Andou bem o Presidente da República ao reconhecer, inequivocamente, que o 25 de Novembro é inseparável das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril.
Há muito que a extrema esquerda, do PCP e do Bloco ~– em aliança espúria com alguns setores do PS mais à esquerda -–procura apagar o 25 de Novembro, montando um verdadeiro ‘cerco sanitário’ à data em que os comunistas foram derrotados, em 1975, pelas forças moderadas, que impediram que Portugal se transformasse numa Cuba na Europa.
Por isso, para os comunistas, é uma ‘data maldita’, cuja celebração se esforçam por impedir na prática.
Mal andará, no entanto, o Presidente da República se persistir no seu alegado intuito de condecorar, com a Ordem da Liberdade, quem nunca a justificou, como foram os casos de Vasco Gonçalves ou de Rosa Coutinho.
O ‘companheiro Vasco’, como ficou conhecido, pretendeu a todo o custo colocar Portugal na órbita soviética. Não conseguiu. Em contrapartida, o ‘almirante vermelho’ não falhou esse objetivo em Angola, que, até hoje, vive num simulacro de democracia.
E se é verdade que «a memória não prescreve», como invocou Marcelo Rebelo de Sousa a propósito de Abril, é exatamente por isso que não se podem esquecer os atos daqueles que aviltaram os mais generosos ideais da ‘revolução dos cravos’.
A hostilidade dos comunistas ao 25 de Novembro ilustra, eloquentemente, a sua oposição às liberdades, então restituídas aos portugueses. Foi a refundação da democracia.
Inconformados com a ‘mordaça’ das esquerdas, formou-se, em 2015, uma comissão integrada por civis e militares, desde António Barreto ao general Vasco Rocha Vieira, que chamou a si a organização de um ciclo de conferências comemorativas dos 40 anos do 25 de Novembro, a qual esbarrou na apatia da maioria dos media, em cujas redações vicejam influências militantes do PCP e do BE.
Sem falsos preconceitos, há que libertar a História dos bloqueios que os comunistas, estalinistas e trotskistas, criaram em redor do 25 de Novembro, arvorados em ‘donos’ do 25 de Abril.
Por isso, condecorar todos os militares, sem olhar a quem, só porque figuram na lista de Vasco Lourenço – ou para contrabalançar nomes polémicos dessa lista – arrisca-se a ser uma ideia peregrina.
Dizer que o 25 de Novembro é uma data que ‘divide’ os portugueses, como fez Pedro Adão e Silva – o ex-comissário nomeado para as comemorações do cinquentenário –, é um falso argumento, útil para quem chegou a ministro da Cultura sem que se lhe conheçam os méritos para tanto.
Mas o novo ministro vai mais longe no seu desfasamento da realidade, quando afirma que «se queremos fazer destas comemorações um momento de falar para os jovens, teremos sempre muita dificuldade em falar do 25 de novembro. É um tema muito importante para os jornalistas, para os comentadores e para alguns políticos, mas diz pouco à sociedade portuguesa». É preciso topete!
Pedro Adão e Silva (de quem André Freire, catedrático do ISCTE – a escola de ambos – apontou, frontal, que «não é um professor universitário de prestígio», porque tem «um perfil académico fraco»…), nasceu com o 25 de Abril e nunca sentiu necessidade, como outros jovens da sua geração, de perceber a importância do 25 de Novembro, ao qual devem, afinal, o terem crescido sempre em liberdade.
Pressente-se, até, um certo ‘analfabetismo político’ geracional, relativizando o ato de ter sido graças à coragem de um grupo de militares em 25 de Novembro – com Ramalho Eanes à cabeça –, e ao desassombro de Mário Soares, que se restabeleceu a democracia, impedindo que vingassem os planos comunistas.
A Ordem da Liberdade não pode servir para branquear as ações daqueles que tudo fizeram para implementar outro regime autocrático, abrindo um fosso entre democratas e não democratas.
Se por ingenuidade política ou vistas curtas, ainda sobrarem dúvidas a alguns, bastará lembrar a recusa do PCP em condenar a invasão russa da Ucrânia, com o seu cortejo de horrores.
Mesmo com Putin, a fidelidade do PCP a Moscovo mantém-se intacta, quando não se pode ser indiferente, nem aceitar com um encolher de ombros, o regresso da guerra à Europa.
Noutros tempos, fez carreira o ‘nacional porreirismo’, uma expressão peculiar, à qual Marcelo-comentador imprimiu um cunho próprio.
Mas as Ordens Honorificas não podem constituir um meio para dar lustro, em vida ou a título póstumo, a quem não se distinguiu por «méritos pessoais, feitos militares ou cívicos, por atos excecionais ou serviços relevantes prestados ao país», conforme consta da página oficial do Grão-Mestre.
Em 25 de Abril ou em 25 de Novembro não se homenageia quem nunca desejou a democracia ou, simplesmente, quis bani-la. Celebra-se a liberdade. E esta não admite batota, nem é uma plasticina moldável à vontade do freguês…