Elon Musk: O magnata que está a moldar o futuro

Em criança era tímido e vítima de bullying. Com a ambição de mudar o futuro chegou ao estatuto de homem mais rico do mundo, dando cartas na mobilidade elétrica e na exploração espacial. Agora está perto de ser dono do Twitter. Mas afinal quem é este ‘génio’ ou ‘louco’?

O seu nome mais parece inventado, mas quase tudo em Elon Musk parece uma criação de um escritor de ficção científica. Há quem o veja como um ‘louco’ com ambições perigosas. Na sua biografia oficial, o jornalista Ashlee Vance descreve-o como «o génio que está a inventar o futuro». Longe de gerar consenso, Musk é o autêntico man on a mission. Numa missão para Marte; para salvar a Humanidade dos algoritmos e das alterações climáticas e para devolver a liberdade ao debate público.

Qualquer pessoa que tenha prestado atenção à sua carreira nas últimas três décadas, está ciente de que o empresário, fabricante de automóveis elétricos e rock star da comunidade tecnológica de 50 anos conquistou sucessos a um nível que nem Jeff Bezos, Bill Gates ou Jack Dorsey alguma vez poderiam alcançar.

Apesar de tudo, Musk não chegou ao título de homem mais rico do mundo sem trilhar o seu caminho. Os primeiros passos enquanto empreendedor foram logo na infância. Em Pretória – cidade onde nasceu na África do Sul –, começou por andar de porta em porta com o irmão e com os primos a vender ovos da Páscoa de chocolate caseiros por um preço vinte vezes superior ao que custava fazê-los.

«Fazíamos por meio dólar e cobrávamos 10 dólares por cada ovo», confidenciou o irmão Kimbal Musk numa entrevista à CNBC, evidenciando que o espírito para o negócio já estava lá.

Mais contido e tímido, na escola primária era o rapaz mais novo e mais pequeno da turma e um nerd que se refugiava nos livros. «Fui criado por livros. Livros e, depois, pelos meus pais», afirmou à Rolling Stone em 2017. Na verdade, era tão introvertido e abstraído do que o rodeava que os pais chegaram a pedir exames médicos para avaliar se era surdo.

Da infância guarda sobretudo más memórias. Durante anos, foi vítima de bullying e os colegas chegaram mesmo a empurrá-lo de um lance de escadas, episódio que o levou ao hospital. «Quase fui espancado até à morte», revelou no programa 60 Minutos da CBS News.

Aos oito anos, teve que lidar com a separação dos pais. A sua mãe, Maye — uma nutricionista e modelo sul-africana nascida no Canadá —, e o seu pai, Errol, um engenheiro, divorciaram-se em 1979, após quase 10 anos de casamento. Ao contrário do irmão e da irmã que decidiram viver com a mãe, Elon preferiu viver com o pai. Apesar de afirmar que herdou do progenitor muitas das suas capacidades, atualmente os dois estão de relações cortadas, e Elon considera-o «um ser humano terrível».«Fez quase todas as coisas más que nos podem passar pela cabeça», descreveu à Rolling Stone.

Foi então que aos 12 anos se aventurou na área da programação e criou um videojogo chamado Blastar, que ainda hoje está disponível na Internet. O objetivo era destruir uma nave espacial alienígena que lançava bombas. O jogo rendeu-lhe 500 dólares (cerca de 475 euros) quando o vendeu à revista sul-africana PC and Office Technology.

Mas não se ficou por aqui. Aos 16 anos, juntamente com o irmão Kimbal, quis abrir um salão de jogos arcade. Como eram menores e os pais não lhes deram autorização legal, a ideia acabou por cair por terra. Por essa altura, a vida na escola também já tinha melhorado. A prática de karaté, judo e luta livre ajudaram-no a aprender a defender-se dos colegas, ainda que as dificuldades em interagir com os outros persistissem. A razão para isso só foi conhecida em 2021, quando Musk revelou, durante o programa norte-americano Saturday Night Live, que tem síndrome de Asperger.

Foi também na adolescência que decidiu abandonar a África do Sul para dar continuidade aos estudos. Aos 17 anos mudou-se para o Canadá para ingressar na faculdade. Como não tinha muito dinheiro, arranjava pequenos empregos e poupava, mas estava determinado a testar se tinha a determinação necessária para vir a ser um empreendedor. Para isso, forçou-se a viver com um dólar por dia. E as suas refeições estavam limitadas a cachorros-quentes e laranjas.

No Canadá matriculou-se na Universidade de Queens para estudar Física e Economia, mas não seria lá que terminaria o curso. Dois anos depois, em 1992, com a ajuda de uma bolsa, transferiu-se para a Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde se licenciou. Aos 24 anos ainda se inscreveu numa pós-graduação em Física Aplicada em Stanford, na Califórnia, mas ao fim de apenas dois dias abandonou a academia para se tornar empresário.

Após deixar os estudos para trás, em 1995, fundou novamente ao lado de Kimbal, a Zip2, que desenvolvia e vendia software de guias de cidade online para diversas empresas e sites de jornais, como o The New York Times. Quatro anos depois a empresa foi vendida por cerca de 300 milhões de dólares à Compaq Computer Corporation.

Com esse dinheiro, Elon Musk decidiu criar um banco online chamado X.com, que mais tarde se tornaria na conhecida PayPal. Em 2002, Musk vendeu o sistema de pagamento digital à eBay por 1,5 mil milhões de dólares. Foi sobretudo com esse negócio que se tornou num homem rico, o que lhe possibilitou destinar fundos para o arranque das duas empresas que mais o projetaram como figura incontornável no panorama mundial: a Space X e a Tesla.

A primeira foi fundada em 2002 com a missão de tornar o acesso ao espaço mais rápido, mas também mais barato. Até aqui a empresa que fabrica e lança foguetões já fez história. Depois de ter lançado um Tesla a caminho de Marte, Elon Musk conseguiu que a NASA colocasse dois astronautas no espaço, no primeiro voo tripulado da agência espacial norte-americana através de uma empresa privada.

Já a Tesla foi criada em 2003, mas a ideia não partiu de Musk. O envolvimento do empresário na fabricante de automóveis elétricos deu-se apenas em 2004, quando investiu 7,5 milhões de dólares numa ronda de investimento.

No início, o magnata sul-africano achou que ambos os projetos falhariam. E, na verdade, as duas empresas estiveram «perto de falir», confirmou Ashlee Vance na biografia. Os foguetões da SpaceX explodiam antes de atravessar a atmosfera e a Tesla viria a atravessar uma fase negra entre 2017 e 2019, com a produção do Model 3.

Contudo, desde que a empresa abriu capital em 2010, as ações aumentaram mais de 20.000%, contrariando todas as expectativas de Wall Street e transformando os primeiros investidores em milionários. Somente no ano de 2020, quando o mundo atravessava a fase mais complicada da pandemia de covid-19, o preço das ações da Tesla disparou mais de 700%, contribuindo para que Musk chegasse ao estatuto de homem mais rico do mundo, ultrapassando Jeff Bezos, que detém a empresa Blue Origin – rival direta da Space X nas aventuras espaciais.

Questionado sobre os conselhos que daria a empresários para alcançarem o sucesso, Musk recomendou que trabalhassem «entre 80 a 100 horas por semana». «Ninguém muda o mundo a trabalhar 40 horas por semana», desafiou. Embora este lema possa ter dado frutos na sua vida profissional, o enorme foco nos negócios nem sempre beneficiou a sua vida pessoal.

Em 2008, divorciou-se da mulher com quem havia casado em janeiro de 2000, Justine Wilson. Dois anos após o casamento ainda se mudaram para Los Angeles e tiveram o primeiro filho, um rapaz chamado Nevada Alexander. O bebé morreu com dez semanas depois de deixar de respirar enquanto dormia. Nos cinco anos seguintes, o casal teve mais cinco filhos com a ajuda da fertilização in vitro.

Como a cabeça do multimilionário estava sempre no trabalho, Justine quis dar novo rumo à vida. «Tinha um estilo de vida de sonho, privilegiado e surreal. Mas o turbilhão de purpurina não conseguiu disfarçar um vazio crescente. Elon era obcecado pelo trabalho. Quando estava em casa, a sua mente estava sempre noutro lugar», relatou.

Seis semanas depois da separação, Musk ficou noivo da atriz britânica Talulah Riley. O casal deu o nó em 2010, mas ao fim de dois anos separou-se. Ainda tentaram dar nova oportunidade, mas em 2016 o relacionamento chegou definitivamente ao fim. Tal como aconteceu com o final do primeiro casamento, Musk voltou a assumir rapidamente uma nova relação. Ainda no ano de 2016 foi visto com Amber Heard, que tinha acabado de se divorciar do ator Johnny Depp. Com separações pelo meio, essa relação também não durou muito tempo, com o ponto final a ser colocado em 2018.

O relacionamento seguinte do multimilionário foi conhecido nesse mesmo ano, quando Musk e a cantora de dream pop canadiana Grimes apareceram juntos na passadeira do Met Gala.

O casal teve dois filhos: um rapaz chamado XAEA-Xii e uma rapariga chamada Exa Dark Sideræl Musk, conhecida também por Y. Os nomes invulgares das crianças provocaram polémica. O rapaz, inicialmente XÆA-12, passou a chamar-se XÆA-Xii porque a lei do estado da Califórnia não permitia a existência de números no nome próprio.

Contudo, o romance chegou mais uma vez ao fim, e especula-se que o magnata já terá nova namorada, a atriz australiana Natasha Bassett. Mas Elon Musk tem feito manchete por outras razões. O empresário que utiliza o Twitter para se expressar, sem filtros, está prestes a comprar a rede social que Jack Dorsey fundou. E já tem pensadas as transformações que quer fazer na plataforma.

Um “déspota” da liberdade, quer terminar com as políticas de moderação de conteúdos para que todo o tipo de publicações seja permitido, mesmo os tweets mais violentos, além de querer reservar as expulsões permanentes de contas do Twitter  para contas fraudulentas ou ‘bots’ automatizados.

A concretizar a compra daquela rede social, pela qual ofereceu cerca de 41 mil milhões de euros, Musk já admitiu que reverteria a proibição permanente da conta oficial do antigo Presidente norte-americano Donald Trump, considerando que essa foi uma «decisão moralmente má» e «insensata ao extremo».