Há mais um vírus de que não se costumava ouvir falar na Europa a fazer soar alertas. Reino Unido, Portugal e agora Espanha confirmam que estão a ser diagnosticados casos de "monkeypox", em português varíola dos macacos, uma forma mais ligeira da varíola erradicada nos anos 80. A doença provocada por um vírus isolado pela primeira vez na República Democrática do Congo aparecia esporadicamente na Europa e nos EUA, associado a viagens ao continente africano, mas agora o receio é de que esteja a haver transmissão na Europa. Tanto em Espanha como em Inglaterra, as autoridades confirmaram que todos os casos têm sido detetados em homens que têm sexo com homens, sendo que em Portugal a DGS refere apenas que todos os infectados são homens jovens. Os especialistas que se têm pronunciado nos últimos dias consideram que não existem para já motivos para pensar numa evolução para uma doença sexualmente transmíssivel. O contágio ocorre por contacto directo com fluidos e gotículas respiratórias, pelo que contactos próximos com alguém infetado serão propícios a isso, sejam de natureza sexual ou não.
Que doença é esta?
Trata-se de uma doença zoonótica, quando animais são vectores de vírus e parasitas para humanos, identificada pela primeira vez na década de 50 em macacos.
Os primeiros surtos foram sinalizados na década de 70 na República Democrática do Congo. Além da transmissão por contacto direto com animais infetados, é conhecida a transmissão entre humanos. Em 2003, foi detetado o primeiro surto nos EUA ligado a uma loja que importava animais do Gana. Os surtos deste ano parecem ser os primeiros de contágios entre humanos na Europa, mas as ligações epidemiológicas estão por determinar, pelo que as autoridades admitem que haverá circulação do vírus interna e não apenas os chamados casos importados.
Segundo o Centro de Controlo de Doenças dos EUA, o vírus entra no corpo atavés de lesões na pele, trato respiratório ou membranas mucosas (olhos, nariz e boca).
Pensa-se que a transmissão entre humanos ocorre principalmente através de grandes secreções respiratórias, ou seja quando se fala prolongadamente muito próximo da cara de outra pessoa ou se tosse ou espirra, já que os sintomas desta infeção incluem síndrome gripal. Mas os mais caracteriscos são mesmo erupções na pele e vesículas espalhadas pelo corpo, pequenas bolas. A infeção dá ainda febre, dores de cabeça e dores musculares, glânglios inchados e cansaço. Esta quarta-feira, em comunicado, a Direção Geral da Saúde pede a que quem tenha estes sintomas que procure aconselhamento médico, sublinhando que perante sintomas suspeitos, o indíviduo deverá abster-se de contactos físicos diretos.
"A abordagem clínica não requer tratamento específico, sendo a doença habitualmente autolimitada em semanas", diz ainda a DGS, que avançou que em Portugal estão confirmados cinco casos, estando outros 15 em estudo para se confirmar geneticamente a presença do vírus, um trabalho que esta a ser feito pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, laboratório de referência nacional.
Segundo os últimos estudos, a taxa de letalidade da doença varia, consoante as estirpes, entre 1% e 10%. Não existe tratamento especifico além do sintomático, ou seja, os medicamentos para a febre, por exemplo.
Risco de disseminação
Para já, o aparecimento de casos em vários países indicia uma circulação que já não está contida. Embora a DGS tenha referido hoje que a doença é rara e, habitualmente, não se dissemina facilmente entre os seres humanos, já houve investigadores a notar que existem dois tipos do vírus e um deles parece ter uma taxa de ataque superior.
"Pensava-se que a transmissão de pessoa para pessoa era bastante baixa (<10%) em contactos domésticos. No entanto, num surto recente na República Democrática do Congo, houve transmissão sustentada de pessoa para pessoa com uma taxa de ataque no domicílio de 50%", notou Paul Hunter, da Universidade de East Anglia. "Sabe-se agora que parece haver dois tipos principais deste vírus, o virus do Congo, que causa mais doença, maior mortalidade e é mais transmissível. O outro é o vírus de África Ocdental, tipicamente menos transmissível e que causa doença menos severa".
Este especialista considera que, parecendo que os casos estão associados a este último vírus, a disseminação pode ser mais limitada e o impacto menor. Pode ver outras reações no Reino Unido, o primeiro país a sinalizar o aparecimento de casos domésticos, nesta página.
Segundo as autoridades de saúde britânicas, a maioria das pessoas recupera em duas a quatro semanas, recomendando que se evite o contacto com animais selvagens e com pessoas com sintomas ou que não se sintam bem. Fizeram também um apelo para que quem tenha erupção cutânea e tenha estado na África Central nas últimas três semanas, ou com alguém diagnosticado, contacte os serviços de saúde.