Se a moral das tropas russas está a quebrar, como assegurou um dos chefes das secretas britânicas, Jeremy Fleming, esta quinta-feira, o Kremlin ainda conta com a chegada de combatentes sírios, para injetar um novo ímpeto na sua ofensiva. A Rússia está a recrutar em grande na Síria, oferecendo até sete mil dólares mensais aos que aceitem avançar para a linha da frente na Ucrânia e uns 3,5 mil dólares aos que fiquem a guardar a retaguarda das forças russas, contou um destes jovens voluntários sírios à BBC.
“A Rússia não está disposta a perder os seus combatentes se pode encontrar pessoas que combaterão por dinheiro”, explicou. Os salários oferecidos pelo Kremlin são uma fortuna quando comparados aos pagos pelas forças armadas de Bashar al-Assad, tendo sido noticiado que podem estar a atrair até soldados de elite sírios. E que Assad o iria permitir, para saldar a sua profunda dívida com a Rússia, que ao intervir militarmente na guerra civil na Síria salvou o regime.
Se é verdade que o Kremlin tem à sua disposição 16 mil voluntários oriundos do Médio Oriente, como já se gabou, muito rapidamente poderá ter de os usar, dada a escala das perdas russas na Ucrânia. Algumas estimativas colocam-nas acima dos dez mil mortos nas primeiras semanas da guerra, quando as baixas da União Soviética durante toda anos de ocupação do Afeganistão andaram pelos 15 mil.
Tudo indica que muitos dos combatentes sírios podem ter anos de experiência de combate contra o Estado Islâmico. Trariam para a Ucrânia alguma brutalidade extra e grande proficiência no estilo de combate urbano em que o Kremlin tem evitado empenhar as suas forças – exceto em Mariupol, uma cidade estratégica, de que Vladimir Putin não pode mesmo abdicar, se que criar um corredor entre Donbasse e a Crimeia.
Já o jovem contactado pela BBC tem consciência que segue para a Ucrânia sobretudo como carne para canhão. “A minha família não quer que vá, é provável que uns 90% de nós morram”, relatou. Mas que o motiva é algo que o assusta ainda mais, a miséria.“A guerra na Ucrânia fez todos os preços subir, no combustível, água, comida, tudo”, lamentou.
Não é a primeira vez que o Kremlin recorre a mercenários sírios para travar as guerras onde não quer colocar os seus homens. Houve sírios enviados pela Rússia para combater na Líbia ou na República Centro-Africana, mas desta vez a escala não tem qualquer comparação, avançou a Foreign Policy.
Se nesses outros conflitos o recrutamento foi feito sobretudo pela Wagner, uma empresa de mercenários que faz o trabalho sujo do Kremlin, desta vez “é um processo formal, apoiado pelo Estado, que vai atrás de combatentes sírios leais e experientes”, noticiou a revista. “A seleção agora é focada em soldados sírios de elite, particularmente aqueles que lutaram em operações militares lideradas pelos russos no seu país”. E que estão habituados a invadir cidades enquanto bombardeamentos aéreos, mísseis e artilharia russa as desfazem.