Entre os crimes de guerra mais cometidos, podemos considerar que são todos perturbadores, no entanto, um daqueles que sempre foram considerados mais chocantes é o abuso sexual. Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, muitos têm sido os casos de abuso sexual relatados pelos órgãos de informação internacionais. No entanto, por circularem imagens dos crimes perpetrados pelo soldado russo Alexei Bychkov, que foi detido na Rússia, no sábado passado, este tem sido um dos nomes mais mencionados tanto nos media como nas redes sociais.
O jovem de 24 anos gravou-se a violar uma bebé ucraniana de apenas um ano. Os internautas que tiveram acesso ao mesmo, antes de ser censurado, explicam, no Twitter, que nos primeiros minutos do vídeo aterrorizador, o soldado passa uma escova de um rímel entre as nádegas da criança e lambe-o de seguida. “Este monstro devia ser morto” ou “Deviam fazer-lhe o mesmo!” são alguns dos comentários.
O alegado criminoso acabou por ser detido após ter enviado o vídeo a um amigo, sendo que este o denunciou às autoridades russas. Sabe-se que o mesmo ainda não parou de surgir em inúmeros grupos na plataforma Telegram onde os utilizadores, assustados, não acreditam que Bychkov possa ter dito que estava a gravar “um vídeo feroz” antes de agredir a menina.
Por não se saber exatamente quando e onde a filmagem foi captada, há quem diga que a mesma serve para que “as pessoas continuem a cair na armadilha da propaganda política”. Certo é que o russo está sob custódia das autoridades do país de origem e o seu bilhete de identidade está a ser partilhado constantemente online, sabendo-se também a sua morada. “Aqui está o endereço dele. Vão lá, destruam-no!”, apelou aos seguidores um jovem ucraniano, também no Twitter, recebendo o apoio de centenas de pessoas que esperam que o militar da unidade número 64044, sita em Pskov, no noroeste da Rússia, seja devidamente punido.
“Ninguém, em nenhum país, pode ser cúmplice deste terror”
Este não é um caso isolado. Lyudmila Denisova, comissária de direitos humanos no Parlamento ucraniano, alegou no sábado que a tropa russa havia violado várias crianças. Num comunicado veiculado no Telegram, indicou que uma menina de 14 anos, de Bucha, foi abusada sexualmente por cinco soldados e ficou grávida. Por outro lado, um menino de 11 anos, da mesma cidade, também terá sido violado enquanto a mãe, que havia sido amarrada a uma cadeira, foi forçada a assistir a tudo.
A ombudswoman acrescentou que três soldados também violaram uma mulher de 20 anos em Irpin, enquanto, na sexta-feira, partilhara que uma menina de 16 anos e a sua avó de 78 tinham sofrido o mesmo numa vila na região de Kherson. “Não há lugar na Terra ou no inferno onde criminosos racistas possam esconder-se do castigo”, disse Denisova, pedindo a todas as vítimas que denunciem os casos de violência sexual dos quais são alvo, pois os soldados que os cometem “devem assumir a mais estrita responsabilidade”.
Três dias antes, há exatamente uma semana, denunciara aquilo que havia acontecido a uma mulher de Kharkiv, que agora está em recuperação. “Na região de Kharkiv, os ocupantes russos violaram uma mulher de 29 anos que cuidava da sua mãe acamada”. “A mulher sofreu repetidamente violência sexual, mas não conseguiu chegar às autoridades”, redigiu, escrevendo que um dos soldados se ofereceu para ficar com ela, “falou-lhe de amor” e prometeu enviá-la “para longe da guerra”.
Mas a jovem recusou, insistiu que não deixaria a mãe sozinha, e o soldado acabou por matar a mulher em frente à filha. Quem tem vindo a falar repetidamente deste tema, alertando o mundo para os crimes de guerra, é a deputada ucraniana Maria Mezentseva. “Há um caso que foi amplamente discutido recentemente porque foi registado, e não vamos entrar em detalhes, mas é uma cena bastante assustadora quando um civil é morto a tiros em sua casa na pequena cidade ao lado de Kiev. A esposa dele foi – sinto muito, mas tenho de dizer – violada várias vezes em frente ao seu filho menor de idade”, referiu, em declarações à Sky News, no final de março, frisando o seu posicionamento ao i.
“Não ficaremos em silêncio. Há muito mais vítimas. E, claro, esperamos muitas mais, sendo que os casos tornar-se-ão públicos assim que as vítimas estiverem prontas para falar sobre aquilo que lhes aconteceu”, explica, realçando que, sempre que conversa, juntamente com os colegas, com dirigentes políticos, como Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, levanta questões como esta. “As consequências, com as quais estamos a lidar agora, o rescaldo da guerra, devem ser levadas com muita cautela, muito a sério, e tendo em conta a experiência do Reino Unido e a experiência de outros países, que podem ajudar-nos a chegar até psicólogos que nos podem ajudar a perceber como podemos dar a mão a estas pessoas para que possam voltar a viver”, sublinha, respondendo assertivamente quando questionada acerca dos últimos casos de abuso sexual que foram noticiados.
“Temos relatos de mulheres que são violadas por grupos. Essas mulheres geralmente são as que não conseguem sair do país, como idosas. A maioria dessas mulheres foi executada após o crime de violação ou suicidou-se. Isto é extremamente grave. Ninguém, em nenhum país, pode ser cúmplice deste terror”, finaliza a dirigente da comissão parlamentar ucraniana no Conselho da Europa.
Até agora, a ONU confirmou a morte de 1 842 civis na guerra da Ucrânia entre 24 de fevereiro e o final de domingo, num balanço que incluiu 148 crianças. No relatório diário sobre baixas civis, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabilizou também 2 493 civis feridos, dos quais 233 são crianças.