A corrida à entrega das declarações de IRS prova, uma vez mais, que este é o verdadeiro Coelhinho da Páscoa, independentemente da religião. Apesar da tradição que envolve o mamífero não ter apenas uma origem, foi saltando de país para país, até conquistar inúmeras prateleiras de supermercados. Dada a descrição, por instantes quase dá a sensação de que poderíamos estar a falar de um qualquer vírus, o que seria injusto para o próprio bicho. O bicho com pelo, não vá haver confusões depois de tanto tempo a designar a covid com o mesmo substantivo. Chegados ao mês da liberdade, a verdade é que a sensação é cada vez mais semelhante àquela que um conjunto de coelhos deverá sentir quando saltita por prados verdejantes. Nem que seja pelo facto de outros vírus voltarem a ganhar força – e parece consensual a preocupação ser aparentemente menor com velhos conhecidos, mesmo que os sintomas se revelem iguais ou, nalguns casos, até piores. Ainda assim, dado o isolamento obrigatório, há quem continue a entrar na farmácia com a esperança de encontrar algo de positivo na vida. O que não deixa de mostrar que, entre os desejos pedidos há cerca de três meses e o dia de hoje, as metas para este ano terão em algum momento fracassado.
Haverá sempre a possibilidade de se estar à procura de mais uns dias de férias neste mês de abril, contando com a chuva como companhia, ainda que nas previsões esta esteja longe de alcançar os quatro dígitos presentes no ditado popular. E, segundo a mesma perspetiva, mais vale estar agora de cama – ou de sofá – com uma manta e uma bebida quente do que quando estiverem 40 graus lá fora. Se o mesmo número fosse exibido no termómetro talvez o caso mudasse de figura.
Entretanto, o melhor é ir comprando as amêndoas, os ovinhos ou o coelho, antes que já não haja hipótese, seja por um motivo ou por outro: se não for pela proibição de sair de casa, é porque, quando se dá por ela, o dinheiro não só voa como também salta.