Sobre pilhas

Quando fazemos algo que gostamos, que tem significado para nós, que tem uma razão de ser, sem qualquer esforço complementar aproveitamos o processo, apreciamos a viagem e divertimo-nos

Não se contam pelos dedos os fatores de restrição da nossa liberdade. Seja ela interna ou externa, física ou psicológica, qualquer restrição limita a capacidade para ser, fazer e estar mais, na proporção da ambição do indivíduo que a carrega.

Preocupa-me que, na observação e estudo da circunstância que me rodeia, conclua que a maior de todas seja autoimposta e nada favorável: a opinião de terceiros.

Seja a sua origem uma autoestima em construção, confiança reduzida ou qualquer outra condição, a desmedida valorização e influência dos juízos de valor de terceiros aprisionam os jovens e as demais faixas etárias. Em tal situação, é difícil o leitor não sentir que não é o protagonista da sua bonita história, que não é o realizador do filme que é a sua vida, e que, faça o que fizer, o seu presente e futuro está nas mãos de terceiros ou, talvez pior, deixado ao acaso. 

O leitor tem, entre outras coisas, uma ‘pilha’ a que costuma chamar ‘Motivação’. Todos os dias, durante a noite, recarrega tanto quanto possível para que durante o dia possa usufruir dela. No que diz respeito aos seus meandros, essa pilha que referi despende energia com as atividades que, por estímulo psicológico, nos desgastam e cansam. São essas atividades todas aquelas que não queremos ou gostamos. Outra característica interessante é o seu caráter recarregável: da mesma forma que uma ação ou decisão que não gostamos nos desgasta, outra que gostamos não só não consume dessa reserva como a aumenta.

Agora sim, é percetível as amarras existentes: o leitor tem uma energia naturalmente finita, cuja alocação é distribuída (potencialmente) para aspetos que terceiros comandam, e acaba esgotado, sem controlo e sem resultados. Vamos corrigir isso agora.

O primeiro passo é a libertação da opinião dos demais. A vida é sua e a única pessoa disponível para o leitor ser é o próprio, dado que todas as restantes pessoas já estão ‘ocupadas’. Nada de realmente bom advém de deixar nas mãos de terceiros o rumo da nossa vida. O proveito resulta, por pouco que se consiga, de viver a vida com os nossos termos, e nunca o oposto. É certo que nada disto implica fecharmo-nos numa bolha, longe do mundo e não interagir e absorver informação do meio. Trata-se apenas de, após toda essa ‘recolha’, não nos desviarmos do alvo por medo da incerteza, do desconhecido, ou da desaprovação e aceitação. Seguir a opinião de terceiros não o fará feliz.

Agora liberto das amarras opinativas e de julgamento, o leitor pode controlar (tanto quanto possível) o rumo da sua história: a definição dos seus sonhos e dos seus objetivos. Quando fazemos algo que gostamos, que tem significado para nós, que tem uma razão de ser, sem qualquer esforço complementar aproveitamos o processo, apreciamos a viagem e divertimo-nos. A grande vantagem de se gostar daquilo que se fazer é que, por mais duro ou demorado que seja o caminho, o indivíduo continua saudável e motivado para o percorrer, razão pela qual é mais fácil conseguir-se o que é difícil, mas nos motiva, do que aquilo que é fácil, mas nos desgasta.

O leitor tem os sonhos ou objetivos e comanda. Munido da consciência de si e das razões pelas quais vive, tem a pilha que o mantém caminhando. A escolha está agora nas suas mãos.