Putin insiste no pagamento em rublos. Alemanha, França e Reino Unido não cedem à chantagem

O Presidente da Rússia assinou hoje um decreto que estipula que a compra do gás russo por países estrangeiros terá de ser em rublos, deixando de aceitar euros ou dólares. Alemanha e França consideram esta obrigação “uma chantagem”. 

Depois do aviso veio a confirmação. Como forma de contra-atacar as sanções europeias devido ao conflito militar na Ucrânia, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou, esta quinta-feira, um decreto que define que, a partir de amanhã, o gás russo tem de ser pago em rublos por parte de compradores estrangeiros, nomeadamente Alemanha e França. 

“Para comprarem gás natural russo, têm de abrir contas em rublos nos bancos da Rússia. Será através destas contas que os pagamentos serão feitos para que possa haver entregas de gás”, anunciou Putin numa declaração transmitida pela televisão russa, citada pela agência Reuters. 

Mas há um pormenor: as contas terão de ser abertas no Gazprombank, um banco comandado pelo Kremlin. E Putin deixou claro que se os compradores estrangeiros não cumprirem as regras, a Rússia considerá "existir incumprimento por parte dos compradores, com todas as consequências que daí advêm. Ninguém nos vende nada de graça e nós também não faremos caridade — por isso, [nesse caso] os contratos existentes serão travados”, vincou Putin.

Note-se que a Rússia fornece cerca de um terço de gás da Europa e até ao momento, as empresas e governos ocidentais rejeitavam a obrigação do pagamento em rublos como uma violação dos contratos em vigor, dado que são fixados em euros ou dólares. No entanto, esta mudança implica uma revisão dos contratos existentes, que não será fácil. 

Países como Alemanha, França e Reino Unido já reagiram à decisão de Putin. Tanto o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o ministro da Economia francês, Robert Habeck, consideram esta obrigação "inaceitável" e "uma chantagem", reiterando que não vão ceder à ameaça do Kremlin. 

Em conferência de imprensa, Robert Habeck assegurou que a Alemanha está pronta para qualquer cenário, um dos quais suspender a compra de gás à Rússia. "Pode haver uma situação em que amanhã, em circunstâncias muito específicas, não haja mais gás russo", apontou o ministro alemão. 

Por outro lado, parece que Putin deu um passo atrás naquela que foi a conversa telefónica, esta quarta-feira, com o chanceler alemão, onde terá sido garantido pelo Kremlin que os pagamentos podiam ser feitos em euros, desde que fosse enviados para o Gazprombank que os converteria em rublos. 

Já o Reino Unido disse que pagar o gás russo em rublos não é algo que o governo de Boris Johnson "procura fazer", disse o porta-voz do primeiro-ministro britânico, questionado se há alguma possibilidade de o Reino Unidos pagar naquela moeda. 

As sanções aplicadas à Rússia já provocou impacto na cotação do rublo. Logo a 24 de fevereiro, a sua cotação caíu para mínimos históricos. No início de março, por cada dólar eram precisos 150 rublos. Agora, são apenas necessários pouco mais de 80 rublos. No que diz respeito à moeda única europeia, se no início de março eram precisos mais de 146 rublos por cada euro, hoje são só precisos 92.