Por Jorge Bruno Ventura, Professor Universitário
A piada sobre a doença de Jada Pinckett-Smith dita por Chris Rock na última cerimónia de atribuição dos óscares, que originou a popular bofetada de Will Smith em defesa da sua dama e em direto para todo o mundo, não ocuparia o meu tempo para além do estritamente necessário para perceber o que teria acontecido. No entanto, no dia seguinte à cerimónia, um grupo de jovens da geração Z quis saber a minha opinião sobre a possível existência de uma linha vermelha que a comédia não deveria ultrapassar.
Ser comediante deve ser bastante desafiador. Imaginem nos dias em que o acordar é maldisposto e rabugento, conseguir ganhar a motivação para criar um texto ou subir a um palco com a missão de divertir pessoas. Pode um comediante chegar a um palco e dizer: estou chateado. Não me apetece fazer rir? A ideia do comediante triste é uma contradição irónica.
Mas haverá temas tabus na comédia? Julgo haver uma relação entre a seriedade do assunto abordado pelo comediante e o sucesso da piada criada. Isto é, fazer comédia com temas descontraídos e que por si só já têm uma carga de humor associada, é banal e comparável a uma verdade la palisse.
Brincar com assuntos sérios é a verdadeira comédia. Brincar com a brincadeira, já não é preciso. O trabalho já está feito e foi produzido pela própria natureza. Este deve ser o princípio orientador da comédia. Os limites devem ser definidos pelo público: rir daquilo que se acha piada e não rir do que se considera não ter piada. Esse é o grande julgamento da comédia.
O que atrás se escreveu não deve ser confundido com o gozo ou a falta de sensibilidade para a vivência em comunidade.
A comédia não está isenta da perceção que as pessoas existem nos seus sentimentos e na forma de estar na vida.
Apesar de achar que os temas sérios devem ser abordados e serem temática para a comédia, também sou da opinião que cada comediante deve fazer o trabalho de casa e em casos sensíveis perguntar a si próprio se não terá outro caminho para fazer rir e oferecer boa-disposição às pessoas.
Will Smith perdeu a razão que supostamente poderia ter quando recorreu à violência, mas há um recado para o Chris Rock ou para quem preparou o texto da cerimónia: não poderiam ter escolhido outro caminho para pôr as pessoas a rir?
Tinham mesmo necessidade de falar de uma forma tão particular da doença de alguém?
Lembram-se do Diácono Remédios? Sim, o do Herman José!
Não havia nexexidade-e-e.