Constança Urbano de Sousa e as pressões na questão dos Sefarditas

A deputada do PS disse ter desistido de alterar a Lei da Nacionalidade por pressões internas.

Portugal amanheceu, na segunda-feira, com uma notícia que abalou as hostes internas do Partido Socialista. Constança Urbano de Sousa, deputada, vice-presidente da bancada do PS e antiga ministra da Administração Interna, revelou, em entrevista ao Público, que em 2020, aquando da sua tentativa de alterar a Lei da Nacionalidade que abrange os descendentes dos judeus sefarditas, acabou por desistir, fruto de uma forte onda de contestação. Disse também ter sofrido pressões de figuras do PS.

“Devido a pressões ao mais alto nível, acabei por recuar duas vezes. Primeiro, deixei cair a exigência de dois anos de residência, substituindo este requisito por uma qualquer conexão relevante a Portugal, que seria depois regulamentada, mas fui também obrigada a desistir desta proposta”, afirma, na entrevista, passando a listar os socialistas que exerceram pressão aquando desta tentativa de alteração da lei em questão. “Alguns dos chamados ‘senadores’ do PS, como Maria de Belém [autora da Lei da Nacionalidade de 2013], Vera Jardim, Manuel Alegre e Alberto Martins nunca falaram comigo, mas moveram nos órgãos de comunicação social, e provavelmente fora deles, mundos e fundos para evitar qualquer alteração a esta lei”, disse Constança Urbano de Sousa, que ironizou ainda: “Curiosamente, há pouco tempo, li no jornal Expresso declarações de alguns destes ‘históricos’ a abrirem a possibilidade a uma alteração legislativa”.

“Ou estamos no reino da hipocrisia ou não sei como explicar esta mudança profunda de opinião”, atacou ainda.

 

Alegre descola-se

Em reação às acusações da antiga ministra da Administração Interna, Manuel Alegre, histórico socialista, recusou ter exercido qualquer pressão sobre a deputada, garantindo ter apenas apenas expressado a sua opinião.

“Não sei o que é que ela quer dizer com forma de pressão. Ora, exprimir o nosso ponto de vista através de textos assinados coletivamente não é uma forma de pressão, é uma forma de exprimir uma opinião. E, aliás, quem é que seria pressionável ao mais alto nível? Quem é que ela pretende atingir?”, reagiu Manuel Alegre, em declarações à agência Lusa.

Manuel Alegre alega que nem o próprio nem os restantes socialistas fizeram pressão, limitando-se apenas a expressar o “ponto de vista em vários textos que foram publicados na imprensa, nomeadamente no jornal Público”.