Refugiados ucranianos recebidos por casal pró-russo em Setúbal. Autarquia pede investigação do MAI

Câmara comunista de Setúbal pede a MAI para investigar acolhimento de refugiados ucranianos e afasta técnica superior do munícipio.

Pelo menos 160 refugiados ucranianos foram recebidos em Setúbal por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município. 

A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo jornal Expresso, que escreve que Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 pela Câmara Municipal de Setúbal, e a mulher terão fotocopiado documentos de identificação dos refugiados, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal. 

O casal terá ainda, alegadamente, questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia. Contudo, a Câmara de Setúbal garante que nunca foi feita tal pergunta. 

Igor Khashin, diz ainda o Expresso, é um dirigente associativo de dupla nacional, que se apresenta como "gestor de projetos", sendo que as associações a que esteve associado aparecem nos sites da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin com o objetico de divulgar a cultura e mundo russos mas que, segundo fontes citadas pelo jornal, "podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos" da Rússia.

Entretanto, a Câmara de Setúbal já retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica Yulia Khashin, admitindo que vai pedir ao Ministério da Administração Interna que proceda a uma averiguação sobre a receção de refugiados por russos alegadamente pró-Putin.

Em comunicado, o municipio liderado por André Martins, eleito pela CDU, escreve que "a Câmara Municipal de Setúbal irá solicitar ao Ministério da Administração Interna que adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal Expresso, manifestando total disponibilidade para prestar toda a informação necessária".

"Face à situação criada, a Câmara Municipal retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior citada na notícia até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação", adianta ainda a Câmara em comunicado, realçando que, depois de tomar conhecimento das afirmações proferidas pela embaixadora da Ucrânia em Portugal, há duas semanas, relativamente à Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), questionou formalmente o próprio primeiro-ministro, António Costa.

O pedido terá sido feito no próprio dia, por ofício, pedindo que António Costa se pronunciasse sobre as declarações e "esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação, não tendo obtido resposta até ao momento".

A autarquia informa ainda que "Igor Khashin colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tendo prestado esta colaboração já este ano em instalações de alguns destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia".

Segundo a Câmara de Setúbal, são "cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social" e que a "recolha de informação só é feita com autorização expressa por escrito dos próprios", tratando-se de "um procedimento reconhecido e utilizado pelas entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho".