A invasão russa pode ter desviado por momentos a atenção do público britânico, mas o escândalo do “partygate” continua a causar alvoroço. E os deputados britânico vão votar na quinta-feira se o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, deve ser alvo de uma investigação parlamentar, após ser multado pela polícia londrina devido às regras de confinamento que o seu próprio Governo impôs.
A proposta de votação partiu do Partido Trabalhista, com apoio até de deputados conservadores, sendo aceite pelo presidente do Parlamento, Lindsay Hoyle, esta terça-feira. Johnson ainda tentou pedir desculpa mais uma vez, mas não foi convincente o suficiente.
“Não me ocorreu então, ou subsequentemente, que um encontro na sala do Executivo, antes de uma reunião crucial sobre a estratégia face à covid-19, pudesse ser uma violação das regras”, justificou-se Johnson.
A ideia de que o primeiro-ministro não tivesse perfeita noção das regras que impôs ao país não pareceu particularmente reconfortante. Sendo que, para muitos dos detratores do líder conservador, era óbvio que este estava a mentir ao Parlamento, mais uma vez. À semelhança do que fizera repetidamente anteriormente, quando garantia que não houvera qualquer quebra das regras em Downing Street.
Tendo o primeiro-ministro mentido ao Parlamento, seria uma violação do código de conduta ministerial, que Johnson ratificara, e que deveria resultar numa demissão. Contudo, à semelhança de tantos outros textos legais do Reino Unido, que nem sequer tem Constituição, o código de conduta ministerial é meramente consultivo, ficando a decisão final nas mãos do próprio primeiro-ministro.
A popularidade de Johnson está pelas ruas da amargura. “Mentiroso”, “incompetente” e “pouco confiável” são os termos mais usados para o descrever entre o público britânico, indicou uma sondagem da JLPartners, e 54% dos eleitores exigem que se demita, verificou a Ipsos.
Ainda assim, Johnson está numa posição muito mais sólida do que há uns meses, dado que não são os eleitores que decidem a sua queda, mas os deputados do seu próprio partido. Entre os quais Johnson desfruta de apoio renovado, muito devido à sua postura dura quanto à Rússia e à guerra na Ucrânia.