Estado da Califórnia prepara-se para ser um “refúgio” do aborto

O estado norte-americano prepara-se para receber inúmeras pessoas de locais onde o aborto será em breve ilegalizado.

Numa altura em que, pelo menos, 26 dos 50 estados dos Estados Unidos poderão ver o direito ao aborto ser ilegal, a Califórnia pode transformar-se num espaço seguro para as mulheres poderem realizar este procedimento ou, pelo menos, é assim defendido por diversos grupos e ativistas pró-aborto. A resolução do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, dominado por legisladores com tendências conservadoras, para derrubar a lei Roe v. Wade (lei que permite o aborto legal nos Estados Unidos) “não é uma questão de ‘se irá acontecer’, mas ‘de quando’”, dizem especialistas, citados pela Al Jazeera, apontando para junho como uma data provável para esta decisão avançar.

Esta decisão irá obrigar várias pessoas de dezenas de estado a realizarem longas viagens e a gastarem elevadas quantidades de dinheiro de forma a poderem realizar de forma legal e segura este procedimento. 

“O que me mantém acordado à noite é pensar em todas as pessoas que não vão conseguir chegar aqui”, disse a vice-presidente de política e consultora geral da Planned Parenthood Affiliates of California, Lisa Matsubara, ao meio de comunicação.

Este grupo faz parte de uma associação formada por 40 instituições, com o nome Conselho do Futuro do Aborto da Califórnia, que uniram forças para aumentar o acesso ao aborto na Califórnia, através de um documento que descreve inúmeras medidas que podem facilitar este procedimento. 

Deste relatório nasceram 13 projetos de lei que, no caso de serem aprovadas, irão ajudar a financiar abortos, viagens e hospedagem para pessoas que não podem acarretar estas despesas; treinar e financiar mais profissionais de saúde para realizar o procedimento e adicionar proteções legais para que as pessoas não sejam responsabilizadas pelos resultados da gravidez.

Além destes projetos de lei, diversas clínicas especializadas em realizar abortos estão a preparar novas instalações para receber este novo fluxo de pacientes, criando infraestruturas mais próximas de estações de comboio, metro e aeroportos e treinando mais funcionários.

“A necessidade de expandir o acesso ao aborto é agora bastante clara para todos”, disse o presidente do Senado estadual, Toni Atkins, a jornalistas no mês passado, citado pelo site CalMatters, que acrescenta que o democrata de San Diego está a preparar o Projeto de Lei 1375 do Senado, que irá permitir que alguns enfermeiros realizem independentemente abortos no primeiro trimestre sem a supervisão de um médico.

Mas o estado da Califórnia não está sozinho nesta batalha. Também Michigan pretende ver reconhecido o direito ao aborto ao abrigo da constituição estadual.

“Era importante agirmos agora, para garantir que as mulheres e os profissionais de saúde em todo o estado de Michigan saibam se os abortos ainda estarão disponíveis no estado, porque isso afeta as suas vidas e as práticas dos nossos profissionais de saúde”, disse a governadora, no início deste mês, lembrando que quase 2,2 milhões de mulheres estão em risco de perder o acesso a um procedimento médico seguro.