A política de “zero casos” em Hong Kong parece estar a sofrer um aligeiramento, depois de ter sido anunciado o fim das restrições de voos a pelo menos nove países e a redução das quarentenas em hotéis, um conjunto de alívios que parecem indicar que o país está a preparar-se para abandonar estas restritas medidas de contenção.
A partir do dia 1 de abril, os residentes de Hong Kong com o esquema vacinal completo ou que tenham um teste de PCR negativo poderão viajar para países como Reino Unido, Austrália, Canadá, França, Índia, Nepal, Paquistão, Filipinas e Estados Unidos, ficando agora com as mesmas restrições dos turistas que chegam a Hong Kong: obrigatoriedade de uma quarentena de sete dias num hotel, uma redução de 14 dias ao que era anteriormente impostos.
A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, explicou que o fim das proibições de voos chega numa altura que estes nove países enfrentam uma situação que “não é pior” do que a de Hong Kong, disse Lam, esta segunda-feira, a jornalistas, reconhecendo a ansiedade que as restrições causaram a cidadãos de Hong Kong retidos no exterior.
As regras de distanciamento social serão flexibilizadas em três fases, a partir de 21 de abril. Nesta primeira fase, será ainda afetada o número de pessoas que se podem reunir em público ao mesmo tempo, a utilização de máscara em espaços fechados e a forma como empresas e locais de espetáculos funcionam. As escolas, entretanto, vão poder retomar as aulas presenciais, a partir de 19 de abril.
Contudo, a chefe do executivo de Hong Kong reforçou que estas medidas poderiam ainda ser alteradas. “As pessoas podem estar insensíveis aos números positivos da covid”, alertou, citada pelo Guardian. “Peço a toda a população que seja mais paciente com estas novas regras. Se o número de casos de covid-19 continuar a diminuir nas próximas quatro semanas, poderemos retomar a vida normal”, afirmou.
A epidemiologista da Universidade de Sydney, Alexandra Martiniuk, disse ao jornal inglês que estas novas políticas “parecem sinalizar o afastamento do plano ‘zero casos’”, apontando para como todos os países que enfrentaram vagas da variante Ómicron tiveram grandes dificuldades a controlar as infeções. “Apesar de manter as proteções da saúde pública, Hong Kong parece estar pronta para abandonar a ideia de ‘zero casos’”.
Apesar indicar um sinal positivo para o futuro do desenvolvimento de Hong Kong, especialistas indicam que as flexibilizações das regras de quarentena estão muito atrasadas em relação aos restantes países asiáticos. “Os alívios parecem confirmar a reabertura de Hong Kong, mas o ritmo a que vai acontecer ainda é uma incógnita”, disse o economista Gary Ng, ao Al Jazeera.
“Se Hong Kong não encontrar uma maneira de fechar a lacuna com outros concorrentes, o atual ritmo de reabertura pode não impedir a saída de talentos. A vantagem comparável mais importante de Hong Kong está nos seus fluxos livres de capital e pessoas. Sem isso, é certo que Hong Kong perde a sua competitividade”.
Em menos de três meses, Hong Kong registou quase um milhão de casos e 4 600 mortes, muitas entre idosos não vacinados. Segundo diferentes estimativas, metade dos 7,4 milhões de habitantes já foi infetada. O número de casos diários tem diminuído nos últimos dias, abaixo dos 20 mil.