“Isto é genocídio. A eliminação de toda a nação e do povo”. As duras palavras saíram este domingo da boca de Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, num dia em que os ataques russos continuaram e atingiram Odessa. Em entrevista ao programa Face the Nation, da CBS, o presidente ucraniano foi ainda mais longe: “Somos cidadãos da Ucrânia. Temos mais de 100 nacionalidades. Trata-se da destruição e extermínio de todas essas nacionalidades”.
As palavras surgem poucas horas depois de uma descoberta macabra em Bucha, reconquistada pelo exército ucraniano, onde foram descobertos centenas de corpos foram enterrados em valas, com cadáveres deixados na rua de mãos atadas. A cidade estava sob domínio russo e apenas há poucos dias as tropas ucranianas conseguiram entrar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, denunciou este domingo um “massacre deliberado” na cidade. “O massacre de Bucha foi deliberado. Os russos querem eliminar o maior número possível de ucranianos. Devemos prendê-los e expulsá-los. Exijo novas sanções devastadoras do G7 agora”, publicou o ministro no Twitter.
Também o assessor da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, usou as redes sociais para descrever o horror encontrado. “Região de Kiev. Inferno no século 21. Os corpos de homens e mulheres que foram mortos com as mãos amarradas. Os piores crimes do nazismo estão de volta à Europa. Isso foi feito deliberadamente pela Rússia”, escreveu, comparando Bucha ao massacre de Srebrenica na Bósnia em 1995. E deixou críticas ao Ocidente de tentar “não provocar os russos” para evitar uma Terceira Guerra Mundial.
“Como resultado, o mundo viu um horror indescritível de desumanidade em Bucha, Irpin, Hostomel. Centenas, milhares de pessoas mortas, dilaceradas, violadas, amarradas, violadas novamente e mortas novamente”, acrescentou Podoliak.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, mostrou-se “chocado” com as imagens. E deixou a promessa: “A União Europeia (UE) está a ajudar a Ucrânia e as ONG [organizações não-governamentais] a reunir as provas necessárias para os procedimentos perante os tribunais internacionais”.
O presidente francês, Emmanuel Macron disse que as autoridades russas “devem responder por estes crimes” e a ministra britânica dos negócios Estrangeiros, Liz Truss, exigiu a realização de um “inquérito por crimes de guerra”.
Depois das várias críticas vindas não só da Ucrânia como de outras partes do mundo, a Rússia decidiu reagir, ‘lavando as mãos’ da situação em Bucha. “O Ministério da Defesa russo refuta as acusações do regime de Kiev sobre o alegado assassinato de civis na cidade de Busha, região de Kiev”, disseram os militares no Telegram. E garantiram: “Todas as fotografias e todos os vídeos publicados pelo regime de Kiev, que alegadamente atestam algum tipo de “crime” por militares russos na cidade de Busha, são outra provocação”.
Refinaria em Odessa destruída Ao 39.º dia de guerra, a cidade de Odessa acordou este domingo sob um manto de fumo devido a três explosões que, apesar de não terem causado vítimas, destruíram por completo uma refinaria, deixando os tanques de combustível em chamas.
Recorde-se que Odessa é uma cidade com uma grande importância estratégica uma vez que tem o maior porto do país e dá acesso ao Mar Negro para o resto da Ucrânia.
Pouco depois, a Rússia assumiu o ataque. “Esta manhã, uma refinaria e três depósitos de combustível na região de Odessa, que abasteciam as tropas ucranianas na direção de Mikolaiv, foram destruídos por mísseis navais e terrestres de alta precisão”, disse o porta-voz da entidade militar, Igor Konashenkov.
Autarca e cineasta mortos Ainda este domingo, soube-se que a autarca ucraniana que tinha sido raptada foi encontrada morta. “Notícias tristes. A autarca da cidade de Motyzhyn, Olha Sukhenko, o seu marido Ihor Sukhenko e o filho Oleksandr Sukhenko, que foram feitos reféns pelos russos há 10 dias, foram encontrados sem vida”, anunciou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.
Quem também morreu às mãos do exército russo foi o cineasta lituano Mantas Kvedaravicius, de 45 anos, ao tentar sair de Mariupol, cidade cercada pelas forças russas. A morte foi confirmada pelo Ministério da Defesa ucraniano mas tinha sido anunciada pelo cineasta russo Vitali Manski nas redes sociais. “Ele foi morto hoje em Mariupol, com a câmara na mão, nesta guerra de merda do mal contra todo o mundo” escreveu Manski no Facebook.
O Ministério das Relações Externas da Lituânia também se pronunciou sobre esta morte. “Mataram-no em Mariupol, onde documentava as atrocidades da guerra da Rússia. O seu filme anterior, Mariupolis (2016), relatava a história de uma cidade cercada com uma grande vontade de viver”, escreveu o Governo.
Polónia disponível para receber armas nucleares Numa altura em que a guerra parece não ter fim, a Polónia disse estar disponível para acolher armas nucleares americanas. “Faria sentido ampliar a presença nuclear no flanco leste [da NATO – Organização do Tratado Atlântico Norte]”, defendeu o vice-primeiro-ministro polaco Jaroslaw Kaczynski, acrescentando que essa iniciativa tem que partir dos EUA.
O governante defendeu ainda a necessidade de aumentar a presença de tropas americanas na Europa de 100 mil para 150 mil efetivos. “Os soldados da potência nuclear americana são o fator mais forte na hora de prevenir que a Rússia ataque países da NATO e aquele que nos proporciona uma maior segurança”, disse.