Quando Volodymyr Zelensky recebeu uma solicitação para deixar a Ucrânia nos primeiros dias da invasão russa, a sua resposta foi contundente: «Eu preciso de munição, não de transporte!», afirmou o presidente da Ucrânia num vídeo, acabando por se transformar no rosto da guerra que assola o seu país, tendo muitos a apelidarem-no de ‘herói’. Da mesma forma, Olena, sua esposa, juntamente com os dois filhos, e em apoio ao seu marido, que é considerado o alvo número um dos russos, decidiu ficar, corroborando a célebre frase de que «por trás de um homem está sempre uma grande mulher»: «Sou a Olena Zelenska, a mulher do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Casámo-nos em 2003. Em 2004 a nossa filha Oleksandra nasceu. Em 2013 o nosso filho Kyrylo nasceu. Sou escritora e arquiteta. E estou também sob uma ameaça de morte do Sr. Putin. Não vou entrar em pânico nem soltar lágrimas. Vou manter-me calma e confiante. Os meus filhos admiram-me e estarei lá por eles. E pelo meu marido e convosco», escreveu a primeira dama ucraniana nessa altura. E é isso que tem feito. Apesar do seu paradeiro ser mantido em segredo por óbvias razões de segurança, do seu ‘refúgio’, Zelenska tem aproveitado a sua influência nos media para promover a causa do seu país.
O percurso de Olena
Antiga guionista transformada em ativista pelos direitos das mulheres e crianças, a primeira-dama da Ucrânia tem 44 anos e nasceu em Kryvyi Rih, cidade no Sudeste do país. Segundo o The Independent, é arquiteta, escritora, autora e ativista. Estudou arquitetura na Faculdade de Engenharia da Universidade Nacional da Ucrânia, contudo optou por seguir a área das letras, trabalhando com o Studio Quarter 95 – uma produtora de televisão ucraniana – até o seu marido se ter tornado político. Após o acontecimento seguiu as pisadas do companheiro, tornando-se uma das 30 mulheres mais influentes do seu país com mais de dois milhões de seguidores no Instagram.
O casal nasceu no mesmo ano e cresceu na mesma cidade, mas os seus caminhos cruzaram-se apenas na universidade. Volodymyr era estudante de Direito, mas tal como Olena, direcionou o seu percurso para outra área: o humor. Em 2003, consumaram o seu amor através do matrimónio e, um ano depois, já morando em Kiev, a cerca de 400 quilómetros da terra natal, nasceu a primeira filha, Oleksandra, atualmente tem 17 anos. Anos mais tarde viria a nascer Kyrylo, agora com 9 anos. Nessa altura, os dois fundaram o Studio Kvartal 95, uma das principais produtoras de programas de entretenimento no país. Zelenska tornou-se então uma das principais guionistas dos projetos da própria produtora. Um dos trabalhos que mais se destacou foi a série ‘Servo do Povo’, onde o marido deu vida à personagem Vasil Holoborodko – um professor do secundário que lecionava História e que acabou por chegar a Presidente da Ucrânia graças a um vídeo viral em que surge a fazer um discurso contra a corrupção.
De guionista a primeira-dama
Zelensky candidatou-se à Presidência da Ucrânia em 2019, mesmo com o desconhecimento da esposa que ficou a par da informação por outrem. «Soube da candidatura dele pelos meios de comunicação social. Quando cheguei a casa, perguntei: ‘Então, não me contaste?’. Ele sorriu e disse-me: ‘Esqueci-me!’, lembrou Olena em entrevista à Vogue ucraniana.
Volodymyr Zelensky acabou por ganhar as eleições reunindo mais de 73% dos votos. E o par acabou por se tornar o casal mais jovem de sempre à frente do país – à época ambos tinham 41 anos. Apesar disso, a guionista revelou várias vezes preferir estar «atrás dos holofotes»: «Prefiro ficar nos bastidores, estou mais confortável na sombra, ao contrário do meu marido, sempre na frente. Não sou a vida da festa, não gosto de contar piadas». Mas nem essa «alergia» ao mediatismo a fez parar de lutar por aquilo que acredita. Um ano e meio após o começo de mandato do marido, conseguiu incluir a Ucrânia na Parceria de Biarritz, uma iniciativa internacional do G7 que tem como objetivo promover a igualdade de género. Teve também influência na alimentação das escolas, de forma a combater a obesidade e, durante a pandemia de covid-19, foi uma das vozes contra a violência doméstica. Entre as suas atividades, destacam-se ainda a defesa pelos direitos das mulheres e a promoção da língua ucraniana em todo o mundo.