo a invadir a Ucrânia, acenando-lhe com intimações irrisórias, porque excluiu de imediato a possibilidade do recurso ao uso da força.
Foi música para os ouvidos de Putin! Convenhamos que, ao longo das duas décadas em que se encontra ao leme dos destinos da Rússia, nunca se preocupou propriamente com o bem-estar económico e social do seu povo, tendo antes como único desígnio o de restaurar a outrora grandeza da Rússia Imperial.
As sanções que o mundo ocidental decretou a Putin em quase nada o beliscam, mas apenas e só às populações que tem à sua responsabilidade e a alguns oligarcas para os quais se está nas tintas.
E, naturalmente, aos próprios europeus, que serão, e já estão a ser, as principais vítimas das restrições à importação de bens energéticos vindos da Rússia, conforme o atestam os brutais aumentos dos combustíveis e do gás nos postos de abastecimento por essa Europa fora, com Portugal, para variar, a destacar-se pela desproporção dos preços praticados.
E aos norte-americanos, como não estão dependentes nem do petróleo nem do gás russo, as consequências nefastas destes embargos vão-lhes passar ao lado!
Antes de se envolverem no presente conflito armado, os russos colocaram em cima da mesa duas condições para retirarem as tropas que estavam estacionadas junto à fronteira com a Ucrânia, ambas liminarmente recusadas pela Casa Branca: a garantia de que aquele país não integraria a OTAN e o reconhecimento, por parte dos ucranianos, da soberania russa na Crimeia e nas repúblicas separatistas de Donbass.
A razão para os russos não permitirem armas mortíferas à porta de casa não diverge muito dos argumentos utilizados por Kennedy, nos anos sessenta do século passado, quando exigiu a Nikita Khrushchev a imediata retirada dos mísseis nucleares plantados em Cuba, a escassos sessenta quilómetros da costa norte-americana, braço de ferro que poderia, então, ter mergulhado o mundo num conflito nuclear.
A teimosia de Biden em não reconhecer aquelas condições como base de partida para um diálogo, agravada pelo facto de ter convencido o poder em Kiev a adoptar idêntica atitude, resultou, como bem sabemos, na invasão do solo ucraniano, com um rasto de morte e destruição que está a conduzir à miséria as martirizadas populações ali residentes.
Os EUA e a Europa, ao tomarem Putin como inimigo e atiçá-lo como a um cão raivoso, criaram um monstro. E esse monstro só vai parar quando tiver alcançado todos os objectivos a que se propôs. Caso não seja, entretanto, travado dos seus ímpetos bélicos, nessa altura pouco sobrará da Ucrânia para se juntar à União Europeia!
Putin soube aproveitar-se das fraquezas do mundo ocidental para se aventurar nesta cruzada.
Sabe ter em Washington um presidente inapto e na Europa uma sociedade a caminhar para o suicídio colectivo, que nos últimos anos se tem, na maior parte do tempo, entretido a brincar aos transgéneros e a entregar os cargos dirigentes de máxima importância a gente escolhida não pela sua aptidão para o exercício dessas funções, mas sim para o simples preenchimento de quotas, para além de estar demasiadamente absorvida no estudo das sanções a aplicar à Hungria e à Polónia, por estes países se recusarem a comprar a absurda ideologia do género.
Polónia e Hungria, ultimamente quase ostracizados pelos seus pares por não tolerarem ser invadidos por hordas desordeiras e desenraizadas do modo de vivência europeu, mas que foram agora, precisamente, os que mais abriram as suas fronteiras para acolherem os irmãos ucranianos fugidos da guerra.
A Ucrânia está a morrer. Mais lentamente do que Putin previa e desejava, e as culpas desta loucura devem ser repartidas entre todos os intervenientes, desde Washington a Moscovo, passando por Bruxelas, todos responsáveis por não terem estado à altura das expectativas daqueles que neles confiaram.
Não souberam, ou não quiseram, negociar. Preferiram actuar como incendiários e revelaram-se incapazes de se sentarem a uma mesa e conversarem, resolvendo os problemas através do diálogo e não da guerra.
E esta guerra poderia e deveria ter sido evitada. Volodymyr Zelensky, o actor de comédia catapultado para a presidência do seu país, para tomar o lugar dos políticos profissionais que se mostraram incapazes de o governar, tomou consciência de que estava a ser usado pelos seus supostos amigos ocidentais e manifestou a sua vontade de dialogar com Putin.
Num acto de coragem e de manifesta sensatez, e como último recurso para poupar o seu povo à continuidade das atrocidades a que está a ser subjugado, concordou em discutir a questão da soberania dos territórios pretendidos pela Rússia e, principalmente, desistiu da vontade da Ucrânia em aderir à OTAN.
Justamente as condições impostas por Putin para o fim da guerra, as mesmas que Biden se havia recusado a admitir em possíveis conversações com o Kremlin e que teriam impedido o banho de sangue a que estamos a assistir.
Trata-se de uma réstia de esperança, porque o imprevisível Putin pode agora subir a parada, consciente de que a aniquilação da vontade de resistência ucraniana é somente uma questão de tempo, aparecendo com novas e impraticáveis exigências, impossíveis de serem aceites pelo Estado vizinho.
Zelensky tem-se vindo a assumir como um verdadeiro estadista; forte, decidido, corajoso, determinado e abençoado por um patriotismo a que os europeus há muito deixaram de sentir.
Uma lição aos políticos frouxos que têm conduzido a Europa à sua completa decadência e um sinal de esperança de que também a ocidente seja possível mandar para casa todos quantos têm vivido exclusivamente da política e procurar-se na sociedade civil gente capaz, incorruptível e com sentido patriótico.
O presidente ucraniano tem provado ser o homem certo no lugar certo. Resta-lhe, agora, a ajuda de Deus para que todo este infortúnio chegue ao fim.