André Ventura

A história da Democracia foi construída por pessoas que fugiram aos lugares-comuns, é isso que une Sá Carneiro, Cavaco Silva, Passos Coelho e André Ventura. Homens livres e por isso, perigosos.

por José Maria Matias
Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa

Celebrou-se esta semana os 48 anos da revolução de abril, este ano marcado pelo princípio do novo ciclo político em que teremos, se tudo correr dentro do previsto, uma maioria parlamentar socialista para os próximos quatro anos e meio. Como tal, em 2026, o PS terá governado (seja através do apoio da extrema-esquerda, ou por maioria absoluta), por mais de 11 anos e será o partido que esteve no poder quase sem interrupção desde 1995. Instalou-se como grande partido que controla o aparelho de Estado, levou-nos à bancarrota por três vezes, ameaça a independência das instituições e a separação de poderes. A ideia de bipartidarismo que gera alternância de poder, deixou de existir.

No entanto, ao fim de todo este tempo, houve quem rompesse o paradigma, quem colocasse em causa o status quo. É impossível não distinguir no meio de tudo personalidades como: Sá Carneiro, Cavaco Silva, Passos Coelho e André Ventura. Desde logo, Sá Carneiro representou a alternativa ao PCP e ao PS, o sonho de um Portugal virado para o futuro, para a entrada na União Europeia e para um ciclo de prosperidade sem igual. Cavaco Silva mostrou aquilo que foi um país em que o PS não teve poder, um tempo de convergência europeia, de grande crescimento e de oportunidade. Passos Coelho representa tudo aquilo que foi ter de salvar um país do próprio PS, levantar-nos de uma bancarrota.  Só tivemos Passos Coelho porque tivemos José Sócrates.  Por fim, André Ventura que representa tudo o que resta hoje de um país que não é socialista, que não se resignou e que não se contenta com o estar na cauda da Europa.

É curioso; um homem do Porto, um homem de Boliqueime, um homem de Vila Real e um homem de Algueirão-Mem Martins. De certa forma, cada um deles representou as periferias do seu tempo, sejam económicas ou territoriais, tudo aquilo que não é Lisboa. O homem do Porto garantiu a Democracia contra o comunismo e deu-nos uma rota. O homem de Boliqueime trouxe o elevador social e o desígnio nacional. O homem de Vila Real liderou a missão de devolver a soberania económica. O homem de Algueirão-Mem Martins garante-nos a oposição apesar do unanimismo.  Cada um deles emergem do falhanço das elites do seu tempo. No caso de Cavaco, Passos e Ventura, representam o sucesso apesar do PS. Representam os frutos do trabalho apesar do socialismo. São legítimos herdeiros de Sá Carneiro, apesar de todas as diferenças entre eles e que são muitas. Todos eles foram em algum momento considerados inimigos do regime. Todos tiveram a coragem de saber identificar sempre o seu adversário: o PS. Estabeleceram as ruturas num país político que gosta de consensos, lideraram alternativas num sistema que gosta muito pouco de mudanças.  Ganharam por mérito o direito a perguntarmos o que seria a Democracia sem eles. 

É por isso que não surpreende que os portugueses tenham elegido o homem de Algueirão-Mem Martins como o líder do combate à nova maioria governativa. Tem a legítima aspiração de se tornar primeiro-ministro, aquilo que lhe falta para se juntar definitivamente aos outros três. Trouxe à direita uma proximidade com o eleitor que esta poucas vezes teve, seja por dispensar os intermediários na comunicação, seja pela vontade genuína que gera de o tratarmos na segunda pessoa no trato pessoal. A história da Democracia foi construída por pessoas que fugiram aos lugares-comuns, é isso que une Sá Carneiro, Cavaco Silva, Passos Coelho e André Ventura. Homens livres e por isso, perigosos. Para quem? Para o sistema. O que é o Sistema? Hoje, essencialmente, o PS.