Com 40 mil tropas adicionais prestes a partir para o flanco leste da NATO, assegurando que há grupos de batalha a postos do Báltico ao Mar Negro, a aliança garantiu um grau de dissuasão contra uma incursão russa ao seu território. Mas na cimeira dos líderes da NATO, esta quinta-feira, a grande dúvida foi como conseguir travar a invasão da Ucrânia sem desencadear uma III Guerra Mundial. Tendo os apelos por uma zona de exclusão aérea – o que implicaria que pilotos da NATO abatessem aeronaves russas nos céus da Ucrânia – sido recusados, decidiu-se pelo apertar das sanções (ver texto ao lado) e o envio de armamento mais poderoso.
“Para salvar as nossas pessoas e as nossas cidades, a Ucrânia precisa de assistência militar sem restrições. Da mesma maneira que a Rússia está a usar o seu arsenal inteiro sem restrições contra nós”, declarou Volodymyr Zelensky, num discurso perante os representantes da NATO, citado pela France Press.
O Presidente ucraniano – cujas tropas têm recebido milhares de mísseis antitanque portáteis, com os quais têm emboscado e destruído sucessivas colunas de blindados russos – agora pede sobretudo sistemas de defesa antiaérea e antimíssil, plataformas de lançamento de foguetes, armas antinavio, bem como tanques e caças. “Podem dar-nos 1% de todos os vossos aviões. 1% dos vossos tanques”, implorou.
Contudo, até agora, os apelos de Zelensky ao envio armamento de mais alto nível têm caído em ouvidos moucos. A vizinha Polónia ainda quis oferecer a sua velha frota de MiG-29 – caças de fabrico russo, que pilotos ucranianos estão treinados a usar – à Ucrânia, pedindo aos EUA que os substituíssem com caças F-16. A Casa Branca não achou piada nenhuma ao plano, dado que implicava que as aeronaves voassem para a Alemanha e depois Ucrânia, arriscando ser abatidas no caminho com pilotos da NATO a bordo e escalar ainda mais a guerra.
Já a promessa do Presidente Joe Biden de enviar para a Ucrânia velhos sistemas de mísseis de longo alcance S-300, de fabrico soviético, virou pesadelo diplomático. Trata-se de armas cruciais para travar a ofensiva russa, que os ucranianos possuem e utilizam “para abater tanto aeronaves russas como mísseis”, explicou Frederick Kagan, analista do American Enterprise Institute, ao Financial Times. “Não há assim tantos sistemas no mundo que o consigam fazer de forma confiável”, avaliou.
O problema é que só três países na NATO possuem este equipamento, a Grécia, a Bulgária e a Eslováquia. Os dois primeiros recusaram-se entregá-los, por agora, não fosse a Rússia considerá-lo um ato de agressão e atacá-los, e a Eslováquia exige que os seus S-300 sejam substituídos por defesas aéreas adequadas. Como mísseis Patriot americanos, cujo preço está na ordem dos milhares de milhões de euros, que a Eslováquia não tem orçamento para comprar, e que a Casa Branca não se tem mostrado disposta a oferecer.
Nem sequer o envio de um grupo de batalha da NATO para a Eslováquia, que faz fronteira com a Ucrânia, parece ter feito este país sentir-se seguro o suficiente. Os restantes três grupos de batalha compostos pelas 40 mil tropas enviadas esta semana seguirão para a Húngria, Roménia – para onde irá no início de abril uma Companhia de Atiradores do Exército português, inicialmente composta por 174 militares – e Bulgária, somando-se aos quatro grupos de batalha que já estão na Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia.
Seja como for, a NATO reforçou as suas promessas de envio de armamento para a Ucrânia. “Não irei detalhar o tipo exato de sistemas que vamos colocar no terreno”, afirmou o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, que nesta cimeira teve o seu mandato prolongado por mais um ano. “O que posso dizer é que os aliados vão fazer o que puderem para apoiar a Ucrânia com armas”. No entanto, é improvável que esse equipamento inclua tanques ou caças, indicaram fontes na NATO ao Guardian, dado o receio dos Estados membros de retaliação russa, optando sobretudo por enviar sistemas defensivos.
Se estes chegarão a tempo de evitar que mais cidades ucranianas sejam varridas do mapa, como está a acontecer em Mariupol, é outra questão. “Estamos conscientes de que o relógio não para e que a Rússia está a intensificar os seus bombardeamentos e fogo de longo alcance sobre cidades e centros populacionais”, admitira o porta-voz do Pentágono, John Kirby, no início desta semana.