Chama-se Dugin e é um fascista, um adorador do ocultismo e um seguidor de Carl Schmitt.
Construiu uma teoria sobe a Rússia e seu papel chave na criação da Eurásia.
Defende a geração de condições de desestabilização nos EUA e na Europa, motiva a direita nihilista e condena o atlantismo como inimigo declarado.
Sobre o destino, simplifica. O da Rússia ou é império, ou é fracasso.
Desce ao pormenor na Ucrânia e diz que não pode haver outra solução senão o controle total deste país, ou, na sua classificação, desta novirussia.
No dia 9 deste mês, ninguém se lembrou dele para condenar a sua fundamentação ideológica. É um fascista bom ou, pelo menos, conveniente.
Um estranho paradoxo fez com que nesse dia se celebrasse a vitória sobre o nazismo.
As suas teses, todavia, estiveram presentes no aguardado discurso de Putin.
Sem grande projeção, nem grande glória, nem grande entusiasmo.
A Rússia eurasiana ainda não encontrou a força da cavalgada épica.
Apesar de tudo, surgem alguns obstáculos.
Há um povo que representa um osso atravessado na garganta. Há uma parte significativa do mundo que levanta outra vez a voz contra a sede de conquista, a dominação e a barbárie.
E tanto basta para que o discurso opte por acentuar a urgência da defesa.
A NATO quereria invadir a Rússia, a Ucrânia seria a ameaça latente, os russos que viviam nos territórios já ocupados correriam o risco do extermínio.
Logo, a Rússia desencadeou as operações.
Com que êxito? Pouco.
Com que perdas? Muitas.
O orador apelou ao sacrifício histórico.
Mas o orador, tendo consciência de que a propaganda faz o seu trabalho, sabe que as pilhas de cadáveres não ajudam ninguém, que os inêxitos pesam, que o fortalecimento do adversário incomoda.
Não, não havia boas notícias, portanto.
Daí a retoma de um conceito bebido, outra vez, em Dugin: «A verdade é uma questão de crença».
Isto é, o orador limitou-se à sua verdade.
Ao lado de Putin faltava outra pessoa igualmente importante na avaliação do manual de operações para tomar conta de um qualquer país.
O general Gerasimov é um prático, um operacional.
Foi certamente influenciado pelo mestre Dugin mas adaptou a teoria ao desenho dos procedimentos.
Noções simples, ações concretas: usar as redes sociais e os ataques informáticos, isolar o país, incrementar a pobreza e a sublevação social, enviar uma força militar, restabelecer a ordem, oferecer ajuda económica, instalar um governo pró-russo.
Várias vezes a coisa correu bem.
Mas, na mais recente tentativa, ou alguém perdeu páginas do manual ou andava distraído.
Pobre Gerasimov. A sua estrela empalideceu e sentiu-se ferido no seu orgulho próprio.
Consta que num derradeiro esforço para corrigir o erro também foi ferido no corpo.
Reduzidos a sombras Dugin e Gerasimov, sentia-se a sua falta.
Sem inspiração para a vitória, foi o discurso da vítima contra a conspiração do mundo.
Foi pouco.
Infelizmente vai chegando para envenenar.
Os oligarcas que o digam…