O Banco de Portugal reviu em baixa a previsão de crescimento para este ano e para 2023, devido ao impacto da invasão russa na Ucrânia e o aumento da incerteza.
Feitas as contas, em vez dos 5,8%, o banco liderado por Mário Centeno prevê agora um aumento de 4,9% do produto interno brutal (PIB) este ano. No próximo ano, o ritmo da atividade económica deverá abrandar para 2%. No entanto, o Banco de Portugal garante que “a economia portuguesa mantém um perfil de crescimento em 2022-24”.
Já a inflação cresce este ano para os 4%, em reflexo da subida do preço das matérias-primas e dos constrangimentos nas cadeias de abastecimento globais, e reduz-se para 1,6% em 2023 e 2024.
O Banco de Portugal diz que a invasão russa na Ucrânia, “contribui para limitar o dinamismo económico e para intensificar as pressões inflacionistas”, acrescentado que “o impacto negativo sobre a atividade decorre do agravamento da subida dos preços das matérias-primas, da redução da confiança dos agentes económicos, da turbulência nos mercados financeiros e dos efeitos das sanções comerciais e financeiras impostas à Rússia”.
Feitas as contas, face a dezembro, a projeção para o crescimento do PIB é mais baixa em 0,9 pontos percentuais (pp) em 2022 e 0,2 pp em 2023, permanecendo inalterada em 2024. Justifica a entidade que “a revisão em 2022 reflete o menor crescimento no quarto trimestre de 2021 e indicadores mais fracos no primeiro trimestre, devido à quinta vaga da pandemia no final de 2021 e primeiras semanas de 2022 e ao conflito militar, a par da redução do poder de compra devido à inflação e às hipóteses externas menos favoráveis”.
Também a inflação foi revista em alta, em particular para este ano (2,2 pp), “refletindo os valores elevados recentes e a revisão em alta das hipóteses para o preço do petróleo e outras matérias-primas”.
Outros dados
O BdP diz que o crescimento do consumo privado “é sustentado pelo aumento do rendimento disponível e por condições financeiras favoráveis”. Em números, a taxa de poupança deverá reduzir-se para 7,3% este ano, permanecendo, no entanto, estável nos dois anos seguintes.
Já o investimento cresce 7,6%, em média, este ano e no próximo, “beneficiando do aumento dos recebimentos de fundos europeus, das perspetivas de recuperação da procura e da dissipação progressiva dos problemas nas cadeias de fornecimento globais”.
No que diz respeito às exportações, estas vão continuar “a conjugar a dinâmica favorável da procura externa de bens com a recuperação dos fluxos internacionais de turismo, assumindo-se efeitos limitados do conflito com a Ucrânia”. Assim, as exportações de serviços crescem 38,5% este ano, ultrapassando já no primeiro semestre os valores pré-pandémicos, embora nos anos seguintes se esperem “crescimentos mais moderados”.
Feitas as contas, a balança corrente e de capital apresenta um défice este ano – 0,4% do PIB – “refletindo a deterioração dos termos de troca. Mas nos dois anos seguintes deverá voltar a registar um excedente, “associado à recuperação do turismo e à maior entrada de fundos europeus”.
O banco liderado por Mário Centeno diz ainda que “continua a assistir-se a um aumento do emprego, mas a um ritmo progressivamente menor”. Em números, a taxa de desemprego deverá cair para 5,9% este ano “e de forma mais gradual nos anos seguintes”.
Mas há mais riscos. “Os riscos de repercussões mais significativas do conflito da Ucrânia com a imposição de sanções adicionais sobre a Rússia, novas subidas de preços das matérias-primas, maior disrupção das cadeias de valor global, uma amplificação da incerteza e das fricções financeiras” trazem mais riscos e “implicariam um menor crescimento da atividade económica e uma inflação mais elevada”.
Neste contexto, alerta o BdP, “as respostas de política económica nacionais e europeias são cruciais” para que se possa assegurar a manutenção de um crescimento sustentado”. E deixa o alerta ao país: “É importante que Portugal revele capacidade para absorver os recursos disponíveis do PRR e que estes se materializem num aumento permanente da capacidade produtiva”.
Além disso, recorda, “para convergir com a União Europeia, é também fundamental continuar a aumentar as qualificações da população e a produtividade”.