Governo por 4, 5 anos ou até 2024?

Quando se esperava um Governo constituído por ‘homens de combate’, tecnocratas com experiência da vida real fora dos partidos, temos um dos governos mais políticos de sempre…

Finalmente temos Governo! Tomou posse em 30/3/2022, quase cinco meses depois de em 4/11/2021, Marcelo ter anunciado a dissolução do Parlamento e quase quatro meses depois de Marcelo ter promulgado em 5/12/2021 a mesma dissolução e anunciado para 30/1/2022 as eleições legislativas. Inexplicáveis prazos que refletem luxos de um país adormecido…

De facto, alguém deu pela falta do Governo? Entre o desastre (pandémico) da covid (agora endemia) e a guerra (com efeitos deprimentes) na Ucrânia, este (longo) período passou como se nada acontecesse em Portugal. Primeiro, era a época natalícia, depois as festas do Ano Novo, a campanha (aparentemente) renhida de Costa com Rio e, por fim, a surpreendente maioria absoluta de Costa, largamente beneficiado pelos tais 14% de indecisos que na última da hora não hesitaram a meter a cruzinha no PS, deixando a oposição (à esquerda e à direita) silenciada desde as eleições!

Assim, tranquilamente chegámos à tomada de posse, marcada pelo discurso contundente de Marcelo que não se esqueceu de ter sabido da composição do Governo pela Comunicação Social e decidiu ‘entalar’ Costa e quaisquer veleidades que tivesse para tentar a Presidência do Conselho Europeu em 2024, substituindo Charles Michel, ao inferir que irá convocar eleições antecipadas se Costa quiser imitar Durão Barroso. Estando todos com os rostos cobertos pelas máscaras, tenho a certeza de que Pedro Nuno Santos foi o único a sorrir naquele momento…
«Habemos» Governo! Um Governo de maioria absoluta do PS, num conturbado momento internacional, entre a guerra da Ucrânia, os preços a subirem (inflação em 5,3%) com sérios riscos de tensões sociais, o BCE a anunciar reduções na compra da dívida dos países e Portugal a descer posições nos rankings europeus do ‘PIB per capita’! Ou seja, quando se esperava (e precisava) um Governo que estando suportado por uma maioria absoluta que permitisse fazer as reformas absolutamente necessárias, constituído por ‘homens de combate’, tecnocratas com experiência da vida real fora dos partidos e gabinetes ministeriais, temos um dos governos mais políticos de sempre… 

Medina, é o exemplo maior pela pasta que assume! Número 2 de Costa (como o foi na C. M. Lisboa), as Finanças deixarão de ter um Leão a controlar ferreamente a despesa para termos um ‘político’ que pode ser surpreendido na sua boa vontade de agradar a Costa. Nos Negócios Estrangeiros, deixaremos de ter um Homem internacionalmente reconhecido como Santos Silva e, em vez de ser nomeado um Embaixador bem familiarizado com os meandros, ficámos com Gomes Cravinho que muito terá de palmilhar para conseguir ter a mesma auréola que o antecessor.
Temido, apesar da gestão periclitante e errática da pandemia e do estado calamitoso do SNS, colhe os louros da mediatização permanente, promovida por uma comunicação extremamente eficaz que rotulou a sua ação como ‘de excelência’. A pasta da Educação, fundamental para o futuro de qualquer país, muda para João Costa que poucos conhecem e de quem espero que não se deixe tolher por facilitismos que podem melhorar conjunturalmente as estatísticas, mas que ‘enterram’ literalmente o país a prazo. Na Administração Interna, uma pessoa da máxima confiança de Costa, José Luís Carneiro, que, confio, seja um dinamizador das políticas de segurança e um fiel defensor do prestígio das polícias.

Na Economia e no Mar, Costa e Silva, um Homem com experiência, fautor de um PRR profundamente estatal dadas as suas convicções ideológicas, não parece ter o perfil que dinamize uma economia que precisa de investimento internacional. Na Justiça, Catarina Sarmento e Castro, desconhecida do grande público, mas conhecedora dos problemas que minam do setor como juíza do Tribunal Constitucional e bastaria isso para ser merecedora de todo o crédito. Duarte Cordeiro, no Ambiente, é uma ‘estrela ascendente’ com todo o mérito de ter coordenado as eleições socialistas e não lhe será nada difícil fazer melhor do que o antecessor. 

Na Agricultura, a continuidade de uma Ministra (Maria do Céu Antunes) que se tivesse saído não deixaria saudades. Na Cultura, Adão e Silva, que transita de um cargo que lhe traria prestígio pela ligação eterna aos 50 anos do 25 de abril por um lugar cheio de “espinhos”. Helena Carreiras, na Defesa, tem um passado ligado à matéria que sobejamente a credencia, assim demonstre a competência para liderar militares que são líderes. Ana Abrunhosa, (Coesão Territorial), pessoa de elevada categoria pessoal, mereceria uma pasta mais de acordo com as suas reais capacidades.

Pedro Nuno Santos, fica onde estava (Infraestruturas e Habitação), com palco para ‘brilhar’, mas com o risco de se ‘enterrar’, porque alguns dos dossiers que transitam (TAP, CP, etc.) irão ter o seu juízo final. Ana Mendes Godinho, continua numa pasta (Trabalho, Solidariedade e Segurança Social) que hoje domina bem, depois de muitas hesitações iniciais que a obrigaram a longa ‘curva de aprendizagem’. Elvira Fortunato (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) tem um crédito imenso, resultante de um percurso brilhante e espero que seja uma “estrela” que a área bem necessita.

Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes têm pastas de coordenação e, com isso, um papel fundamental no Governo. Capacidade não lhes falta para este tipo de funções. Sobra António Costa, político por excelência e merecedor da confiança da maioria dos portugueses, como Marcelo bem referiu ao ‘amarrá-lo’ ao poder por 4,5 anos. Será assim ou em 2024 teremos eleições?

P.S. – Do que será que Rio está à espera para sair? Será ainda sonha em se ‘arrastar’ até 2024 a ver se consegue ir a eleições se Costa sair? O PSD precisa de liderar a oposição e a sua persistente teimosia em continuar só favorece a IL e o Chega para se afirmarem como alternativa!

P.S. 2. –O cargo de vice-presidente da Assembleia da República representa realmente muito pouco, mas este processo eleitoral que “chumbou” deputados eleitos será negativamente recordado por largos anos e será bandeira dos que não se revêm na democracia.