“Portugal estará muito bem representado em Veneza”

“O mecenato cultural não é uma flor na lapela, tem um sentido e uma utilidade”, defende o diretor geral da Fundação EDP, principal mecenas da representação nacional na Bienal de Veneza.

Tem hoje lugar a inauguração da representação portuguesa na Bienal de Veneza, e Miguel Coutinho, diretor-geral da Fundação EDP – principal mecenas do projeto –, não tem dúvidas de que esta embaixada cultural numa das principais montras mundiais da arte contemporânea será bem sucedida.

A 59.ª edição da mais antiga das bienais (cujas origens remontam a finais do século XIX), realiza-se com um ano de atraso, devido à pandemia, e toma como ponto de partida o livro The Milk of Dreams, da artista plástica e escritora surrealista Leonora Carrington (1917-2011). A_Rússia cancelou a sua participação, enquanto a Ucrânia terá direito não só ao seu pavilhão como a uma praça nos Giardini, a “Piazza Ucraina”, um espaço para refletir sobre o conflito e demonstrar a solidariedade para com o povo e a cultura ucranianos.

Com curadoria geral de Cecilia Alemani, uma das marcas desta edição é a fortíssima presença feminina. De certo modo em contraciclo – e após um aceso debate suscitado pela artista e investigadora Grada Kilomba, descontente com o facto de a sua proposta ter sido preterida –, Portugal é representado por um projeto de Pedro Neves Marques, com curadoria de João Mourão e Luís Silva. A instalação, intitulada Vampires in Space, propõe-se transformar “o segundo piso do Palazzo Franchetti, nas margens do Grande Canal de Veneza, através de um conjunto de filmes, poemas e cenografia, numa inesperada nave espacial habitada por vampiros”.

Miguel Coutinho respondeu por escrito às cinco perguntas colocadas pelo i.

 

Este apoio mecenático é uma espécie de ‘semear para colher’? Sente que os apoios dados pela Fundação EDP em anos anteriores deram frutos?

A Fundação EDP apoia a Cultura por considerar que esta contribui para criar uma sociedade mais informada, com maior sentido crítico e com uma visão mais ampla do mundo. O mecenato cultural não é uma flor na lapela, tem um sentido e uma utilidade. Através da atividade do maat, da revista Electra e dos nossos prémios (Novos Artistas e Grande Prémio Arte) temos contribuído para revelar talentos (Joana Vasconcelos, Carlos Bunga, Paiva & Gusmão, Vasco Araújo, entre tantos outros), e reforçar o reconhecimento público de alguns artistas. O que procuramos, também, enquanto mecenas principal da representação portuguesa na Bienal de Veneza, é mostrar a arte e a arquitetura portuguesa num palco internacional muito relevante. Não se trata para a Fundação EDP de semear ou de colher mas, sim, de prestar um serviço de evidente utilidade pública.

Enquanto diretor-geral da fundação teve oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do projeto Vampires in Space? Conversou com o artista e com os curadores?

O papel do mecenas é o de acreditar convictamente na bondade e utilidade dos apoios que concede, usando os seus recursos com critério. É o que fazemos com algumas das mais relevantes instituições culturais em Portugal e também com a Arco Lisboa e com a Bienal de Veneza. O resto compete aos artistas e curadores.

Já teve oportunidade de ver a representação portuguesa? Acha que o projeto é um bom “embaixador” da arte contemporânea portuguesa?

Ainda não vi mas não duvido, conhecendo o projecto e o trabalho dos curadores e do artista, que Portugal estará muito bem representado em Veneza.

A controvérsia que decorreu do facto de a proposta de Grada Kilomba ter sido preterida acabou por criar algum ruído prejudicial à representação nacional?

Houve uma decisão sobre o concurso e um tempo para dirimir essa questão. É muito português viver no e do passado mas sou dos que preferem viver o presente e pensar no futuro.

É a primeira vez que vai à Bienal? Pode descrever um pouco o ambiente que se respira em Veneza durante estes dias?

Não é a primeira vez para mim. E também não é a primeira vez que a Fundação EDP é o mecenas principal da representação portuguesa – apoiámos as participações de Joana Vasconcelos, João Louro, José Pedro Croft e Álvaro Siza Vieira. Sinto que, passado o tempo mais crítico da pandemia, se vive hoje em Veneza um sentimento de liberdade e de imensa satisfação das pessoas por poderem voltar aos museus, às exposições e a um contacto mais próximo com a arte e com os artistas.