Os geólogos que têm observado diariamente o registo sísmico da ilha de São Jorge, nos Açores, apanharam um susto na quarta-feira. Receavam que estivesse prestes ocorreu uma erupção, dado que a atividade sísmica se deslocou para menor profundidades, depois de um sismo mais forte na terça-feira à noite, podendo indicar a ascensão de magma. Mas «foi só um susto», afirmou José Madeira ao Nascer do SOL esta sexta-feira, soltando um riso aliviado.
«Houve aquele período logo após o sismo de magnitude 4, que causou uma perturbação do sistema. Mas entretanto houve uma certa diminuição da frequência dos sismos, que já voltaram à profundidade inicial, entre os 10 e os 13km», explicou o professor de Geologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e investigador do Instituto D. Luiz. Pelo meio, um reforço de uma centena de militares foi enviado para São Jorge, de maneira a responder a possíveis sismos ou erupções. Afinal, desde 19 de março já foram registados quase 25 mil sismos na ilha, 221 sentidos pela população, segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
A súbita acalmia dos últimos dias é um bom sinal, considera Madeira. «Estamos sempre dependentes da evolução da situação para perceber o que se está a passar», explica. «Parecia que a coisa ia começar a propagar-se para a superfície, mas foi falso alarme. Voltamos a estar perante três hipóteses». Ou seja, que a crise sísmica simplesmente passe, que haja um abalo mais forte, com estragos, ou que haja uma erupção. Dentro do último cenário, ainda há diferentes possibilidades: uma erupção terrestre ou marítima, a menor ou maior profundidade. Se for em mar alto, até podemos mal dar conta dela, a não ser por uma certa descoloração do mar ou blocos de basalto flutuantes que deem à costa. Mas se surgir a menos de 200 metros de profundidade, «aí o principal perigo é a grande produção de cinzas vulcânicas», anteviu Madeira ao i. É algo que «eventualmente pode justificar uma evacuação da zona mais próxima do centro eruptivo».
O pior mesmo é se a erupção for terrestre: «Se houver derrame lávico nas vertentes sobranceiras» a Velas, a situação será grave, pois «aí pode mesmo causar a destruição total desta», salientou o professor. Mais de 2.500 pessoas já saíram de Velas, sobretudo para a Calheta, do outro lado da ilha, que está menos em risco.