Emmanuel Macron e Marine Le Pen já estão a preparar a segunda volta das eleições francesas, que irá decorrer no dia 24 de abril. O primeiro a dar cartas foi o atual Presidente, que indicou que poderia alterar a controversa proposta para subir a idade de reforma em três anos, para os 65, um dos motivos que explicam a sua descida de popularidade.
Um assunto sensível na sociedade francesa, que gerou greves a nível nacional, em 2019, quando o Governo pretendia alterar o sistema de pensões e aumentar a idade da reforma, a implementação de reformas durante os primeiros cinco anos da sua presidência foram um pilar da campanha de reeleição de Macron, que conseguiu 28% dos votos na primeira ronda. Contudo, enquanto se prepara para voltar a enfrentar a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, que conquistou 23% dos votos, num «combate» político que promete ser renhido, o Presidente está a começar a «aligeirar» as suas propostas.
«Estou pronto para alterar a linha temporal e reforço que não precisamos necessariamente de colocar esta reforma em prática até 2030 se isso preocupar as pessoas», disse Macron durante uma visita ao norte de França, citado pelo Guardian, acrescentando que estaria disposto a alterar a idade oficial da reforma para os 64 anos, em oposição dos 65 anos propostos inicialmente. «Abrirei esta porta se isso significar um consenso», revelou.
A idade atual de reforma é de 62 anos. Macron defende que, uma vez que esperança de vida aumentou, o sistema de pensões da França, que depende dos trabalhadores que pagam diretamente por aqueles que já terminaram a sua carreira, não pode ser equilibrado financeiramente sem o aumento da idade de reforma.
A proposta original previa o aumento desta a um ritmo de quatro meses a cada ano, até atingir os 65 anos até 2032.
Em resposta a esta possível mudança de opinião de Macron, a candidata de extrema-direita criticou aquilo que considera ser uma «manobra» do seu rival.
«Não confio nada em Macron, nada, e muito menos a 10 dias da segunda volta das eleições», disse Le Pen à rádio France Inter, acusando o Presidente de tentar atrair eleitores de esquerda com esta mudança de posição.
Le Pen disse que manterá a idade da reforma da França nos 60 anos, mas só para os franceses que têm uma carreira completa e começaram a trabalhar entre os 17 e os 20 anos. «Não há nada a esperar de Emmanuel Macron […]. Vai até o fim em sua obsessão, pois a idade de aposentadoria de 65 anos é sua obsessão, só fala sobre isto», acrescentou Le Pen, que na primeira volta se apresentou como a defensora das classes populares.
Macron e Le Pen disputam o eleitorado de esquerda que tinha sido conquistado na primeira volta das eleições por Jean-Luc Mélenchon, candidato da esquerda radical, que ficou em terceiro lugar com 20% dos votos.
Numa primeira reação, Mélenchon pediu aos seus eleitores para não votarem em Le Pen: «Sabemos em quem vamos votar. Não podemos dar o nosso voto a Le Pen», afirmou imediatamente após ser anunciado o resultado das eleições, apesar de também não ter sido frontal no seu apoio a Macron, como foi o caso de Valérie Pécresse, candidata do partido de direita conservadora, Os Republicanos, com 5% dos votos.
Muitos eleitores de esquerda, não se sentindo representados pelo candidato de centro-direita e de extrema-direita, revelaram que não vão votar na segunda ronda das eleições.
O descontentamento com os resultados eleitorais gerou protestos, tendo alguns assumido contornos mais violentos, como em Lyon e Rennes.