Mais de metade dos portugueses já terão estado infetados com o SARS-CoV-2 pelo menos uma vez. A estimativa é de Manuel Carmo Gomes e de Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Tem por base os casos diagnosticados no país desde o início da pandemia – até esta quinta-feira, somavam-se um total de 3,78 milhões de testes positivos desde o início da pandemia, a grande maioria este ano. Desde janeiro, houve 2,36 milhões de diagnósticos no país, o que mostra bem o impacto da última vaga. Em 2020, o primeiro ano da pandemia, foram diagnosticados um total de 421 mil casos em Portugal. Testava-se menos mas em 2021, já com maior capacidade de testagem mas com menos restrições perante o avanço da vacinação, não chegaram ainda assim a um milhão: houve um total de 991 515 diagnósticos. As infeções dispararam este ano com a Omicron, a variante mais contagiosa desde o início da pandemia mas baixou o nível de preocupação, por ser menos agressiva e a maioria da população estar vacinada.
Se os diagnósticos clínicos confirmam que pelo menos 38% da população portuguesa já esteve infetada, Carmo Gomes sublinha que os números são forçosamente superiores uma vez que nem todas as infeções são diagnosticadas: geralmente admite-se que por cada caso confirmado há um que não é detetado, o que significa 60% da população já terá tido covid-19.
Sem certezas, há algo que é possível retirar dos dados sobre os diagnósticos: a exposição ao vírus não parece ter sido igual em todos os grupos etários, em especial este ano, em que se registaram muito mais contágios entre crianças, jovens e adultos em idade ativa do que na população mais velha.
Com base apenas nos diagnósticos confirmados e com informação por faixa etária, Carmo Gomes adianta ao Nascer do SOL que 51% da população dos 10 aos 29 anos já esteve infetada, o que contando que há casos que não são detetados significará que praticamente todo este grupo etário pode já ter estado exposto ao vírus. Na população dos 30 aos 39 anos, 48% já teve um teste positivo à covid-19. Os mais velhos terão sido os menos expostos, o que estará ligado a menos contactos sociais e maior resguardo: apenas 26% da população entre os 60 e os 69 anos testou positivo para covid-19, 21% dos 70 aos 79 anos e 24% nos maiores de 80.
Ao SOL, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge admite que «dada a elevada cobertura vacinal e a elevada incidência da última onda pandémica, a percentagem de portugueses com algum tipo de imunidade contra este vírus deverá ser muito elevada». Para ter dados mais objetivos e por considerar que esta informação é importante para planear os próximos meses e o próximo outono-inverno, o INSA adianta que vai arrancar nas próximas semanas a quarta fase do Inquérito Serológico Nacional à COVID-19, que permitirá estimar ao certo a fração da população atualmente com anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2. Uma das questões em aberto é como e para que grupos etários deve avançar um reforço da vacina, que poderá ter lugar ainda no fim do verão ou no outono.