Há mais um vírus de que não se costumava ouvir falar na Europa a fazer soar alertas. Reino Unido, Portugal e Espanha confirmam que estão a ser diagnosticados casos de “monkeypox”, em português varíola dos macacos, uma forma mais ligeira da varíola erradicada nos anos 80. A doença provocada por um vírus isolado pela primeira vez na República Democrática do Congo aparecia esporadicamente na Europa e nos EUA, associado a viagens ao continente africano, mas agora o receio é de que esteja a haver transmissão na Europa.
Tanto em Espanha como em Inglaterra, as autoridades confirmaram que a maioria dos casos têm sido detetados em homens que têm sexo com homens, sendo que em Portugal a DGS indicou que todos os infetados são homens jovens. Ontem, Margarida Tavares, diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis, adiantou que os já mais de 20 casos suspeitos, 14 confirmados, foram detetados numa clínica de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, em homens com idades entre os 20 e os 50 anos.
Alguns são homens com relações homossexuais, confirmou também a responsável, mas nem todos os casos o são e esse tem sido o alerta dos especialistas que se têm pronunciado nos últimos dias no Reino Unido. Consideram que não existem para já motivos para pensar numa evolução para uma doença sexualmente transmissível, o que não está descrito neste vírus, salientou também Margarida Tavares. O contágio ocorre por contacto direto com fluidos e gotículas respiratórias, pelo que contactos próximos com alguém infetado serão propícios a isso, sejam de natureza sexual ou não.
No Reino Unido, onde o primeiro caso foi sinalizado a 7 de maio numa pessoa com historial de viagem recente da Nigéria, os alertas estão no entanto a ser diretamente dirigidos à comunidade de homens que têm sexo com homens. Tendo em conta que a maioria dos doentes eram homens gay ou bissexuais, pensa-se que a transmissão começou nesse círculo, mas cresce a convicção de que pode estar já mais disseminada na comunidade.
Ontem foram confirmados mais dois casos no país, elevando para nove o total e não estão relacionados uns com os outros. “Os últimos casos confirmados, bem como o reporte de casos noutros países na Europa, confirma os nossos receios iniciais de que pode haver uma disseminação de varíola dos macacos nas nossas comunidades”, disse Susan Hopkins, da agência de segurança de saúde do Reino Unido.
Segundo o Mail Online, a estratégia para conter o surto está a passar por oferecer aos contactos de risco uma vacina da varíola em regime “off label”, já que o medicamento não tem indicação para o vírus da monkeypox, mas pensa-se que, sendo os vírus da mesma família, poderá ter um efeito protetor. Em causa a vacina Imvanex, aprovada pela Agência Europeia do Medicamento em 2013, mas que acabou por não ser usada. Em Portugal, segundo o i apurou, essa hipótese está também em cima da mesa.
Que doença é esta? Trata-se de uma doença zoonótica, quando animais são vetores de vírus e parasitas para humanos, identificada pela primeira vez na década de 50 em macacos.
Os primeiros surtos foram sinalizados na década de 70 na República Democrática do Congo. Além da transmissão por contacto direto com animais infetados, é conhecida a transmissão entre humanos. Em 2003, foi detetado o primeiro surto nos EUA ligado a uma loja que importava animais do Gana. Os surtos deste ano parecem ser os primeiros de contágios entre humanos na Europa, mas as ligações epidemiológicas estão por determinar, pelo que as autoridades admitem que haverá circulação do vírus interna e não apenas os chamados casos importados.
Atenção aos sintomas Segundo o Centro de Controlo de Doenças dos EUA, o vírus entra no corpo através de lesões na pele, trato respiratório ou membranas mucosas (olhos, nariz e boca).
Pensa-se que a transmissão entre humanos ocorre principalmente através de grandes secreções respiratórias, ou seja quando se fala prolongadamente muito próximo da cara de outra pessoa ou se tosse ou espirra, já que os sintomas desta infeção incluem síndrome gripal.
Mas os mais característicos são mesmo erupções na pele e vesículas espalhadas pelo corpo, pequenas bolas. A infeção dá ainda febre, dores de cabeça e dores musculares, gânglios inchados e cansaço. Em comunicado, a Direção Geral da Saúde pediu a que quem tenha estes sintomas que procure aconselhamento médico, sublinhando que perante sintomas suspeitos, deve evitar-se contactos físicos diretos.
Não existe tratamento específico para a doença, que normalmente é debelada no espaço de duas a quatro semanas. Segundo os últimos estudos, a taxa de letalidade variou, no passado, entre 1% e 10%. Em Portugal, revelou Margarida Tavares, os casos detetados são ligeiros.