‘Há mais respostas, mas não chegam’

‘Temos como principal missão apoiar todos aqueles que estejam em situação de carência socioeconómica’, explica o dirigente da IPSS.

Quem são os que mais recorrem ao apoio do CASA?
As famílias vêm à rua à procura de comida. Todos aqueles que viviam da hotelaria e do turismo, principalmente, têm estado mal. Pedimos sempre dados: procuramos ser o mais abertos possível.

Costumam ser enganados por pessoas mal-intencionadas?
 Se não houver cruzamento de dados das associações. No entanto, temos tendência para de um caso extrapolar para o geral e não nos podemos esquecer de que pedir comida não é algo muito agradável, ainda temos vergonha. Portanto, acredito que quem o faz está, efetivamente, a passar por dificuldades.

São os empresários das duas áreas que mencionou quem mais tem sofrido?
A classe média-alta e alta sofreu um grande impacto. Muitos entraram em sistemas de layoff e há os profissionais liberais que não conseguiram dar a volta. Em Lisboa temos as tais quatro rotas e, em Cascais, no centro, temos um refeitório para os sem-abrigo, as famílias. Trabalhamos através da ENIPSSA e temos a solução ou alguém terá a solução. Tudo depende das vagas e instituições de determinada região. E depois é aprovado o projeto que apresentam e, com a Segurança Social, desenvolvemo-lo e, dentro da rede, são identificadas as pessoas para cada habitação.

Como é que caracterizaria social e demograficamente as pessoas que chegam até vós e pedem ajuda?
A média de idades das pessoas que ajudamos, em situação de sem-abrigo, é de 47 anos. O intervalo é entre os 45 e os 54 e são mais os homens do que as mulheres.

Tanto o poder central como o local colaboram convosco?
Os Governos têm vindo a ouvir-nos cada vez mais. A estratégia nacional é implementada através deles e, ao longo do tempo, vamos sendo auscultados. Não têm feito as coisas de forma autocrática. Sobre se é necessário fazer mais, não há grande volta a dar: cada vez vai havendo mais respostas, mas nunca chegam. Há pessoas com as quais vamos mantendo contacto. Acompanhamos e verificamos se conseguiram, de facto, fazer uma total reinserção. A comunicação e a partilha de informação são necessárias.

O que fazem quando alguém, que está afetado psicologicamente, não aceita a vossa ajuda nem a das autoridades?
A questão é que a pessoa não pode ser tirada da rua de forma compulsiva. Tem de haver uma situação concreta, não há mecanismos para tirá-la se não quiser. Chamamos o INEM, a PSP e pouco mais. Se a pessoa não quiser, ninguém consegue ajudá-la. É importante que se resguarde a liberdade individual, mas há situações-limite. As autoridades não têm mecanismos. Todo o trabalho deve ser feito no sentido da canalização para a rede. Identifica-se a pessoa e depois a equipa vai ao encontro da mesma.

Como definiria o CASA se estivesse a conversar com alguém que não conhecesse a vossa missão?
Temos como principal missão apoiar todos aqueles que estejam em situação de carência socioeconómica, sejam eles sem-abrigo ou indivíduos e famílias necessitadas. Independentemente das opiniões, do género, do credo religioso, da orientação sexual, etc. Tudo isto é irrelevante, o que importa é que precisam de ajuda. A saúde mental é um dos problemas mais graves que existem em Portugal. Há casos de esquizofrenia, bipolaridade, outros cuja especificidade não sei porque não sou médico. Mas, basicamente, na rede contactamos a entidade para a qual podemos encaminhar as pessoas.