“Isto é uma vergonha!”, gritava a acompanhante de uma idosa que se encontrava na fila para ser vacinada no Pavilhão Desportivo Carlos Queiroz, em Carnaxide, no município de Oeiras. “Ela está a gritar e tem razão. Isto é impressionante. Para além de não ter havido vacinas durante algum tempo, mal há cadeiras para as pessoas se sentarem”, diz Rosa, de 81 anos, visivelmente preocupada com a prima, de 93, que esteve perto de desmaiar enquanto aguardava pela vacinação.
“Está na hora do almoço e não comem, não bebem água e tudo fica pior. Já está lá dentro, felizmente, mas ia desmaiando”, explica a idosa. “Eu mesma estive na fila com elas e não aguentei mais. Ainda não fui chamada e tomara que não seja, porque não quero estar neste inferno. Estou cheia de dores nas costas, não consigo estar em pé tanto tempo”, explica a alentejana que veio para Lisboa com 23 anos, adiantando que foi vacinada com as duas doses da vacina contra a covid-19 e a de reforço também.
“Não tenho paciência para isto. Quero estar protegida, mas assim não dá”, afirma. A poucos metros está Maria do Patrocínio, de 93 anos, que havia obtido uma cadeira para estar minimamente confortável, e a filha, Maria Helena Torcato.
“Recebemos a mensagem anteontem à noite e ontem voltaram a confirmar. Não sei se há vacinas porque cheguei agora, mas, sinceramente, não imaginava que estivesse aqui tanta gente”, confessa, admitindo que, das últimas três vezes em que tanto ela como a mãe foram vacinadas, “correu tudo muito bem”.
“A minha mãe tem depressão crónica, tem hipertensão arterial e muitos mais problemas. Felizmente, ela reagiu bem às outras doses e eu também”, declara Maria Helena, avançando que, inicialmente, “o processo de vacinação tinha algumas complicações, mas, ultimamente, está tudo dentro da normalidade”. Mas acredita que tal é compreensível, pois, ao princípio, “era tudo uma novidade”.
“Já vimos algumas pessoas em aflição” Quem também recebeu a SMS de confirmação, mas na segunda-feira, foi João Pedro Fernandes, que acompanhava a tia Ermelinda Griné, de 92 anos. “Correu sempre tudo bem. Desta vez, o problema é que não havia cadeiras: se ela não tivesse a cadeira de rodas, não sei como teríamos feito”, sublinha, referindo que “as pessoas estão muito cansadas. Estão quase todas na casa dos 90 anos, isto é extremamente difícil para elas”.
“Penso que, da última vez, o processo foi bem mais fácil. Estamos na fila há quase 30 minutos e já entendi que as coisas estão confusas. Os acompanhantes, geralmente mais novos, têm uma capacidade física muito diferente das pessoas que vão ser vacinadas. Já vimos algumas, como a senhora que está à nossa frente, em aflição”, refere com a preocupação visível no rosto, enquanto empurra ligeiramente a cadeira de Ermelinda para darem mais alguns passos rumo à entrada do centro.
No final da fila, tendo chegado apenas há alguns minutos, estavam António Palma, de 92 anos, e a neta, Susana Alberto. “Não sei se há vacinas, mas faz sentido porque vejo que há atrasos”, observa. “Notei que a zona de recobro está cá fora e já não é lá dentro. É indiferente desde que as pessoas estejam protegidas do sol e tenham cadeiras porque têm uma idade que não lhes permite aguentar tudo como os mais novos”, indica.
“Não tenho razões de queixa até agora, mas acho que vamos ficar aqui 1 ou 2 horas, pelo menos. Se não derem nenhuma cadeira ao meu avô… Vamos ver aquilo que farei”, frisa, olhando regularmente para os idosos que se encontram mais à frente enquanto tenta perceber se o processo está a ser agilizado ou a decorrer com problemas. Aos idosos e acompanhantes que esperavam várias horas, foi dito que não havia vacinas para dar vazão.
Gouveia e Melo diz que já há conhecimento suficiente Os idosos com 80 ou mais anos e aqueles que residem em Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI) começaram a ser vacinados, com a segunda dose de reforço, na passada segunda-feira. Ontem, o chefe de Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, questionado pelos jornalistas sobre o novo processo de vacinação, garantiu que “se houver a necessidade de fazer uma task force e essa task force tiver que contar com os militares, naturalmente, contará com os militares”.
“Eu julgo que depois de todo o processo que aconteceu, já há conhecimento suficiente e estruturas, que entretanto foram criadas no Ministério da Saúde, para o Ministério da Saúde fazer esse trabalho de forma capaz e eficiente”, acrescentou.