Portugal vai já enviar blindados para a Ucrânia

O Nascer do SOL apurou que António Costa visita Kiev no final de maio. E que o Governo já deu o aval para o envio de 15 carros blindados M113A comprados a preço de saldo aos EUA, que estão estacionados em Santa Margarida e que o Pentágono já pedira que fossem enviados para a Ucrânia.

por Felícia Cabrita e José Miguel Pires

António Costa deverá visitar a Ucrânia perto do final deste mês, de acordo com dados recolhidos pelo Nascer do SOL em círculos próximos do primeiro-ministro.

O chefe do Governo português tinha revelado, na passada quarta-feira, que iria aceder ao convite do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para se deslocar a Kiev, mas, ou por razões de acerto de calendário, ou por questões de segurança, a data da viagem não foi ainda oficialmente anunciada – sendo que o Nascer do SOL confirmou que será dentro de três semanas.

Entretanto, soube o Nascer do SOL junto de fonte do Ministério da Defesa que o Governo português vai por fim enviar à Ucrânia, no âmbito do apoio ao seu esforço de guerra contra a invasão russa – e correspondendo também ao apelo que o Presidente Zelensky deixou quando discursou via web na Assembleia da República – um conjunto de 15 blindados de lagartas M113, de fabrico norte-americano, que se encontram ao serviço do Exército nacional há quase 30 anos e cuja cedência estava, nas últimas semanas, a ser pressionada pelas autoridades de Washington. Confirma-se assim a notícia que, nesse sentido, foi publicada no sábado passado por este jornal.

 

Do tempo em que os EUA reduziram efetivo na Europa

As viaturas em causa, que se encontram estacionadas no Campo Militar de Santa Margarida, foram adquiridas pelo Exército português em segunda mão aos EUA, a preços reduzidos, aquando da diminuição do efetivo militar norte-americano estacionado na Europa na década de 1990, no âmbito do desanuviamento que se seguiu ao fim da Guerra Fria com a queda do Muro de Berlim (1989) e a implosão da União Soviética (1991) – de que resultou a independência tanto das repúblicas bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia, hoje membros da NATO e da União Europeia – UE) como da Ucrânia em relação à Rússia.

Sendo mais vantajoso para o Pentágono (Departamento norte-americano da Defesa) deixar na Europa esses veículos, então já em vias de obsolescência tecnológica, em vez de os transportar de volta para os EUA, Portugal, por valores pouco mais que simbólicos, ficou com 104 M113A2 provenientes dos Países Baixos e 50 M113A1 que se encontravam na Alemanha (não os podendo revender sem autorização prévia de Washington). A dezena e meia de blindados que Portugal agora disponibilizou para envio para a Ucrânia constituem, por isso, cerca de 10 por cento do total do seu efetivo destas viaturas.

Ouvida esta semana na Assembleia da República, a ministra da Defesa não confirmou nem desmentiu a notícia avançada pelo Nascer do SOL, tendo Helena Carreiras dito apenas: «[O Governo] está a enviar material, temo-lo feito, e isso tem sido anunciado». E acrescentando: «Vamos continuar a apoiar na medida das nossas possibilidades». «Enviamos já um total de 170 toneladas de material bélico e não bélico, incluindo material médico, e continuamos a avaliar a possibilidade de manter esse apoio», disse, entretanto, Helena Carreiras aos jornalistas, durante uma visita à Base Aérea do Montijo, revelando também «disponibilidade, nas instalações das Forças Armadas, para acolher cerca de 40 feridos que possam vir, e para acolher refugiados ucranianos — cerca de 300 lugares – numa primeira receção».

Juntamente com os 15 blindados de lagartas (que não são considerados carros de combate, o equipamento deste género de que o exército ucraniano mais necessita, mas de que Portugal não dispõe), o Governo vai também enviar cinco obuses de calibre 15,5 rebocados, meia centena de rádios e algum outro tipo de armamento ligeiro.

Recorde-se que, na semana passada, o Nascer do SOL noticiava o envio de uma quantidade significativa de munições e morteiros, que se encontravam, então, em trânsito pela Polónia.

O envio dos blindados é, assim, uma cedência ao pedido de Washington – e do próprio Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia que, em discurso na Assembleia da República, pediu apoio militar aos portugueses – depois da reunião ocorrida na semana passada, na base militar norte-americana de Ramstein, na Alemanha, entre o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e responsáveis castrenses de cerca de 40 países.

A reunião foi convocada pelo Pentágono para discutir um plano de ajudas às forças armadas ucranianas, e a ministra portuguesa da Defesa, Helena Carreiras, marcou presença, ainda que à distância, após ter testado positivo à covid-19.

Na reunião em terras alemãs, aliás, os norte-americanos auguraram um difícil futuro: o conflito entre Ucrânia e Rússia poderá arrastar-se durante meses, ou até anos. Os Estados Unidos deixaram, assim um aviso à tripulação, argumentando que os países que se dispõem a ajudar militarmente Kiev a resistir à agressão do regime de Vladimir Putin se devem preparar para manter esse auxílio de forma prolongada.

 

Viaturas blindadas da GNR também já estão na Ucrânia

O Nascer do SOL sabe também  que as autoridades portuguesas ordenaram também à GNR que disponibilizasse à Ucrânia quatro dos seus veículos blindados Iveco M 40.12 WM/P, fabricados em Itália, e que esta força de segurança adaptou e melhorou aquando da intervenção no Iraque, desempenhando um importante papel na estabilização policial, lado a lado com os exércitos norte-americano e britânico, que invadiram e ocuparam o país em 2003.

Na altura, o Presidente Jorge Sampaio opôs-se a que o Governo de José Manuel Durão Barroso (PSD/CDS-PP) autorizasse o envio para o Iraque de Saddam Hussein de elementos do exército português para se juntarem às forças invasoras aliadas, acabando a solução por ser  o envio dos elementos da GNR, que para o efeito adquiriu as Iveco.

Estes veículos blindados da GNR têm estado parados em Portugal após o fim da intervenção no Iraque, tendo sido entretanto já enviados para a Ucrânia.

Este material, no entanto, não encaixa ainda assim nas tais ferramentas ofensivas pesadas pedidas pela Ucrânia. São, sim, viaturas de patrulhamento e escolta em situações de guerra de baixa intensidade, e que, portanto, não vão satisfazer as necessidades mais prementes do exército ucraniano perante o quadro de invasão que está a enfrentar por parte das tropas de Vladimir Putin.