O Governo dinamarquês acusou este domingo a Rússia de ter violado o espaço aéreo do país na última sexta-feira. Em causa o voo do aparelho russo AN-30, no mesmo dia intercetado pela Suécia. O avião a hélice militar russo foi fotografado pelas Forças Armadas suecas, numa altura em que Suécia e Finlândia preparam o pedido de adesão à NATO. Agora a Dinamarca pede também explicações sobre este voo, que mais uma vez pode ter sido usado para reconhecimento. O ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês convocou o embaixador russo no país para uma reunião esta segunda-feira.
"O embaixador russo foi convocado para se deslocar ao Ministério das Relações Exteriores esta segunda-feira. Uma nova violação russa do espaço aéreo dinamarquês. Isso é completamente inaceitável e particularmente preocupante na situação atual", escreveu Jeppe Kofod, no Twitter
O aparelho Antonov 30 é conhecido pela capacidade para realizar operações de aerofotogrametria, medições importantes para cartografia, e começou a ser utilizado pelas forças militares soviéticas no final da década de 60. Em março, a Suécia já tinha acusado Moscovo de violar o seu espaço aéreo, na altura intercetando quatro aparelhos alegadamente com armas nucleares a bordo.
O historial de violação do espaço aéreo europeu por aparelhos russos seja em momentos de tensão seja quando tudo parece mais calmo é longo e tem sido apontado como uma das formas de intimidação e preparação de Moscovo. Em 2020, o governo da Estónia acusou a Rússia de 228 violações das normas de aviação internacional só naquele ano. "O persistente desrespeito pelas normas e regras de aviação estabelecidas por aeronaves militares russas que testemunhamos é apenas um exemplo da postura agressiva da Rússia em relação à NATO e do seu total desrespeito pelas normas estabelecidas internacionalmente para a segurança da aviação. Isso não cria nenhuma confiança de que a Rússia sequer tente a comportar-se internacionalmente de forma responsável", disse na altura Margus Matt, do Ministério da Defesa da Estónia.
Esta tem sido de resto uma das dores de cabeça na NATO: no ano passado, houve um dia em que foram detetadas dez violações do espaço aéreo nos estados membros por aparelhos russos. E na última década somam-se dezenas de situações do género.
Em novembro de 2014, o think-tank European Leadership Network observou que estes voos permitem à Rússia analisar a resposta dos países e testar a sua prontidão. Na altura, a organização publicou um relatório que passou a pente fino as investidas aéreas e navais russas, identificando naquele ano 11 incidentes sérios. Na altura, no rescaldo da anexação da Crimeia, alertavam para o risco de estes eventos poderem levar a uma escalada ou perda de controlo das situações.
Portugal não fica fora do mapa: em 2014, a Força Aérea portuguesa divulgou fotografias das duas aeronaves russas intercetadas em águas internacionais a noroeste de Portugal, dois bombardeiros Tu-95 “Bear". Em 2016 a Força Aérea voltou a intercetar dois aviões russos que atravessavam o espaço aéreo português sem autorização.